Brasil não está imune a ventos contrários de EUA e China, avalia UBS Wealth

Segundo o CIO da gestora de patrimônio do banco no Brasil, Ronaldo Patah, em relatório, momento é propício para posições em renda fixa, como títulos atrelados à inflação

Por

Bloomberg Línea — Embora a economia brasileira possa conseguir limitar em parte os efeitos de ventos contrários advindos de incertezas da economia global, particularmente o aumento do déficit fiscal nos Estados Unidos e a desaceleração econômica na China, o país não está imune.

Nesse ambiente, a UBS Wealth Management prefere no Brasil a alocação em títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA+ ou NTN-B) em detrimento de títulos nominais e ações negociadas em bolsa.

Em relatório divulgado nesta semana, Ronaldo Patah, CIO (Chief Investment Officer) da UBS Wealth Management no Brasil, escreveu que segue com posição relevante em renda fixa, dado que essa classe permanece atrativa em um contexto de juros altos por mais tempo.

A gestora de patrimônio do banco suíço no Brasil, que acaba de incorporar a área do Credit Suisse, não antecipa uma grande crise de confiança que afete títulos ao redor do mundo: nesse contexto, a a preferência é por aqueles atrelados à inflação de maior duration (prazo médio ponderado do investimento).

“Essa classe de ativos tem tido uma ótima performance recentemente, mas ainda vemos espaço para mais ganhos”, escreveu Patah no relatório.

Com poucos triggers (gatilhos) positivos domésticos no curto prazo, em sua avaliação, e maior sensibilidade dos ativos aos mercados globais, o banco tem posição neutra em ações brasileiras.

De acordo com Patah, setores com exposição ao mercado interno devem gradualmente se tornar mais atrativos nos próximos meses, à medida que o Banco Central implementa seus cortes de taxa de juros. A taxa foi reduzida pela primeira vez no início deste mês, de 13,75% para 13,25% ao ano.

“À medida que a confiança do consumidor e dos negócios ganha tração, o apelo por ações deve aumentar para investidores locais, que, ao mesmo tempo, devem enfrentar retornos mais baixos em renda fixa”, avaliou.

A UBS Wealth Management espera uma taxa Selic de 8% ao ano no terceiro trimestre de 2024, o que implicaria corte de 5,25 pontos percentuais em relação ao patamar atual, configurando um ciclo de flexibilização agressivo “que ajuda em caso de uma recessão no hemisfério norte”.

Ainda assim, a avaliação é a de que é cedo para que a migração da renda fixa para a variável ocorra por parte de investidores, o que faz com que os valuations de ações não tenham por ora “impulsionadores positivos visíveis”, escreveu o economista.

O banco destacou ainda a preferência por ativos de real estate, dado que o valuation parece atrativo em relação aos preços atuais.

Preocupações globais

Embora um ciclo de corte de juros no Brasil possa aumentar o apetite ao risco dos investidores, temores externos pesam contra.

Nos Estados Unidos, um déficit crescente e um teto de dívida construído “artificialmente” preocupam.

“O recente anúncio de uma nova oferta líquida de títulos do Tesouro de aproximadamente US$ 1 trilhão no mercado neste trimestre, seguido de cerca de outros US$ 850 bilhões no quarto trimestre, será o fator mais relevante que afetará o apetite dos investidores”, escreveu Patah.

Enquanto isso, na China, dados da atividade têm ficado abaixo das expectativas, aumentando a pressão de queda sobre as ações chinesas e o yuan.

Apesar desse contexto global mais desafiador, a avaliação da UBS Wealth Management é a de que o impacto para o Brasil é limitado supondo que, em caso de maior deterioração, tanto os governos dos EUA quanto da China tenham um forte arsenal para enfrentar os desafios atuais.

Uma maior volatilidade nos próximos meses, contudo, deverá ser observada nos mercados, reforçou a gestora de patrimônio do banco suíço.

A expectativa da UBS Wealth é a de que o Brasil apresente um crescimento de 2,5% neste ano, acumulando expansão da ordem de 11% em três anos até 2023.

Leia também

Itaú fecha venda de unidade na Argentina para Banco Macro por R$ 250 milhões

UBS nomeia Alexandre de Ázara economista-chefe para o Brasil após compra do Credit

UBS e Credit Suisse: união traz à tona tensões culturais entre os bancos