Dados de inflação dos EUA reforçam a aposta em pausa do Fed em setembro

Núcleo do CPI registrou o menor aumento consecutivo em dois anos; para analistas, banco central americano pode manter os juros inalterados na próxima reunião

Jerome Powell, presidente do Fed, disse recentemente que não descarta a possibilidade de aumentos em reuniões consecutivas
Por Steve Matthews
10 de Agosto, 2023 | 01:20 PM

Bloomberg — A probabilidade de que autoridades do Federal Reserve mantenham as taxas de juros inalteradas na próxima reunião de política monetária em setembro cresceu depois que novos dados mostraram mais sinais de alívio da inflação nos Estados Unidos.

O núcleo do Índice dos Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), que exclui os custos frequentemente voláteis dos alimentos e energia, subiu 0,2% pelo segundo mês, mostraram dados do Escritório de Estatísticas Trabalhistas nesta quinta-feira (9). O resultado marca os menores ganhos de preços seguidos em mais de dois anos. A leitura geral do CPI também teve alta de 0,2% em julho e avançou 3,2% na comparação anual.

Os dois resultados mais baixos e seguidos devem animar o Fed, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Santander US Capital Markets. “Acho que a intenção deles é pular [um aumento] em setembro. Esta certamente não é a última palavra.”

Em julho, o Fed elevou a taxa básica de juros do país para um intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano, o nível mais alto em 22 anos. A estimativa mediana das projeções trimestrais mais recentes das autoridades do Fed, publicadas em junho, indicou mais dois aumentos de juros este ano, com o primeiro concretizado no mês passado.

PUBLICIDADE

Autoridades do banco central americano deram opiniões divergentes sobre a necessidade de mais altas. A governadora do Fed, Michelle Bowman, reiterou na segunda-feira sua opinião de que a autoridade monetária pode precisar subir ainda mais as taxas para restaurar totalmente a estabilidade de preços, enquanto o presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker, disse na terça-feira que o BC americano pode ser capaz de manter os juros estáveis daqui em diante.

Todas as autoridades do Fed disseram que as ações da política monetária dependerão dos dados recebidos. Bowman afirmou que “busca evidências de que a inflação está em um caminho descendente consistente e significativo”.

“O Fed não precisa aumentar em setembro, agradando os ‘doves’, que não querem mais aperto daqui para frente”, disse Derek Tang, economista da LH Meyer/Monetary Policy Analytics. “Mesmo os ‘hawks’ aprovariam uma pausa até novembro ou depois, desde que a porta para altas não esteja totalmente fechada.”

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que, embora o banco central esteja diminuindo o ritmo de aperto à medida que se aproxima do pico, não descarta a possibilidade de aumentos em reuniões consecutivas. Powell terá a oportunidade de influenciar outras autoridades monetárias e mercados durante a conferência organizada pelo Fed de Kansas City em Jackson Hole, Wyoming, no final deste mês.

Mais dados

Embora o relatório desta quinta-feira seja considerado por economistas como muito importante para o Fed, mais dados sobre os preços ao consumidor serão divulgados em 13 de setembro, antes da reunião da instituição de 19 a 20 de setembro.

“Os números são bons o suficiente para segurar o Fed por enquanto”, disse Kathy Jones, estrategista-chefe de renda fixa da Charles Schwab. “Se continuarmos a obter variações mensais semelhantes em torno de 0,2 %, isso se traduz em uma taxa de inflação anualizada decrescente e deve deixar o Fed mais confiante de que a inflação está caindo rumo à meta.”

O banco central americano também receberá mais um relatório-chave de emprego antes de sua reunião de setembro. Na sexta-feira, dados do Escritório de Estatísticas Trabalhistas mostraram que a economia americana criou 187 mil vagas no mês passado  — menos do que o previsto  — enquanto a taxa de desemprego surpreendeu ao cair para 3,5%, um dos patamares mais baixos em décadas.

PUBLICIDADE

O Fed pode querer manter a opção de elevar os juros mais tarde por causa de um possível reaquecimento da economia, disse Neil Dutta, chefe de economia da Renaissance Macro Research.

“A economia está crescendo acima da tendência”, disse Dutta à Bloomberg Television. “Não acho que o Fed tenha feito o suficiente. Existe o risco de que o Fed esteja dando tapinhas nas próprias costas até o final do ano, mas veja a inflação potencialmente voltar a subir.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Queda do dólar: o que sustenta a tendência no Brasil, no México e na Colômbia