Bloomberg — O CEO da Bradesco Asset, Bruno Funchal, disse que os fundos da gestora diminuíram a tomada de risco em meio à deterioração das perspectivas fiscais no país e também em razão da preocupação com a alta dos preços.
“Reduzimos bastante o risco”, disse Funchal, sobre posições dos fundos da Bradesco Asset. A estratégia para o momento é “muito mais tática”, para aproveitar oportunidades com foco no curto prazo. “E, se nós tomamos algum risco, é em inflação curta”, afirmou, citando que o objetivo é buscar proteção contra a alta dos preços nos próximos anos.
Para ele, a economia forte, que reflete um conjunto de reformas dos últimos anos e um importante aumento de gastos, e o movimento de depreciação cambial do fim do ano passado colocaram na mesa um cenário de elevação mais forte da inflação do que o previsto.
A avaliação da Bradesco Asset é que o IPCA fechará 2025 em 5,5%, com riscos de que se aproxime de 6% perto das eleições de 2026. A Selic de fim de ciclo de aperto prevista pela gestora é 15% ao ano.
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Funchal também disse que os fundos da gestora têm alocado mais em títulos pós-fixados — aqueles atrelados à taxa flutuante ou que pagam um prêmio mais a variação da inflação.
Incerteza fiscal
Para Funchal, a proposta de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5.000 do governo será o principal tema fiscal para o mercado financeiro em 2025. Ele avalia que a deterioração dos ativos observada em dezembro se relacionou à redução da credibilidade do governo no campo fiscal e à incerteza sobre a compensação de eventual isenção.
“Há uma crença de que, da forma como as coisas estão, será difícil entregar um déficit zero de forma sustentável e desacelerar a dívida. A credibilidade desse cenário está menor”, afirmou.
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Ex-secretário do Tesouro Nacional, ele afirmou que, pela Lei de Responsabilidade Fiscal, não é necessário haver uma compensação com recomposição das receitas perdidas por eventual reajuste da tabela do IR.
“Há um risco de tramitação relevante de não passar uma compensação”, disse Funchal. “Fica uma insegurança muito grande” fiscalmente. Sem compensação à reforma do IR, haveria uma adição de cerca de R$ 50 bilhões ao déficit primário, segundo ele.
De outro lado, ele avaliou que os ativos locais estão em “equilíbrio um pouco instável” e que uma comunicação fiscal bem feita, seguida de “ação contundente para reancorar expectativas, pode ter efeito positivo nos preços e reduzir câmbio e juros” de mercado.
“Se garantir uma compensação, que a reforma do IR será neutra, ou postergar para fazer só quando tiver condições fiscais, isso pode ajudar”, disse Funchal. “Da mesma forma que, se seguir pisando no acelerador, pode piorar.”
A Bradesco Asset detinha cerca de R$ 920 bilhões em ativos sob gestão em novembro, informou a sua assessoria de imprensa. Segundo os dados da Anbima, a gestora é a terceira maior do país.
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