Bancos veem ritmo de IPOs de volta à normalidade apenas em 2025

Mesmo com prováveis ofertas em 2024, diferença no valuation entre como as empresas se percebem e o que investidores estão dispostos a pagar segue como ponto de atenção

Wall Street
Por Bailey Lipschultz - Ryan Gould - Amy Or
18 de Dezembro, 2023 | 04:17 PM

Bloomberg — Os unicórnios (e decacórnios) que fazem fila para o tão esperado retorno das listagens iniciais de ações em 2024 são candidatos à altura da expectativa. Eles já estavam à altura neste ano, mas os IPOs não se concretizaram.

Estreias de empresas como Reddit, Syngenta Group e CVC Capital Partners, destinadas a impulsionar a morna atividade global de ofertas públicas iniciais, foram adiadas, por vezes repetidamente. Empresas e investidores ainda não conseguiram fechar totalmente a lacuna entre as expectativas de valuation, estabelecidas durante épocas de expansão alimentadas por juros baixos.

Embora os banqueiros continuem globalmente otimistas em relação a 2024, até esse segmento admite que, depois de meses de oscilações não terem conseguido sustentar a atividade, um verdadeiro retorno à normalidade poderá levar meses.

“Seria prematuro dizer que existe um mercado normalizado de IPOs logo ali”, disse Eddie Molloy, codiretor de mercados de capitais em renda variável para as Américas do Morgan Stanley.

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Quase US$ 130 bilhões foram captados por meio de IPOs globais neste ano, a caminho do pior desempenho desde 2009, mostram dados compilados pela Bloomberg. Com negociações pós-estreia fracas em várias das maiores ofertas do ano, o retorno a um mercado típico de IPOs pode se arrastar até 2025.

Embora a atividade de IPOs em 2024 deva proporcionar um ganho significativo em relação a 2023, 2025 é quando “voltaremos à normalidade pré-Covid”, disse Achintya Mangla, chefe global de mercados de capitais em renda variável do JPMorgan Chase.

O banco analisa o “ciclo de IPOs de longo prazo de forma holística, em oposição a 2024 versus 2025″, disse.

IPOs adiados

Não é atípico que empresas planejem com bastante antecedência suas primeiras vendas de ações. Ainda assim, os atrasos enfrentados por alguns dos maiores emissores potenciais ajudam a explicar os mercados de IPOs em 2023.

Fundamentos mais estáveis levaram ao otimismo de que o leque de empresas em busca de investidores nas bolsas no ano que vem se estenderá a companhias com foco em crescimento.

“Haverá mais IPOs chegando ao mercado com a possibilidade de que os juros possam ter atingido o pico”, disse Jim Cooney, chefe de mercados de capitais em renda variável para as Américas do Bank of America. “Os investidores voltaram a procurar ativos de crescimento, e os IPOs oferecem essa opção.”

Outro fator que pode levar empresas a fechar acordos: o tempo.

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A diferença no valuation entre a forma como investidores e a gestão de empresas privadas se percebem e o que investidores de mercados abertos estão dispostos a pagar continua a ser um ponto delicado.

Ainda assim, os IPOs adiados impactam a taxa interna de retorno dos investidores, disse Matt Warren, codiretor de originação de caixa de mercado de capitais em renda variável para as Américas no Bank of America.

“Em algum momento, você terá que iniciar o processo de monetização para obter ganhos”, explicou Warren.

Calendário eleitoral

As eleições nos EUA estão longe de ser o único potencial evento de mudança de liderança no calendário para o próximo ano. Embora o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, provavelmente se mantenha no poder, líderes do Reino Unido, Alemanha, Canadá e Japão enfrentam turbulências e baixos índices de aprovação que os pressionam a convocar eleições já em 2024.

O Japão, onde a desvalorização do iene ajudou o índice de referência a subir quase 25% neste ano, tem sido repetidamente apontado por investidores como um mercado de IPOs a ser observado. É pouco provável que compense totalmente a ausência de grandes ofertas na China ou em Hong Kong, resultando em demissões em bancos devido ao mal-estar econômico.

“A Ásia continua a ser muito interessante”, disse Douglas Adams, co-diretor global de mercado de capitais do Citi, que também destacou empresas no Brasil. “Pensamos onde há inovação e companhias interessantes, e o Brasil é uma área onde estamos dedicando muito tempo”, disse.

Ainda assim, a evolução do mercado nos EUA lança inevitavelmente uma grande dúvida. Empresas do mundo todo estão “interessadas no que está acontecendo no mercado dos EUA e em como isso se traduz globalmente”, destacou Adams.

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