Bloomberg — Quando alguns dos maiores bancos de Wall Street iniciarem a temporada de resultados do terceiro trimestre nesta sexta-feira (13) pela manhã, isso marcará o primeiro de uma longa lista de obstáculos que o grupo precisa superar para acalmar os temores dos investidores.
As ações dos bancos estão próximas do nível mais baixo do ano, atingido em maio após o colapso do First Republic Bank. O índice bancário KBW caiu 24% neste ano, um desempenho muito abaixo do ganho de 14% do índice S&P 500. Cinco dos maiores bancos dos EUA, excluindo o JPMorgan Chase (JPM), perderam cerca de US$ 100 bilhões em capitalização de mercado neste ano.
“Os investidores no setor bancário têm cerca de meia dúzia de questões que precisam ser resolvidas para sua maior satisfação”, disse um analista da Piper Sandler, R. Scott Siefers.
Entre os desafios estão novas propostas regulatórias que podem impor requisitos de capital mais altos aos bancos, perdas não realizadas em suas carteiras de títulos e aumento de baixas de empréstimos ruins. O desaparecimento de três bancos no S&P 500 no início deste ano ainda está fresco na memória dos investidores.
O setor caiu até 1,5% nesta quinta-feira (12), em nova performance abaixo do mercado mais amplo à medida que os rendimentos de longo prazo subiam.
“Os investidores estão olhando as coisas e dizendo que a primavera [no hemisfério norte] foi uma crise real com três grandes quebras bancárias. O verão trouxe revisões de estimativas em queda devido às taxas de juros e às pressões de financiamento, e agora você está me dizendo que estamos à beira de um possível ciclo de crédito”, disse Siefers. “A indústria está em uma fase de ‘mostre-me’ agora.”
A fraqueza das últimas semanas foi impulsionada em parte por preocupações com perdas não realizadas devido ao aumento dos rendimentos dos títulos. Com o caminho do Federal Reserve para aumentos das taxas de juros permanecendo incerto e casos de baixas de bancos devido a problemas dos mutuários, os investidores provavelmente permanecerão à margem do setor.
“Não é provável que o terceiro trimestre mude de bom para ruim, mas é provável que confirme uma progressão ascendente das perdas de empréstimos a partir de níveis excepcionalmente favoráveis”, disse o analista do Wells Fargo, Mike Mayo, sobre o crédito.
Para um analista da Keefe, Bruyette & Woods, Christopher McGratty, levará tempo para o investidor adotar uma postura mais construtiva em relação às ações dos bancos. O mercado não pode avaliar a fraqueza de crédito até ter uma noção de quão profunda ela será.
“Há um alto grau de imprevisibilidade”, disse McGratty. Sua empresa mantém uma posição neutra (market-weight) no setor.
Enquanto isso, os resultados de receitas líquidas de juros (NII, na sigla em inglês) dos bancos estarão em foco devido aos custos de depósitos mais altos, à medida que as empresas continuam a competir por negócios em meio à agitação provocada pelo colapso de bancos regionais como o Silicon Valley Bank em março.
O JPMorgan, um dos primeiros bancos programados para relatar os resultados do terceiro trimestre na sexta, deve se destacar entre seus maiores pares devido à aquisição do First Republic. Wells Fargo (WFC) e Citi (C) também divulgam os resultados nesta sexta.
As ações do maior banco do país ganharam mais de 8% em valor neste ano, adicionando mais de US$ 30 bilhões em valor de mercado. Isso tornou o JPMorgan cerca de duas vezes maior do que o segundo maior banco dos EUA em valor de mercado, o Bank of America (BAC).
Os analistas esperam que a orientação reflita uma estabilidade relativa, após revisões em baixa de muitos bancos durante o verão.
É claro que as incertezas podem ser resolvidas de maneira favorável para os bancos. O Fed pode conseguir orquestrar um pouso suave - o soft landing -, cortes nas taxas podem aliviar os custos de depósito e as versões finais das propostas regulatórias podem ser moderadas.
Dado que o setor está sendo negociado a valuations tão baixos, alguns analistas argumentam que os investidores devem adotar uma abordagem de stock-picking. Outros alertam que o grupo se tornou extremamente subvalorizado e está pronto para um ressurgimento. A temporada de resultados trará “fatores micro” para o “centro do palco” e os bancos podem superar, segundo os analistas do Citi.
“Os bancos de grande capitalização parecem materialmente sobrevendidos”, escreveu a analista do UBS Erika Najarian, em uma nota recente. “Mais uma vez, as ações refletem o que acreditamos ser preocupações existenciais injustificadas, em vez de questões fundamentais.”
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