BNP segue otimista com ações de tech, mas com hedge: ‘deveria estar mais volátil’

Em entrevista à Bloomberg Línea, Daniel Morris, estrategista global da BNP Paribas Asset Management, diz que cenário macro exige cautela com ações, apesar de recordes

BNP Paribas SA
04 de Junho, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Os índices de ações têm renovado recordes em Wall Street nos últimos meses, impulsionados pela apostas – e resultados que superam estimativas – em empresas que se beneficiam do avanço da inteligência artificial.

Embora o sentimento na bolsa ainda preserve uma dose de otimismo, o ambiente macroeconômico incerto, marcado por um adiamento das apostas em cortes dos juros pelo Federal Reserve, bem como pelas eleições presidenciais nos EUA em novembro, tende a agir como vento contrário e recomenda cautela. É o que diz Daniel Morris, estrategista global da BNP Paribas Asset Management.

Em entrevista à Bloomberg Línea em recente passagem por São Paulo, Morris, que fica sediado em Londres, contou que, por mais que siga otimista com as apostas em empresas de crescimento (growth) e tecnologia na bolsa americana, tem montado hedge (proteção) por meio da compra de ouro nas carteiras.

“Estamos vendo menos volatilidade do que esperávamos. Achávamos que, em meio às notícias com o Fed e as preocupações geopolíticas, o cenário estaria pior, mas talvez esse seja um motivo para ficarmos mais preocupados com o fato de que, sim, deveria estar um pouco mais volátil”, disse.

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Morris afirmou que os clientes têm reiterado que não está tão óbvio investir atualmente, nem qual será a próxima “galinha dos ovos de ouro”, já que o desempenho de ações tem sido muito forte. “O investidor quase que espera uma correção ou selloff para conseguir aproveitar as oportunidades.”

A gestora do BNP Paribas tem posição overweight (acima da média do mercado, equivalente a compra) em ações de tecnologia e crescimento, em especial no índice Nasdaq dos EUA. Posições overweight em China e Japão também compõem as principais alocações.

Preferência por ações de tech

Com grande exposição ao setor de tecnologia, o Nasdaq tem atingido recorde após recorde diante do boom de inteligência artificial com impacto nos resultados de algumas empresas. O índice sobe mais de 13% no acumulado do ano e 31% em 12 meses. O S&P 500 sobe 11% e 26%, respectivamente.

“Se analisarmos o Nasdaq, mesmo excluindo as Sete Magníficas [Nvidia, Apple, Amazon, Google, Meta, Microsoft e Tesla], o índice subiu muito. Alguém poderia dizer que é bolha, que foi longe demais, mas os resultados recentes da Nvidia mostram que certamente ainda não”, disse.

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A fabricante de chips no centro do frenesi em torno da IA reportou no último dia 23 um primeiro trimestre melhor do que o esperado, com previsão de forte crescimento de vendas neste período, o que afastou algum receio de que a onda global de investimento em data centers para IA generativa pudesse desacelerar.

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A valorização dos papéis da companhia após o balanço elevou a cotação acima de US$ 1.000 pela primeira vez e adicionou mais de US$ 100 bilhões ao seu valor de mercado. O papel já acumula alta de mais de 100% neste ano, depois de um salto de mais de 200% em 2023.

“Acredito que a perspectiva de ganhos ainda é muito boa. Se pegar o Nasdaq como exemplo, não só o desempenho tem sido positivo como os lucros [das empresas] também subiram [no último trimestre]”, afirmou.

Juros

Apesar de grande parte do mercado ter ajustado as apostas de relaxamento monetário nos EUA neste ano para apenas um corte de juro, Morris disse que ainda espera três reduções até dezembro.

“Junho está fora de cogitação, setembro é complicado, porque o Fed disse que não quer que as eleições afetem a decisão de juros. Mas, se os dados suportarem uma flexibilização, podemos ver cortes em setembro e, depois, em novembro e dezembro”, disse o estrategista.

Morris afirmou, por outro lado, que o quadro de juros mais altos não tem sido um problema ainda para os negócios por causa dos grandes estímulos feitos durante a pandemia de covid, mas que, quando esse montante acabar, a economia americana poderá sofrer uma forte desaceleração.

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.