Bloomberg — Durante décadas, investidores no mercado de câmbio global tomaram empréstimos em dólar a juros baixos e aplicaram os recursos em moedas de mercados emergentes com rendimentos mais altos. Mas esses fluxos começam a virar de cabeça para baixo.
A política monetária restritiva do Federal Reserve já dura tanto tempo que algumas economias emergentes estão com dificuldades de manter suas moedas competitivas e se tornam alvo do chamado carry trade reverso. Estratégias desse tipo, nas quais o investidor fica vendido em uma moeda emergente para aplicar em dólar, geraram retornos de até 9% este ano.
O yuan chinês, o baht tailandês, o ringgit malaio e até a coroa checa são algumas das divisas usadas. Isso não quer dizer que o carry trade tradicional esteja morto: ainda é usado para investir em moedas com juros altos, como real brasileiro, peso mexicano, lira turca e libra egípcia, mas mesmo essas apostas são cada vez mais financiadas pelo iene japonês, pelo franco suíço ou por outra moeda emergente como o yuan, em vez do dólar.
“Gostamos de deter dólar americano contra moedas asiáticas”, disse Paul Greer, gestor da Fidelity em Londres. “Gostamos de usar moedas asiáticas de beta baixo e taxas baixas para financiamento, assim como o euro e a coroa checa, onde estamos pessimistas quanto às perspectivas de crescimento.”
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Os investidores já empurraram suas previsões para o primeiro corte de juros nos EUA de março para dezembro. Com isso, quem apostou contra o dólar para financiar sua exposição a mercados emergentes amarga as perdas mais profundas desde 2021, detendo moedas mais arriscadas que oferecem retornos menores ou negativos.
Os dois principais fatores para o sucesso ou fracasso do carry trade são: oscilações do par de moedas e diferenciais de juros. O ideal é tomar a juros baixos em uma moeda com tendência de depreciação — daí a popularidade do iene — e investir em uma com juros altos e tendência de valorização.
A força global do dólar empurrou 29 das 32 moedas de mercados emergentes mais negociadas para perdas este ano. Ao mesmo tempo, há 11 países emergentes onde os juros estão mais baixos do que nos EUA.
“Agora você tem que pagar para deter moedas nesses países, incluindo China, Taiwan e Coréia”, disse Manik Narain, chefe de estratégia de emergentes no UBS. “Embora a Ásia esteja dominando o tema do carry negativo, o colchão de carry também está diminuindo em alguns dos outros bolsões de mercados emergentes.”
O UBS recomenda ficar vendido em yuan e comprado em dólar, na expectativa de que o governo em Pequim permitirá que a moeda chinesa se desvalorize para recuperar parte da competitividade das exportações do país, corroída pela fraqueza do iene japonês. Isso pode deprimir as moedas dos mercados emergentes como um todo, ao impulsionar mais fluxos de carry na direção oposta – em direção ao dólar – disse Narain.
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