BB eleva provisão em 22% com peso da Americanas e piora do risco na carteira PJ

Banco do Brasil também revisou para cima o guidance de provisão para créditos de liquidação duvidosa e vê maior risco no segmento large corporate; lucro, porém, teve alta de 11% no segundo trimestre

Agência do Banco do Brasil
10 de Agosto, 2023 | 08:50 AM

Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) sentiu o peso da crise da varejista Americanas (AMER3) no balanço do segundo trimestre, divulgado na noite de quarta-feira (9). Houve uma elevação de 22,6% na provisão para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) ampliada. A instituição financeira também revisou para cima o total da PCLD de sua projeção para 2023, do intervalo de R$ 19 bilhões a R$ 23 bilhões, divulgado no começo do ano, para o novo guidance de R$ 23 bilhões a R$ 27 bilhões. No primeiro semestre, o PCLD já totalizava R$ 13 bilhões, um aumento de 128,8% em 12 meses.

Em documento que analisa o resultado do segundo trimestre, o BB informou que o aumento de 22,5% da PCLD foi “decorrente do agravamento em linhas de créditos não consignados na carteira Pessoa Física e da piora de riscos na carteira Pessoa Jurídica, impactada pela elevação de nível de risco de créditos de empresa do segmento large corporate que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, saindo de risco F (50%) para o risco G (70%)”. A Americanas entrou em recuperação judicial no dia 19 de janeiro.

Os bancos evitam nomear diretamente a empresa devido à obrigação de preservar o sigilo bancário dos clientes. A Americanas deve R$ 1,6 bilhão ao BB. Os credores ainda negociam um acordo com a varejista, com expectativa de se chegar a uma solução no mês que vem, indicam altos executivos do Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11), em conversas com a imprensa sobre seus balanços nas últimas semanas.

O CFO do BB, Geovanne Tobias, disse, durante entrevista coletiva, que o banco espera um impacto positivo do Desenrola Brasil, programa governamental para renegociação de dívidas, e iniciativas próprias da instituição de recuperação de crédito, sobretudo com pequenas empresas, nos futuros resultados financeiros.

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Nas primeiras semanas do Desenrola, o BB já renegociou R$ 4,1 bilhões, enquanto a empresa Ativos, securitizadora e recuperadora de créditos do BB, outros R$ 308 milhões. Desde 17 de julho, mais de 264 mil clientes do BB e 241 mil clientes da Ativos tiveram acesso a condições especiais para renegociação de dívidas.

Já a CEO do BB, Tarciana Medeiros, expressou otimismo com o efeito do ciclo de redução de juros no contexto econômico em que atua o banco. No começo do mês, o Banco Central reduziu a taxa de Selic em 0,50 ponto percentual para 13,25% ao ano, com os bancos projetando juros entre 9% e 9,50% no final do ano, e o BB já anunciou redução de taxas em linhas de crédito. “O corte de juros vai criar um ambiente favorável˜, afirmou a executiva.

As ações do Banco do Brasil encerraram o pregão de quarta-feira com queda de 0,55%, cotadas a R$ 46,73, antes da divulgação do balanço. No ano, o papel acumula ganho de 34%, acima do desempenho do Ibovespa (IBOV), que tem alta de 7,9%.

Lucro do Banco do Brasil sobe no segundo trimestre

Apesar de esperar maiores provisões em 2023, o BB apresentou resultados financeiros com destaques positivos. Entre abril e junho, o lucro líquido ajustado atingiu R$ 8,8 bilhões, alta de 11,7% em 12 meses. Na comparação com o trimestre anterior, houve uma desaceleração do ritmo de crescimento (2,8%).

A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre o patrimônio líquido atualizado) ficou na casa dos 20%, como ocorreu com Itaú (20,9%) e BTG Pactual (22,7%). O BB reportou ROE de 21,3% no segundo trimestre, acima dos 21% do primeiro trimestre e dos 20,8% de igual período do ano passado. No primeiro semestre, o ROE terminou em 21,4%, acima dos 19,7% dos seis primeiros meses de 2022.

Na revisão das projeções corporativas de 2023, o BB elevou o guidance para o crescimento de sua carteira de crédito, do intervalo de 8% a 12% para 9% a 13%. Ao detalhar por segmento, o agronegócio é quem deve acelerar o avanço da carteira. No começo do ano, o BB esperava alta entre 11% e 15% para o crédito a produtores agrícolas. Agora esse intervalo subiu para 14% e 18%.

O BB manteve a projeção de crescimento da carteira de pessoa física em 7% a 11% em 2023 e elevou o guidance para empresa de 7% a 11% para 8% e 12%.

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No segundo trimestre, o BB informou que seu resultado ˜foi influenciado pelo bom desempenho comercial e pelo crescimento das carteiras de crédito que impactaram positivamente a margem financeira bruta (+8,2%) e as receitas de prestação de serviços (+1,9%), especialmente àquelas vinculadas ao desembolso de crédito”.

A instituição avaliou que as despesas administrativas (+3,9%) se mantiveram sob controle, “refletindo a gestão adequada dos contratos e investimentos na transformação digital do banco.

A rede própria de atendimento do BB era composta por 10.983 unidades, uma redução de 2,4% em 12 meses e de 0,7% em três meses. O quadro de funcionários somava 85.031 pessoas em junho, levemente abaixo dos 85.457 de março e dos 85.953 de dezembro.

Na análise semestral, as receitas de prestação de serviços do BB cresceram 6,8%, sobretudo nos segmentos comerciais como consórcio e seguros. O resultado de participações em controladas, coligadas e JV (joint venture) apresentou crescimento de 38,4% entre janeiro e junho.

O BB explicou o aumento de 19,5% em seu lucro semestral (R$ 17,3 bilhões) ao desempenho da margem financeira bruta (+36,0%), “influenciada pelos bons resultados da carteira de crédito e dos títulos e valores mobiliários alocados em tesouraria”.

Analistas

Após a divulgação do balanço, a equipe do banco americano Goldman Sachs, liderada pelo analista Tito Labarta, manteve a recomendação de compra para a ação do BB com preço-alvo de R$ 55.

Em relatório, o GS destacou que o lucro líquido ficou 1% acima do consenso de analistas ouvidos pela Bloomberg e 3% acima da estimativa do banco.

Os analistas destacaram o aumento das provisões e o guidance revisado para essa linha tanto para o varejo como para o segmento corporate. O GS disse que as provisões de R$ 13 bilhões vieram 21% acima de suas estimativas.

O relatório mencionou que as provisões do segundo trimestre foram parcialmente afetadas por um efeito comparativo com a base do primeiro trimestre e por uma provisão de R$ 300 milhões relacionada ao caso da Americanas e à deterioração do risco do varejo.

O GS observou que as tendências operacionais apresentadas pelo balanço do BB são mistas, enquanto os volumes de crédito e suas receitas performaram melhor do que o restante do setor bancário.

(Atualiza às 10h com relatório do Goldman Sachs e falas da CEO e CFO)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.