Curvas de juros invertidas somem dos EUA à Alemanha e sinalizam menor incerteza

Mudança ocorre à medida que os bancos centrais começam a reduzir os juros; inversão ocorre quando os juros de curto prazo superam os rendimentos dos títulos mais longos

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Bloomberg — Uma peculiaridade do mercado de dívida que alterou as relações tradicionais entre títulos públicos de curto e longo prazo nos países mais ricos nos últimos anos desaparece rapidamente, com amplas implicações para economias e investimentos de mais de US$ 40 trilhões.

Depois de persistir durante dois anos nos EUA, a chamada inversão da curva de juros — uma situação incomum em que as taxas de curto prazo superam as de longo prazo — se desfaz em várias partes do mundo.

Geralmente, os investidores exigem rendimentos mais altos para prazos mais longos porque a incerteza futura é maior. As inversões costumam surgir em ciclos de aperto monetário, que puxam para cima mais intensamente as taxas de curto prazo.

Por outro lado, as expectativas de que as condições mais restritivas acabarão por esfriar a inflação e o crescimento mais adiante, e por consequência levarão as autoridades a cortar juros, deixa as taxas de longo prazo menos pressionadas.

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A tendência de normalização, ou de acentuação da curva, nos países mais desenvolvidos apareceu pela primeira vez em julho, nas gilts do Reino Unido, seguidas pelos treasuries americanos um mês depois. Agora está acontecendo nos mercados de dívida da Alemanha e do Canadá.

A mudança ocorre à medida que os bancos centrais começam a reduzir os juros de referência, dando fim aos ciclos de aperto para domar a inflação da era da pandemia.

Com as altas de preços aparentemente sob controle, as autoridades podem flexibilizar a política monetária e voltar sua atenção para garantir que suas economias não entrem em estagnação ou caiam em recessão.

A precificação dessa nova realidade e apostas em mais cortes desencadeou uma queda acentuada nos juros de curto prazo nos mercados de dívida.

“A acentuação da curva é um fenômeno global que pode ficar ainda mais pronunciado nos EUA”, disse Alberto Gallo, diretor de investimentos e cofundador da Andromeda Capital Management.

Curvas invertidas e tendência de acentuação podem soar como termos bastante técnicos que só interessam ao mercado de títulos, mas esses eventos têm um longo histórico de sinalizar as expectativas dos investidores para o crescimento econômico.

Nos EUA em particular, uma curva invertida tem um histórico de prenunciar uma recessão no futuro, e alguns operadores veem o retorno ao normal como um reflexo da visão de que uma recessão — ou pelo menos uma forte piora na economia — é iminente, o que forçaria o Fed a realizar uma série de cortes profundos de juros.

Outros, incluindo Bruce Kasman, do JPMorgan, dizem que uma curva mais acentuada, se parcialmente impulsionada por um aumento nas taxas de longo prazo, sugere uma “maior confiança na engenharia do Fed para uma expansão sustentada”.

Até agora, a economia americana evitou uma recessão, embora o mercado de trabalho tenha desacelerado. Isso abriu um debate sobre se uma contração pode ser evitada em favor de um “pouso suave” com a ajuda dos cortes do Fed. Ainda não há um consenso.

Na Europa, a normalização das curvas decorre da desaceleração da inflação e do debate sobre se o período de juros altos prejudicou as economias globais.

Enquanto o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu deram início aos seus ciclos de cortes antes do Fed, o BC americano começou com uma redução maior do que o normal, de meio ponto percentual, na semana passada, sinalizando preocupação com a desaceleração do crescimento.

“A curva alemã mostra uma forte correlação com a curva dos EUA, onde imperam as apostas em acentuação”, uma estratégia conhecida como ‘steepener trade’ em inglês, disse Pooja Kumra, chefe de estratégia de renda fixa europeia do Toronto-Dominion Bank. “Então duvidamos que haja qualquer pausa na acentuação no curto prazo.”

As autoridades monetárias do Reino Unido e da zona do euro têm apenas o mandato de manter a alta de preços sob controlo — e não a incumbência dupla de também preservar o mercado de trabalho, como o Fed. Mas os últimos números da indústria são difíceis de ignorar, especialmente na região do euro, que mostram que a atividade perdeu impulso.

Dados dos EUA divulgados na segunda-feira mostraram que a atividade dos negócios no país se expandiu a um ritmo um pouco mais lento no início de setembro, enquanto as expectativas se deterioravam.

A decisão do Fed de iniciar seu ciclo de corte de juros com um movimento de meio ponto percentual encorajou gigantes de investimento como BlackRock e Pimco a permanecerem posicionados para uma maior inclinação da curva de juros. Bank of America, BMO Capital Markets e Morgan Stanley estão entre uma série de bancos de Wall Street com expectativas semelhantes.

Os operadores do mercado de juros futuros dos EUA apostam que o Fed manterá um ritmo agressivo de flexibilização, precificando mais um corte de meio ponto percentual e outro de um quarto até o final do ano.

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