Bolha em Wall St? Quatro razões que apontam por que alta das ações é sustentável

S&P 500 bateu recorde em quase um terço dos pregões de 2024, mas há dados que ajudam a reforçar a tese de que os ganhos em Nova York não são fruto de mera especulação

Por

Bloomberg — Os ganhos perto de 10% dos principais índices de ações nos Estados Unidos neste início de 2024 têm evocado ciclos anteriores de expansão acelerada e de subsequente queda em Wall Street, suscitando o debate de longa data sobre o risco de o mercado estar com excesso de otimismo. O que, por sua vez, alimentaria eventualmente uma “bolha” não sustentada por fundamentos.

Há muitas razões para questionar o avanço das ações a um ritmo insustentável: o índice S&P 500 fechou em máximas recordes 16 vezes neste ano, o equivalente a um terço de todas as negociações no período.

A “queridinha” da Inteligência Artificial, a Nvidia (NVDA), disparou quase 80% em pouco mais de dois meses, adicionando cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, mesmo depois de cair na sexta-feira (08) junto com outras ações de tecnologia. Ativos considerados especulativos como de bitcoin subiram.

No entanto há sinais de que a força, baseada, sim, em grande parte na resiliência da economia e nos lucros robustos das empresas, não se transformou em um frenesi especulativo.

Várias das ações chamadas de “Magnificent Seven” (as “Sete Magníficas”, em tradução livre) enfraqueceram, o que mostra que os investidores não estão distribuindo dinheiro no mercado à vontade. A reação silenciosa às ofertas públicas iniciais (IPOs) recentemente reforça esse comportamento.

Os valuations das maiores ações dos índices de referência em termos de múltipls estão bem abaixo dos níveis observados para as líderes de mercado no auge dos ciclos anteriores.

Scott Chronert, managing director e estrategista para ações do Citigroup (C), observou que as sete grandes empresas de tecnologia contribuem com cerca de 20% para os lucros do S&P 500, o que, segundo ele, justifica em grande parte o seu peso de um terço no indicador.

“Havia uma premissa de que o mercado estava construindo infraestrutura de internet anteriormente, da mesma forma como agora estamos construindo a inteligência artificial”, disse Chronert. “Mas a natureza das receitas das empresas e os fluxos de caixa que as sustentam são sensivelmente diferentes.”

Veja abaixo quatro razões que sustentam os recordes sucessivos de Wall Street:

1. Big techs não são imbatíveis

As Magnificent Seven - Apple (AAPL), Alphabet (GOOG), Amazon (AMZN), Meta (META), Microsoft (MSFT), Nvidia (NVDA)e Tesla (TSLA) – se comportaram em uníssono durante grande parte do ano passado, impulsionando o peso dos ganhos do mercado e reinando até muito recentemente como as maiores empresas do S&P 500.

A procura incansável pelas ações do grupo traçou paralelos com o frenesi especulativo que rodeou as ações da internet na virada do século.

Mas as sete divergiram em 2024, à medida que os investidores se irritavam com as perspectivas para várias empresas, sinalizando que a expectativa em torno do grupo pode ter diminuído.

A Apple caiu neste ano, em parte devido à preocupação com as vendas do iPhone na China. A empresa fechou com recorde em dezembro, antes de recuar. Com a procura pelos seus veículos diminuindo, a Tesla teve um desempenho ainda pior, ficando abaixo da Eli Lilly & Co. A Alphabet, controladora do Google, também caiu este ano.

2. Valorização disseminada

Contrariando as preocupações de que um punhado de ações estivesse impulsionando a corrida, os ganhos mostram sinais de ir além da tecnologia.

O S&P 500 Equal Weight Index estabeleceu um recorde na semana passada pela primeira vez em dois anos. O indicador dá uma parcela igual a cada constituinte, em vez de ponderar pelo valor de mercado.

A participação das ações do S&P 500 em máximas históricas no mês passado aumentou, atingindo o maior nível desde o início de 2022, mostram dados compilados pelas estrategistas da Bloomberg Intelligence, Gina Martin Adams e Gillian Wolff.

Mesmo assim, menos de um terço das ações está em níveis recordes, “deixando bastante espaço” para o mercado altista reunir participantes, disseram em nota.

Em contraste, quando a bolha tecnológica estava prestes a arrebentar, no início de 2000, o múltiplo das ações em níveis históricos estava diminuindo, de cerca de 60% num determinado momento em 1997 para 20% na virada do século, escreveram as estrategistas.

3. Euforia não chegou aos IPOs

O apetite limitado dos investidores por novas listagens é outro indicador de que o sentimento está aquém da euforia normalmente observada em torno de bolhas.

Em 1999, cerca de 42% dos IPOs dos Estados Unidos que levantaram mais de US$ 100 milhões viram os preços das ações subirem 50% ou mais até o fechamento do primeiro dia de negociação, mostram dados compilados pela Bloomberg. Em 2024, apenas um — CG Oncology (CGON). — atendeu a esse critério.

O mercado de IPO dos Estados Unidos levantou cerca de US$ 89 bilhões em 1999. Embora tenha registrado negócios recordes em 2021, o mercado atingiu um impasse desde então. Houve 36 IPOs nos Estados Unidos este ano, levantando US$ 7,2 bilhões. Em 2021, as empresas geraram cerca de US$ 300 bilhões em cerca de 1.000 negócios.

4. Múltiplos comparáveis

Os lucros robustos de algumas gigantes da tecnologia também derrubaram valuations altíssimos. Eles permanecem relativamente alongados, mas ainda estão bem abaixo dos picos anteriores.

As ações das Magnificent Seven, por exemplo, são negociadas perto do seu P/L ratio médio desde 2015, mostram dados compilados pela Bloomberg.

As cinco maiores ações do S&P 500 hoje são negociadas a menos da metade dos múltiplos dos principais papéis do início de 2000 – Intel (INTC), Cisco Systems (CSCO) Microsoft e Dell (DELL) – mostra uma análise da Bloomberg Intelligence.

Os valuations também estão contidos em ações de tecnologia em áreas como IA e robótica, com a maioria dessas cestas igual ou abaixo da média de cinco anos para múltiplos de preço sobre vendas, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

Veja mais em Bloomberg.com