Como a desistência de Biden afeta os mercados, segundo analistas de Wall Street

Com a decisão histórica de Biden a menos de quatro meses da eleição de novembro, a política ameaça alimentar oscilações e a incerteza

Bolsa de Valores de Nova York: incerteza sobre a eleição tende a aumentar a volatilidade nos mercados, segundo analistas
Por Natalia Kniazhevich - Isabelle Lee
21 de Julho, 2024 | 06:36 PM

Bloomberg — Os mercados já tinham muito com o que lidar, desde avaliar as perspectivas de corte da taxa de juros pelo Federal Reserve até temporada de balanços nos Estados Unidos. Mas a corrida presidencial de 2024 continua dominando as manchetes.

Uma semana após a tentativa de assassinato ao republicano Donald Trump abalar os investidores, o presidente Joe Biden anunciou no domingo (21) que não buscará a reeleição e endossou a vice-presidente Kamala Harris para se tornar a candidata democrata.

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Com a decisão histórica de Biden, a menos de quatro meses da eleição de novembro, a política ameaça alimentar oscilações em Wall Street, pelo menos no curto prazo, disseram observadores do mercado.

Leia também: Joe Biden desiste de concorrer à reeleição nos Estados Unidos

E o chamado “Trump Trade” — isto é, a aposta em segmentos que podem se beneficiar ou serem prejudicados em um novo governo de Donald Trump — pode se desintegrar, depois de ganhar impulso após o desastroso debate presidencial de Biden.

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A visão de investidores é de que um novo governo Trump seria bom para empresas de energia, bancos e o bitcoin, mas ruim para veículos elétricos e energias renováveis.

Estes são alguns comentários iniciais de investidores sobre a decisão de Biden:

Wayne Kaufman, analista-chefe de mercado da Phoenix Financial Services

Eu gostaria que estivéssemos vivendo menos momentos históricos. Na semana passada minha equipe estava discutindo as implicações de uma tentativa de assassinato. Se os investidores que compram na baixa voltarão em meio a toda essa incerteza é questionável. Os valuations têm sido um problema, o otimismo com a IA tem sustentado o mercado, e estamos entrando em agosto e setembro, que historicamente são meses fracos. Mas, em geral, este tem sido um mercado histórico.

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Julie Biel, gerente de portfólio e estrategista-chefe de mercado da Kayne Anderson Rudnick

Agora há mais incerteza. Não temos muitos precedentes para uma situação com um candidato que não passou pelo processo normal das primárias. Então, mais uma vez, continuamos nosso longo caso de amor com tempos sem precedentes. E, embora possamos sentir que estamos nos acostumando com tudo, menos com o habitual, isso ainda é uma grande dose de incerteza para engolir.

Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co

As posições que ganharam com o chamado Trump Trade, como bitcoin e energia, começarão a se desfazer e alguns setores que foram prejudicados, como ações de energia solar ou veículos elétricos, podem se recuperar. Mas ainda há muita incerteza e os mercados não gostam disso. E veremos um grande pico na volatilidade entre agora e até setembro.

Yung-Yu Ma, diretor de investimentos da BMO Wealth Management

O chamado “Trump Trade” provavelmente fará uma pausa até que fique mais claro quem será o candidato democrata. Em geral, a desistência de Biden injeta ainda mais incerteza política nos mercados, o que provavelmente resultará em alguma instabilidade de curto prazo.

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A notícia também abalou os mercados de moedas e títulos, enquanto gestores em mercados emergentes esperam que algumas posições do “Trump Trade” — que incluíam se desfazer de algumas moedas na Ásia e na América Latina e comprar títulos de El Salvador — sejam desfeitas, proporcionando um benefício de curto prazo para ativos de risco.

A preocupação com um dólar forte sob um novo governo Trump, além de tarifas e uma potencial vitória esmagadora dos republicanos, começou a pesar sobre os ativos emergentes, que continuam a sofrer com a linha do tempo incerta do Fed para reduzir as taxas de juros.

Jack McIntyre, gerente de portfólio da Brandywine Global Investment Management

A reação inicial será positiva para ativos de risco, incluindo mercados emergentes. Os democratas poderiam assumir a Câmara agora se as coisas funcionarem. Os mercados em geral querem ver mais isso, em vez de uma vitória dos republicanos.

Jennifer Gorgoll, gerente de portfólio da Neuberger Berman

No curto prazo, a potencial redução das taxas do Fed dominará os mercados, potencialmente enfraquecendo o dólar e levando a commodities mais fortes e moedas de mercados emergentes. Isso, combinado com um viés mais amplo de risco associado ao “Trump Trade”, prepara os mercados para um espetacular 2025, e acreditamos que os mercados emergentes podem ser um beneficiário chave disso.

Gregory Faranello, chefe de negociação e estratégia de taxas dos EUA da AmeriVet Securities

Não está totalmente claro o que isso significa para o mercado de juros. No mercado de títulos, isso poderia levar mais a um impasse. Não acredito que haja uma grande negociação em taxas, pois realmente não sabemos como a política fiscal vai se desenrolar. O mercado de títulos do Tesouro dos EUA ainda se concentrará na oferta, nos balanços e nos dados econômicos. Podemos ver alguma ação de preço volátil, mas o foco do Fed deve permanecer no que já está em movimento.

Barry Knapp, sócio-gerente da Ironsides Partners

No final, a incerteza aumentou muito. Agora, o que isso significa para a abertura dos futuros? Isso não está claro. O bitcoin se moveu um pouco. Mas também tivemos uma semana complicada, que eu não acho que tenha muito a ver com Trump. Acho que isso é mais sobre o enfraquecimento da economia e o Fed se movendo de forma hesitante em direção a um corte de 50 pontos base em setembro. Em última análise, há muito acontecendo e isso é mais incerteza.

Dan Suzuki, vice-diretor de investimentos da Richard Bernstein Advisors

O impacto imediato é adicionar incerteza à narrativa de vitória republicana que tem dominado os mercados. Além disso, tudo está no ar até termos mais clareza sobre quem será o candidato democrata.

Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da B. Riley Wealth

O abandono da corrida pelo presidente Biden já começou a ser precificado no mercado. O “Trump Trade”, se realmente houver um, é indistinguível do fato de que os small caps entraram no radar devido ao potencial de taxas de juros mais baixas. O Fed provavelmente cortará em setembro. A única coisa que se destaca no “Trump Trade” parece ser um pequeno aumento no bitcoin e nas demais criptomoedas, já que ele é visto como mais favorável a essa classe de ativos.

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