Bloomberg — Para os investidores em petróleo, um dos maiores limitadores dos preços do barril neste ano começa a se transformar agora em algo que passa a jogar a favor de altas.
A queda de 10% da commodity até agora em 2023 confundiu as expectativas de muitos analistas e traders de que os preços estariam em três dígitos neste ano, acima dos US$ 100, conforme a China reabria a segunda maior economia do mundo após as medidas rigorosas para combater a covid-19.
Mas, em vez dos preços altos com o apoio da atividade chinesa, o mercado viu o ciclo de aperto de juros dos bancos centrais criar um obstáculos à demanda forte e aos preços altos.
Isso incentivou os investidores a vender petróleo armazenado, impulsionando a oferta de curto prazo no mercado em um momento em que as exportações de petróleo russas e iranianas também aumentaram, fazendo os preços caírem.
Mas agora, auxiliados pelos cortes da OPEP+ e pelos mesmos juros elevados que antes esfriaram os preços, os estoques mostram sinais de que estão começando a cair.
Com o custo alto do crédito que ajuda a forçar a venda de barris em estoque, alguns investidores argumentam que o mercado está chegando a um ponto de inflexão - e isso, segundo essa teoria, prepara o petróleo para picos de preços mais adiante.
“Ninguém quer manter estoque, e acho que estamos, como mundo, indo em direção a um menor estoque”, disse Amrita Sen, co-fundadora e diretora de pesquisa da Energy Aspects, em entrevista à Bloomberg TV no mês passado. “Se você me perguntar o que eu deixei passar despercebido neste ano, foi o aumento do custo de capital e o que isso está fazendo com o mercado, que está diminuindo os estoques.”
Os custos de armazenamento de petróleo durante o período de altas taxas de juros são enormes. Um exemplo: uma carga de dois milhões de barris com preços de US$ 80 o barril. Com taxas de juros de 5%, custaria ao trader US$ 8 milhões por ano em financiamento para manter a consignação.
Isso significa efetivamente que custa 30 centavos extras por barril por mês para manter os suprimentos.
O desincentivo para armazenar é dobrado quando os preços futuros de longo prazo do petróleo estão sendo negociados com desconto frente aos de curto prazo, porque significa que os traders serão forçados a vender barris no futuro que estão armazenado agora com prejuízo.
As refinarias de petróleo, que compram petróleo bruto e depois vendem combustíveis como gasolina e diesel, também veem seus lucros reduzidos por juros mais altos.
A visão do Goldman Sachs
Tudo isso contribui para o mundo ter que se acostumar com níveis mais baixos de estoques de petróleo.
“Um custo de capital mais alto incentiva a redução de estoque”, escreveram analistas do Goldman Sachs, incluindo Callum Bruce, em nota recente aos clientes. “A redução de estoque termina quando os estoques atingem um novo equilíbrio mais baixo.”
O banco de Wall Street conhecido por sua atuação com commodities estimou que as taxas de juros mais altas pressionaram os principais spreads ao longo dos próximos três anos na curva de futuros em US$ 8 o barril. É o maior impacto em casos como esse em décadas, acrescentaram.
Fatores que jogam contra a alta
Os investidores bullish - cujo otimismo se mostrou equivocado até agora - argumentam que grandes estoques de petróleo estão prestes a chegar ao mercado.
A Agência Internacional de Energia prevê uma demanda por petróleo da Opep de mais de 30 milhões de barris por dia no segundo semestre do ano.
Isso é quase 2 milhões de barris por dia a mais do que o grupo bombeou no mês passado. Enquanto isso, o braço de pesquisa de energia do governo dos EUA também prevê um declínio no estoque no segundo semestre.
Esse otimismo, porém, tem que combater simultaneamente alguns outros impactos negativos das taxas de juros altas.
Desde a primeira alta do Federal Reserve em março de 2022, os preços do petróleo estão persistentemente sob pressão.
Junto às preocupações de que o consumo global de energia sofrerá com a desaceleração do crescimento econômico, os investidores migraram para ativos com maior rendimento e menor risco percebido.
Uma cesta de 16 ETFs de commodities está a caminho de sua maior saída de recursos anual desde pelo menos 2006, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Os investidores não precisam buscar rendimentos tão agressivamente quanto vemos em um ambiente de taxas de juros baixas”, disse Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING Bank.
Nesta semana, os líderes da Opep+, Arábia Saudita e Rússia, redobraram os esforços para apertar o mercado, prometendo reduções contínuas na oferta no próximo mês.
Juntamente com os sinais de queda nos estoques nos EUA, os investidores otimistas argumentam que um período de alta do mercado está por vir.
A questão agora é se as taxas de juros mais altas reforçarão esses preços esvaziando os tanques de armazenamento.
“Há custos de manutenção mais altos, é meio óbvio, certo”, disse Gary Ross, um veterano consultor de petróleo que se tornou gerente de fundos hedge da Black Gold Investors. “Você não quer construir estoque com uma economia chinesa ‘manca’ e taxas de juros subindo. Não tivemos escolha porque a oferta era maior que a demanda, mas agora estamos consumindo estoques.”
Nesta semana, os preços do petróleo do tipo WTI sobem mais de 4% em Nova York, para o patamar de US$ 73.
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