Do S&P ao Russell, índices estudam mudanças para reduzir peso de big techs

FTSE Russell e S&P Dow Jones - os principais fornecedores de índices de Wall Street - têm feito planos para reduzir a concentração nas maiores empresas em capitalização de mercado

Stock market information at the Nasdaq MarketSite in New York, US, on Monday, Dec. 18, 2023. The Nasdaq 100 climbed 0.4% today after the tech-heavy benchmark closed at a record on Friday. Photographer: Michael Nagle/Bloomberg
Por Lu Wang - Isabelle Lee
23 de Agosto, 2024 | 11:51 AM

Bloomberg — O crescimento das grandes empresas de tecnologia tem causado dores de cabeça para os principais fornecedores de índices de Wall Street, que podem movimentar bilhões de dólares em benchmarks com apenas “um toque de caneta”.

Dois dos maiores do mundo - FTSE Russell e S&P Dow Jones - têm feito planos para reduzir o peso das maiores empresas em capitalização de mercado nos principais índices.

A rara intervenção ocorre no momento em que o mercado acionário dos Estados Unidos se torna cada vez mais desequilibrado, graças ao crescente domínio de empresas como a Nvidia (NVDA) e a Apple (AAPL).

Empresas de todos os tipos têm sido forçadas a se adaptar à medida que a participação das maiores ações de tecnologia em muitos portfólios começa a ultrapassar os limites regulatórios. E a pressão aumenta para os dois principais provedores dos índices, cujos produtos acompanham um total de US$ 35 trilhões em ativos.

PUBLICIDADE

Leia também: Investidores aguardam resultado da Nvidia de olho em novo rali das ações de IA

As propostas oferecem nova munição para os críticos da onda dos investimentos passivos. Há muito tempo esses críticos apontam que essas estratégias são mais ativas do que parecem. Qualquer ajuste em um índice revela as mãos humanas ocultas por trás dos benchmarks.

“A maioria dos investidores talvez não perceba que existe algum grau de gestão ativa mesmo naquilo que consideramos estratégias passivas”, disse Antti Petajisto, chefe de ações do Brooklyn Investment Group.

A Russell abriu uma consulta pública até dia 30 de agosto sobre uma proposta de limitar a ponderação dos seus índices de ações, sem prazo definido para implementação.

A S&P também abriu uma consulta, cujo prazo se encerra nesta sexta-feira (23). A proposta é focada em uma nova abordagem para restringir as empresas seguindo um conjunto de indicadores setoriais. Caso sejam adotadas, as mudanças estão programadas para entrar em vigor em 23 de setembro.

Por trás das propostas estão regras de longa data para empresas de investimento regulamentadas que limitam qualquer a participação individual de um ativo a 25% de um portfólio. O peso agregado das maiores posições -- aquelas que representam 5% do total ou mais -- não pode passar de 50%. A regra é conhecida na indústria de 25/5/50.

Estabelecidas para proteger os investidores da exposição excessiva a poucos ativos, as restrições podem ser punitivas no mercado atual, no qual empresas como a Apple e a Nvidia continuam crescendo.

PUBLICIDADE

No mês passado, os 10 principais componentes do Russell 1000 Index - que são principalmente ações de tecnologia - representavam 34% do indicador. Embora isso ainda não chegue a ultrapassar a regra 25/5/50, é um nível de concentração nunca visto nos 45 anos de história do índice de referência.

O Russell já oferece um conjunto de índices limitados para complementar suas medidas mais tradicionais e sem restrições.

O que é considerado agora é a possibilidade de aplicar limites de peso a seus indicadores padrão, de acordo com Catherine Yoshimoto, diretora de gerenciamento de produtos da FTSE Russell, uma empresa do London Stock Exchange Group (LSEG). Mais de US$ 7 trilhões de ativos são comparados com os índices da empresa.

"Alguns clientes estão realmente nos pressionando a considerar a possibilidade de limitar o Russell 1000 Growth Index padrão, por exemplo", disse ela.

Um porta-voz da S&P se recusou a comentar além do documento de consulta e sua metodologia de índice.

Crescimento dos fundos passivos

Nas últimas duas décadas, os fundos passivos têm conquistado participação de mercado de seus rivais ativos, graças aos custos extremamente baixos e à percepção das deficiências dos selecionadores de ações discricionários. Ainda assim, alguns participantes do mercado gostam de salientar que essa revolução dos índices é menos radical do que parece.

Nessa visão, as decisões de cima para baixo são tomadas por seres humanos em praticamente todos os estágios de uma estratégia “passiva”, seja escrevendo as regras de um índice, decidindo como aplicá-las, projetando o fundo que acompanha o índice de referência ou executando de fato suas negociações.

Por exemplo, ao contrário do que muitos supõem, o Índice S&P 500 - o principal índice de referência para o maior mercado de ações do mundo - não contém simplesmente as 500 maiores empresas dos Estados Unidos. Seus membros são selecionados por um grupo anônimo de especialistas em índices.

As mudanças propostas pela S&P e pela Russell destacam os tipos de intervenções que ocorrem e as diferenças entre as empresas que podem surgir como resultado.

Quando se trata de aderir aos limites de 25/5/50, as empresas fornecedoras de índices usam mecanismos diferentes para limitar o peso de uma empresa, bem como diferentes gatilhos para quando esse processo entra em ação (embora todos eles normalmente optem por um nível ligeiramente abaixo de 25/5/50 para proporcionar um amortecedor).

Por exemplo, em sua proposta, a Russell apresenta um limite de 20/4,5/48. Isso é diferente do Nasdaq 100, cuja metodologia exige 24/4,5/48, e do S&P, cujo limite é 24/4,8/50.

A disparidade provavelmente reflete abordagens diferentes para determinar a melhor maneira de reduzir a probabilidade de ocorrência regular de uma violação, de acordo com Yoshimoto, da Russell.

Enquanto isso, para limitar os pesos das empresas, índices como o Nasdaq 100 tendem a reduzir proporcionalmente as principais participações. Mas quando várias ações ultrapassam o limite nos indicadores setoriais do S&P, a menor é cortada primeiro, suprimindo seu peso no indicador - e deixando os investidores subexpostos.

Foi o que aconteceu com fundos como o Technology Select Sector SPDR Fund (ticker XLK) no primeiro semestre deste ano, quando a Nvidia estava subindo.

As regras significavam que o XLK não possuía as ações, de modo que ficou atrás de um benchmark de tecnologia não limitado em 10 pontos percentuais no período - o pior desempenho inferior já registrado.

Então, quando a Nvidia eclipsou a Apple em junho, isso provocou um reequilíbrio no qual o XLK comprou cerca de US$ 11 bilhões em ações da fabricante de chips às custas da fabricante do iPhone.

Agora que as posições se inverteram novamente, o XLK corre o risco de outra rodada de grandes mudanças. Se as classificações atuais se mantiverem até o próximo reequilíbrio trimestral, previsto para setembro, o peso da Nvidia no fundo pode ter que cair de 21% para 4,5%, enquanto o da Apple sobe de 4,8% para 22%, com base na metodologia existente.

A revisão proposta pela S&P tem como objetivo reduzir essa alta rotatividade frequente, de acordo com Edward Yoon, especialista em índices da Macquarie Capital. Em vez de visar o menor do grupo que viola a regra de diversificação, o proprietário do índice propõe a redução de todos eles na proporção de seus valores de mercado.

Para Josh Kutin, chefe de alocação de ativos para a América do Norte da Columbia Threadneedle Investments, o que quer que resulte das consultas certamente não será ruim, pois ajudará os investidores a enfrentar o desafio de um mercado cada vez mais concentrado.

"Os alocadores de ativos são obcecados pela diversificação, portanto, quanto mais concentrados nossos portfólios estiverem, em qualquer sentido, mais desconfortáveis ficaremos", disse ele. "Sou a favor de mudanças para reduzir a dependência da capitalização de mercado na construção de índices, mesmo que isso seja uma decisão humana e não um mecanismo de mercado."

-- Com a colaboração de Yiqin Shen.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Mercado exagera ao precificar os cortes nas taxas pelo Fed neste ano, diz El-Erian

O que a revisão dos dados de emprego dos EUA significa para a política do Fed