O dilema de candidatos a IPO nos EUA: tentar antes da eleição ou esperar 2025

Índices de ações em máximas históricas sinalizam apetite de investidor neste fim de ano, mas incertezas sobre queda dos juros e resultado das eleições tendem a ser menor depois

Bolsa de Nova York: banqueiros e consultores de ofertas públicas iniciais esperam que a eleição congele o mercado para novas aberturas em todo o mundo
Por Bailey Lipschultz
27 de Agosto, 2024 | 03:47 PM
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Bloomberg — As empresas que buscam abrir o capital enfrentam uma escolha difícil com a abertura da janela de IPOs neste segundo semestre: ir em frente e buscar uma oferta pública inicial com os mercados próximos das máximas históricas ou esperar até o ano que vem, quando os riscos em torno das taxas de juros e das eleições nos Estados Unidos tiverem - teoricamente - se dissipado.

Essa janela, cujo período abrange aproximadamente nove semanas entre o dia 2 de setembro, Dia do Trabalho nos EUA, e a votação nas eleições de 5 de novembro, será provavelmente a última chance deste ano para um grupo de empresas mais bem preparadas para abrir capital.

Banqueiros e advisors de ofertas públicas iniciais esperam que a eleição congele o mercado para novas aberturas em todo o mundo.

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O ambiente tende a prejudicar o volume de IPOs, que provavelmente não ultrapassará o do ano passado, mesmo depois de ter se recuperado no primeiro semestre da calmaria pós-pandemia.

Excluindo a China continental, as ofertas de ações no mundo arrecadaram US$ 69 bilhões até agora neste ano, 50% a mais do que no mesmo período em 2023, segundo dados compilados pela Bloomberg. No entanto, o valor atual é pouco mais da metade da média da década anterior à pandemia.

  Listagens ex-China arrecadaram US$ 69 bilhões até agora neste ano, abaixo da média de 2009-2019

Listagens marcantes como a estreia da Viking Holdings em Nova York, no valor de US$ 1,8 bilhão, e a oferta de US$ 2,6 bilhões do Galderma Group em Zurique tiveram um bom desempenho, já que os índices de referência de ações globais estão à beira de recordes.

O índice MSCI All Country World atingiu um recorde na sexta-feira e subiu 15% no ano até o momento. No entanto, muitas empresas candidatas a IPOs ficaram de fora em meio a discordâncias com os investidores sobre o valuation, bem como preocupações de que a tolerância ao risco para novas emissões não tenha se recuperado totalmente.

Nos Estados Unidos, o cenário dos mercados “ainda é bastante construtivo”, de acordo com Clay Hale, codiretor de mercados de capital acionário do banco Wells Fargo.

“Minha expectativa é de que as empresas que optarem por abrir capital após o feriado do Dia do Trabalho até o Natal serão as melhores da categoria, que já fizeram muitas reuniões para testar as águas”, disse Hale em uma entrevista.

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Arnaud Blanchard, codiretor global de ECM do Morgan Stanley (MS), vê o apetite do lado comprador continuar a melhorar, desde que os candidatos se enquadrem nos critérios que os investidores estão procurando, tais como perfil de crescimento, escala e qualidade.

“Não tivemos problema de demanda, mas sim um problema de oferta”, disse ele. “O apetite dos grandes fundos mútuos, fundos hedge e fundos soberanos para aplicar capital no mercado dos EUA continua forte.”

A declaração do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em Jackson Hole, de que chegou a hora de ajustar a política monetária, ajudará a eliminar quaisquer preocupações remanescentes sobre a direção das taxas de juros.

“O fato de que os cortes nas taxas de juros comecem a ser feitos e que possamos ver uma série de cortes nas taxas que perdurem ao longo do tempo é importante”, disse Jeff Bunzel, codiretor global da área de ECM do Deutsche Bank (DB).

“Isso encorajará as pessoas a acreditarem que os setores sensíveis às taxas de juros começarão a ter algum alívio em relação ao nível de taxas mais altas que tivemos, mas levará algum tempo para que isso aconteça.”

Nova janela para IPOs

Algumas empresas americanas têm registros ativos e podem estar entre as que avançarão com IPOs após o feriado do Dia do Trabalho, em 2 de setembro. Entre elas estão a fabricante de semicondutores Cerebras Systems e a empresa de dados automotivos Solera apoiada pela Vista Equity Partners, informou a Bloomberg News.

A transportadora mexicana Grupo Aeromexico SAB e a BKV, produtora de gás natural de propriedade da empresa de carvão e energia tailandesa Banpu, estão entre as empresas que apresentaram ou atualizaram seus registros nos EUA recentemente.

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Algumas já se aproximaram da linha de chegada e recuaram. A empresa de venda de ingressos StubHub adiou o lançamento planejado do IPO para depois do verão no hemisfério norte, na melhor das hipóteses, informou a Bloomberg News em julho.

Outras exploram os chamados processos de via dupla, avaliando opções que incluem ofertas de ações pela primeira vez e possíveis acordos de fusões e aquisições.

A StandardAero, prestadora de serviços de manutenção de aeronaves, e a Zelis, empresa de tecnologia de cuidados com a saúde, estão entre as que consideram opções estratégicas, informou a Bloomberg News.

Don Duffy, presidente da empresa de consultoria de mercados de capitais ICR, disse que algumas empresas não têm um senso de urgência para tentar abrir capital antes da eleição de 5 de novembro.

“Estamos conversando muito com as empresas e, em vez disso, elas visam 2025″, disse ele em uma entrevista.

Quaisquer que sejam as considerações que afetem o momento, não é por falta de bons candidatos, de acordo com o UBS Group (UBS).

“O pipeline de IPOs para o restante do ano e para 2025 é de alta qualidade e considerável”, disse Tommy Rueger, codiretor global de ECM do banco suíço.

Eeleições na Europa

A reviravolta do mercado global em agosto chegou tarde demais para atrapalhar qualquer calendário de IPOs, mas o mesmo não se pode dizer da turbulência desencadeada na Europa pela eleição francesa.

A fabricante de tênis Golden Goose Group e a empresa de panificação espanhola Europastry estavam entre as que engavetaram seus planos de estreia nos mercados em junho, depois que o presidente francês Emmanuel Macron convocou uma votação surpresa, fazendo com que a volatilidade disparasse.

Embora os IPOs na região tenham levantado cerca de US$ 16 bilhões até 23 de agosto, um aumento de 53% em relação ao ano passado, é provável que o restante do ano seja mais lento.

Assim como nos EUA, os investidores e as empresas europeias esperam que os cortes nas taxas de juros estimulem mais negócios, de acordo com Dinesh Banani, sócio da Herbert Smith Freehills, com sede em Londres.

“A perspectiva para a Europa continental é semelhante à do Reino Unido, e o ambiente afrouxamento de taxas de juros deve ajudar o pipeline de IPOs no continente”, disse Banani em uma entrevista.

"O Reino Unido, no entanto, parece estar se beneficiando de uma maior certeza política agora do que alguns outros mercados europeus", disse ele.

A Partners Group Holding avalia o lançamento da oferta pública inicial da empresa alemã de medição Techem GmbH já em setembro, informou a Bloomberg News.

Ela se junta a outros possíveis emissores que estão de olho na janela de setembro. A varejista polonesa Zabka Polska, apoiada pela CVC Capital Partners, e a Springer Nature, uma editora acadêmica que conta com a BC Partners entre seus apoiadores, estão considerando a possibilidade de entrar na bolsa de valores no segundo semestre, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.

"Há alguns ativos de grande porte apoiados por patrocinadores que podem procurar fazer um IPO se o investimento de capital for muito grande para um comprador de private equity", disse Christopher Mort, codiretor global de mercados de capital da Freshfields, com sede em Londres. "Há também um acúmulo de empresas de tecnologia e de saúde apoiadas por capital de risco."

Queda na grande China

Embora as receitas de IPO no resto do mundo tenham aumentado em relação ao ano passado, as da China continental estão a caminho de cair pelo terceiro ano consecutivo, segundo dados compilados pela Bloomberg. Até o momento, as empresas do país levantaram quase US$ 13 bilhões em 2024, o que representa uma queda de três quartos em relação ao mesmo período do ano passado.

Controles regulatórios mais rígidos e o mal-estar econômico têm impedido as empresas chinesas de se listarem, enquanto as tensões geopolíticas fizeram com que alguns investidores internacionais reduzissem suas apostas nas ações de Hong Kong.

“Os números têm sido um passo à frente e um passo atrás”, disse Kenneth Chow, chefe de produtos e execução de ECM do Citigroup (C) na Ásia, sobre as leituras econômicas do país. “O mercado gostaria de ver a estabilização do mercado imobiliário e uma política governamental mais favorável ao crescimento para estimular o consumo.”

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Um punhado de emissores chineses retornou aos mercados dos EUA com novas listagens consideráveis após uma seca de vários anos, proporcionando um certo grau de otimismo. ”Muitas empresas chinesas ainda querem se listar nos EUA e estamos trabalhando em alguns desses IPOs”, disse Chow, do Citigroup.

Para Udhay Furtado, chefe de originação e soluções de ECM do Citigroup na Ásia, “todos estão se preparando para 2025″, sendo os últimos três meses do ano “um pouco desconhecidos”.

No entanto, a maioria dos banqueiros da Ásia concorda com uma coisa: a Índia é o mercado de IPO da região a ser observado.

O país tem visto fortes estreias, incluindo a fabricante de e-scooters Ola Electric Mobility e a varejista de produtos para bebês Brainbees Solutions ambas negociadas mais de um terço acima do preço de seus IPOs.

Os banqueiros agora aguardam ansiosamente a listagem da unidade indiana da Hyundai Motor, que pode levantar até US$ 3,5 bilhões e é esperada já para setembro, informou a Bloomberg News.

A LG Electronics avalia uma estreia no mercado indiano entre várias opções para seus negócios no país, disse seu CEO à Bloomberg Television.

"A história deste ano, e até o final do ano, é a Índia", disse Furtado.

-- Com a colaboração de Julia Fioretti, Pablo Mayo Cerqueiro, Amy Or e Dave Sebastian

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