Bradesco Asset vê BC desacelerar alta dos juros para 0,25 ponto, diz Bruno Funchal

Precificação extraída dos contratos de juros futuros negociados na B3 dá probabilidade maior a uma elevação de 0,50pp, que colocaria a Selic em 14,75% ao ano

“Com esse aumento de tarifa, é razoável ter aumento de preço nos EUA, mas também uma desaceleração da economia muito forte, o que traz um ambiente desinflacionário e dólar mais fraco”, disse Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset
Por Josue Leonel
28 de Abril, 2025 | 01:58 PM

Bloomberg — A guerra comercial desencadeada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, deve ter como efeito a queda da inflação no cenário externo e permitir ao Banco Central desacelerar a alta da Selic no Brasil para 0,25 ponto percentual na reunião do Copom em maio, diz Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset Management.

“Com esse aumento de tarifa, é razoável ter aumento de preço nos EUA, mas também uma desaceleração da economia muito forte, o que traz um ambiente desinflacionário e dólar mais fraco”, disse Funchal, que foi secretário do Tesouro durante o governo de Jair Bolsonaro. “Isso tende a ajudar” o BC a desacelerar a alta da Selic, disse.

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O Copom se reúne na próxima semana e começou a elevar os juros em setembro, sendo que a taxa subiu 1 ponto percentual em cada um dos três últimos encontros.

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Hoje, a precificação extraída dos contratos de juros futuros negociados na B3 dá probabilidade maior a uma elevação de 0,50pp, que colocaria a Selic em 14,75% ao ano. No mercado de opções de Copom, operadores elevaram a 28% a chance de uma alta de 0,25pp da taxa básica na semana que vem, em meio a falas de diretores do Banco Central, que adotaram um discurso de maior cautela diante do cenário internacional.

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O mercado também passou a apostar recentemente em uma taxa de juros menor no final do ano. Os operadores projetam agora que a Selic encerrará 2025 em torno de 14,50% ao ano, contra 15,50% ao ano no final de março, antes do anúncio das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump aos parceiros comerciais dos Estados Unidos.

“Nesse contexto, a gente pode se beneficiar. Fica mais difícil o real sofrer e ter impacto na inflação”, disse Funchal. “Os preços de energia e de outras commodities se desvalorizando trazem desinflação. É razoável ver o BC ser mais cauteloso, já que política monetária já é restritiva.”

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Segundo Funchal, as críticas feitas por Trump ao Fed também ajudaram o dólar a perder força globalmente. Além disso, a possibilidade de uma política menos restritiva do Federal Reserve contribui para aliviar o cenário para o câmbio e, consequentemente, a inflação e os juros no Brasil. Com isso, a Bradesco Asset mudou sua projeção para a Selic no final do ano de 15% para 14,75%.

Incertezas persistem

O executivo da Bradesco Asset Management considera que a Selic deverá subir menos do que se previa antes, mas a retomada dos cortes depende da evolução de fatores que geram incerteza tanto no Brasil quanto no exterior.

Para o BC diminuir os juros, será importante o governo reduzir os riscos fiscais e um dos desafios será incluir os gastos com precatórios no orçamento de 2027, que será discutido já no ano eleitoral de 2026, segundo Funchal.

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O governo e o Congresso precisam promover uma “discussão franca” sobre a questão dos precatórios, sob pena de o aumento dos gastos agravar o endividamento e desorganizar a economia, afirmou Funchal.

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Mesmo que o cenário externo possa ajudar o BC no curto prazo, a incerteza ainda é muito elevada, tanto no que diz respeito às negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais quanto no impacto das tarifas sobre a atividade e os preços, disse o ex-chefe do Tesouro. “Temos um cenário em que não se consegue prever onde vai parar essa disputa comercial”, afirmou Funchal.

A Bradesco Asset Management detinha R$ 930 bilhões em ativos sob gestão em março, informou a sua assessoria de imprensa.

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