Dólar em queda sob risco? Carry trade em mercados como o Brasil tem momento crítico

Operação de renda fixa que permite ganhos com o diferencial de juros e tem sido uma das principais no ano ganha novo risco com mudanças nas taxas

Mercados
Por Michael Mackenzie
31 de Julho, 2023 | 09:20 AM

Bloomberg — Uma das principais operações de renda fixa do ano enfrenta um momento crítico na América Latina, já que os investidores em títulos tentam cronometrar mudanças nas taxas de juros dos Estados Unidos e locais.

Os bancos centrais da região têm atraído gestores com seus ciclos de aperto monetário antecipados e agressivos – estabelecendo um nível de credibilidade no combate à inflação que alimentou um rali de 25% nos títulos domésticos.

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Agora, à medida que os formuladores de políticas monetárias locais começam a mudar de rumo antes do Federal Reserve, a aposta vem com um novo tom de risco.

“Os ativos de mercados emergentes têm sido a operação do ano”, disse Mauro Favini, gerente sênior de portfólio da Vanguard, que estava otimista com a América Latina no início deste ano. “Mas o caminho à frente provavelmente será irregular e cheio de obstáculos.”

O risco, disse Favini, é que os traders já precificaram a flexibilização dos bancos centrais em mercados emergentes em um momento em que há menos certeza sobre os cortes nas taxas de juros dos EUA.

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A mais recente mudança de política do Banco do Japão também abre a porta para um iene mais forte, o que pode repercutir nos mercados de moedas e minar a chamada operação “carry trade”, que impulsionou o real brasileiro e o peso mexicano.

O “carry trade”, ou trade de carrego, consiste em tomar dinheiro emprestado a juros baixos e aplicar o mesmo capital em países de juros mais altos, ganhando com o diferencial de juros.

A questão para os investidores é se o ímpeto por trás da dívida local da América Latina pode resistir às agitações de curto prazo do mercado.

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Federal Reserve

Na semana passada, o Fed elevou as taxas de juros nos EUA em 0,25 ponto percentual e prometeu adotar uma abordagem baseada em dados econômicos, reafirmando as expectativas dos traders de que os EUA estão se aproximando do fim de seu ciclo de aperto à medida que a inflação cai.

Embora poucos esperem atualmente que o Fed aumente além do atual intervalo, de 5,25% a 5,50%, ainda há muitos indicadores econômicos antes da próxima reunião em setembro.

Uma possível pausa do Fed, juntamente com um dólar mais fraco, provavelmente criaria espaço para que os bancos centrais dos mercados emergentes também relaxem e aumentem o apetite por títulos denominados em moeda local.

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Esse sentimento já está se intensificando, à medida que os investidores veem países como Chile, Brasil e Peru adotando uma política mais frouxa após elevar as taxas bem acima dos níveis atuais de inflação.

“Continuará havendo investidores entrando na dívida denominada em moeda local”, disse Liam Spillane, chefe de dívida de mercados emergentes da Aviva Investors. “A crença de que o Fed terminou o aperto é outro fator que encorajará os investidores a voltarem para a dívida de mercados emergentes de forma mais agressiva.”

Copom é nesta semana

Os formuladores de política monetária no Brasil devem anunciar sua próxima decisão nesta quarta-feira (2), com economistas e traders se preparando para o início de um ciclo de alívio na maior economia da América Latina.

Espera-se que o banco central brasileiro reduza os juros em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, após iniciar seu ciclo de aperto um ano antes do Fed. A inflação anual no Brasil caiu para 3,19% em meados de julho – o nível mais baixo em quase três anos e abaixo do pico acima de 12% em 2022.

“A América Latina é atraente porque os bancos centrais regionais estão prontos para agir primeiro nos cortes”, disse Brendan McKenna, economista de mercados emergentes e estrategista de câmbio do Wells Fargo em Nova York. “Acredito que a posição agora – antes dos cortes do Fed e da tendência de baixa do dólar ganhando força – faz sentido.”

Banco Central começou antes o aperto monetário para combater a inflação

Para a T. Rowe Price, a questão será o quão agressivo será o ciclo de cortes no Brasil nos próximos meses – principalmente se o Fed se mostrar relutante em flexibilizar sua própria política.

“O Brasil é como os EUA, pois aumentou as taxas para um nível alto, mas a economia está indo bem”, disse Richard Hall, analista de dívida soberana da gestora.

Embora a T. Rowe continue “overweight” (posição acima da média do mercado, equivalente a compra), a empresa reduziu um pouco sua exposição em meio ao recente rali, disse Hall.

O mesmo perigo também existe em outros mercados emergentes, se a inflação permanecer alta e limitar a capacidade dos bancos centrais domésticos de reduzir seus custos de empréstimos de forma muito agressiva, disse Jack McIntyre, gestor de portfólio da Brandywine Global Investment Management.

Atenção ao Fed e ao BOJ

As perspectivas para a política do banco central e dívida local se tornam mais opacas fora da América Latina. Para Lupin Rahman, da Pacific Investment Management, muito dependerá do rumo do Fed e de outros principais bancos centrais.

A Polônia provavelmente iniciará seu ciclo de alívio em setembro e a África do Sul iniciará cortes mais tarde no ano, de acordo com Rahman, chefe global de crédito soberano de mercados emergentes da empresa.

Os ativos da Coreia do Sul e da Indonésia, por enquanto, também se destacam, já que seus bancos centrais parecem posicionados para liderar a queda das taxas na Ásia, disse Eugenia Victorino, chefe de estratégia da Ásia no Skandinaviska Enskilda Banken AB.

“Os bancos centrais provavelmente cortarão gradualmente, conscientes do desempenho de suas moedas e cautelosos para não interromper as operações de carry trade que têm encantado a narrativa de ‘pouso suave’ dos EUA”, escreveu Rahman da Pimco em uma nota.

Isso ficou evidente na semana passada, quando o Banco do Japão optou por permitir que os rendimentos dos títulos de 10 anos subissem, além do seu limite de 0,5%, para um limite de 1%, testando o sentimento nos mercados emergentes na Ásia.

A movimentação chama a atenção para a operação de carry trade do iene, que consiste em tomar empréstimos a baixo custo do Japão e aplicar os recursos em uma moeda com taxa de juros muito mais alta.

Ganhos impressionantes no peso mexicano e no real brasileiro sugerem que qualquer recuperação do iene devido à mudança do BOJ poderia impulsionar a volatilidade da moeda – e, por sua vez, afetar os retornos dos títulos denominados em moeda local.

“É possível que o carry continue bastante favorável aos mercados emergentes da América Latina mesmo se o BOJ fizer alguma coisa”, disse McIntyre da Brandywine Global.

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