Bruno Serra, da Itaú Asset, compra dólar e vê Selic perto de 11% ao ano

Ex-diretor de Política Monetária do Banco Central diz apostar em ciclo de flexibilização monetária em duas fases no país diante de alta dos rendimentos dos Treasuries nos EUA

Prédio do Banco Central de Brasil em Brasília (Foto: Bloomberg/Andressa Anholete)
Por Maria Eloisa Capurro e Vinícius Andrade
17 de Outubro, 2023 | 12:33 PM

Bloomberg — Bruno Serra, gestor da Itaú Asset Management, aposta em um ciclo de flexibilização monetária em duas fases no Brasil, diante de uma alta dos rendimentos dos títulos americanos que diminui o diferencial de juros e restringe o espaço para cortes.

O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central prevê que a taxa Selic alcance perto de 11% ao ano até o final do ciclo atual, acima dos 10,4% precificados por operadores e dos 9% previstos por economistas. Serra também disse esperar um ciclo mais cauteloso de flexibilização no Chile, onde o mercado pode ter exagerado nas apostas em cortes de juros.

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“Até o Fed entrar em um ciclo de easing [relaxamento] do lado deles, teremos dificuldade de cair muito o juro a partir de 11%”, disse Serra em entrevista em São Paulo.

O gestor disse que está preocupado com os atuais diferenciais de juros em relação aos EUA, onde vê riscos de mais aumentos das taxas no futuro. “Minha preocupação é mais no ponto que esse diferencial de juros vai bater no câmbio. Estamos em uma situação em que, se o real se depreciar 10% contra os pares, haverá um custo no ciclo de juros.”

Até março, Serra administrava as reservas internacionais do Brasil, monitorava o mercado de câmbio e supervisionava as negociações diárias necessárias para regular o nível de referência da Selic.

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Agora ele está de volta às operações em uma instituição financeira, com posições vendidas em real, yuan e peso chileno ante o dólar americano. Em seu fundo multimercado, ele também está aplicado em juros dos EUA, comprado em ações de tecnologia e de empresas ligadas à inteligência artificial, e vendido em varejistas americanas.

As autoridades alertam para uma desinflação em etapas, com diminuição gradual das pressões sobre os preços após um abrandamento rápido, e Serra prevê uma campanha de flexibilização monetária semelhante. A primeira etapa “precisa ser interrompida ou, no mínimo, realizada com muito mais cautela”, afirmou.

Às vezes visto como um membro hawkish da diretoria do BC, com falas públicas que muitas vezes moveram o mercado, Serra disse que é muito cedo para discutir a desaceleração dos cortes de juros. Ele prevê que o debate provavelmente só começará nas reuniões do Copom de dezembro deste ou fevereiro de 2024. Acelerar os cortes, com os atuais diferenciais de juros, “não é consistente”, acrescentou.

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Nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, Serra deixou o Banco Central com autonomia garantida por lei.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou suas duas primeiras escolhas para a diretoria em maio, incluindo o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, como novo diretor de Política Monetária, que é visto por muitos dentro do PT como provável sucessor de Roberto Campos Neto, em 2024.

Serra disse que o mercado precifica um risco de transição, com estimativas de futuros aumentos dos preços ao consumidor “bem acima” da meta de inflação de 3%.

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Mesmo depois de Lula ter reafirmado os atuais objetivos da política monetária e aprovado um novo arcabouço fiscal, as medidas de inflação implícita nos próximos três anos se aproximam dos 5%. “As pessoas estão pagando muito caro para se proteger da inflação”, disse Serra.

Lula escolherá mais dois diretores em dezembro, enquanto os investidores avaliam a tolerância do BC à inflação durante seu governo. Serra está esperançoso de que a transição será realizada da melhor forma possível e tem uma posição vendida em inflação implícita.

Mas as expectativas de inflação acima da meta são uma “preocupação latente”. “Em algum momento por volta do primeiro ou segundo trimestre do ano que vem, vamos ter a prova de quem está certo.”

Serra, visto pelos investidores como um aliado de Campos Neto, que conheceu em 2018, defendeu a decisão do Copom de reduzir o juro para uma mínima recorde de 2% ao ano em 2020. À medida que a procura por bens aumentava com a pandemia e os preços de energia subiam em meio a perturbações na cadeia de abastecimento, a trajetória foi corrigida e o país ficou entre os primeiros do mundo a elevar juros em 2021.

“Naquele momento, a sensação era a de que poderíamos estar entrando em uma depressão econômica”, disse ele. “Depois começaram os estímulos fiscais no mundo inteiro. Isso fez aquele juro de 2% parecer baixo e nós corrigimos muito rápido.”

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