Beny Parnes, da SPX, alerta para ‘caminhão’ no retrovisor do Banco Central

Altas dos juros futuros dos Treasuries nos Estados Unidos poderiam impedir autoridade monetária de dar prosseguimento ao ciclo de corte das taxas no Brasil

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Bloomberg — O Banco Central deveria ser cauteloso ao reduzir a taxa básica de juros durante um momento de alta dos rendimentos do títulos do Tesouro dos EUA e de maiores gastos do governo brasileiro, disse Beny Parnes, sócio da gestora SPX Capital e ex-diretor da autoridade monetária.

Parnes, que atuou como diretor de Assuntos Internacionais do BC de 2002 a 2003, vê o diferencial de juros mais estreito entre os EUA e os países em desenvolvimento como uma ameaça que se aproxima rapidamente do atual ciclo de cortes do país.

“O grande ‘caminhão que se aproxima pelo espelho retrovisor é o Treasury de 10 anos nos Estados Unidos”, disse Parnes, do escritório da SPX em Nova York, em entrevista.

O BC – um dos primeiros a começar a aumentar drasticamente as taxas na tentativa de conter a inflação pós-pandemia – iniciou em agosto um ciclo de flexibilização que resultou em dois cortes de meio ponto percentual, baixando a Selic para 12,75% ao ano.

Mas, tal como em outros países latino-americanos, isso ajudou a fazer com que a moeda local perdesse valor face ao dólar americano, especialmente porque o Federal Reserve continua com uma mensagem mais dura.

O aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, que recentemente atingiram máximas de 16 anos e foram negociados perto de 4,66% na terça-feira (10), exacerbaram os efeitos. O real caiu 3,5% nos últimos três meses, enquanto os juros futuros subiram ao longo da curva.

Uma forte economia dos EUA, que pode levar o Fed a manter as taxas mais altas por mais tempo, também causou estragos em mercados emergentes como o Brasil, fornecendo “outra razão” para a autoridade monetária não acelerar o ritmo dos cortes, disse Parnes.

Essa dinâmica também suscitou preocupações entre a equipe econômica sobre se a autoridade monetária precisará desacelerar o ritmo dos corte de juros. Parnes, chefe de pesquisa de longo prazo da SPX, admitiu que ainda há “espaço para cortes”, embora tenha preferido não comentar sobre o nível de Selic terminal.

“Nunca se sabe o que o ‘caminhão’ vai fazer”, disse ele, aconselhando cautela mesmo antes de a eclosão do conflito em Israel ter acrescentado ainda mais volatilidade aos mercados globais.

A SPX é uma das maiores gestoras independentes do Brasil, com cerca de R$ 64 bilhões sob gestão. Seu fundo Raptor subiu 45% após taxas nos últimos 36 meses, superando 93% dos rivais monitorados pela Bloomberg. O fundo caiu 13% no acumulado do ano até 5 de outubro, penalizado por apostas no Brasil durante o primeiro semestre do ano.

Preocupações com gastos

Parnes também expressou preocupações sobre os riscos fiscais a longo prazo do país, diante das dúvidas sobre o cumprimento da meta de zerar o déficit no próximo ano, prevista no arcabouço.

“Qualquer diretor financeiro corporativo que gasta primeiro e tenta financiar depois está assumindo muito risco em seu balanço”, disse Parnes. “E é isso o que esse governo está fazendo.”

Para Parnes, o Brasil tem assistido ao que ele chama de “recuperação cíclica” da economia, com a ocupação de capacidade ociosa após a reabertura pós-Covid. Ele espera que o PIB brasileiro desacelere de um crescimento de 3% em 2023 para cerca de 1% em 2024. Entretanto as despesas obrigatórias, como os aumentos do salário mínimo, reduzirão o espaço para despesas discricionárias no Orçamento.

“O arcabouço fiscal inicialmente deu dois anos para o Brasil”, disse Parnes. “É um band-aid. Mas vai ser testado.”

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