Ata do Fed sinaliza juros altos por ‘algum tempo’ e riscos mais equilibrados

Documento divulgado nesta quarta indica que os diretores do Fed concordaram que a política monetária deve ser restritiva durante a última reunião de política monetária

Bonos repunte
Por Craig Torres - Steve Matthews
11 de Outubro, 2023 | 04:35 PM

Bloomberg — Os diretores do Federal Reserve concordaram no mês passado que a política de juros deve permanecer restritiva por algum tempo, observando ao mesmo tempo que os riscos de apertar demais as taxas agora precisam ser equilibrados com uma trajetória de queda da inflação em direção à meta de 2%.

“Os participantes em geral julgaram que, com a postura da política monetária em território restritivo, os riscos para alcançar dos objetivos do comitê haviam se tornado mais equilibrados”, afirma a ata da reunião de política monetária do Fed de setembro, divulgadas nesta quarta-feira (11).

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“Todos os participantes” concordaram que o comitê estava em posição de “proceder com cuidado” e que as decisões de política dependeriam de dados e levariam em consideração o “equilíbrio de riscos”.

“Eles vão permanecer à margem, mas ainda não estão desfazendo as malas”, disse Jennifer Lee, economista sênior da BMO Capital Markets. “Eles veem a inflação como inaceitavelmente alta - e que existem mais riscos positivos”, acrescentou.

Na reunião, os diretores do Fed mantiveram a taxa de referência em uma faixa de 5,25% a 5,5% ao ano no mês passado e sinalizaram que as taxas permaneceriam mais altas por mais tempo do que o esperado anteriormente, após um aumento adicional da taxa este ano.

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Desde então, um aumento nas taxas de juros dos títulos do Tesouro de longo prazo levou alguns diretores a sugerir que podem adiar outro aumento quando se encontrarem em 31 de outubro a 1º de novembro, à medida que analisam os motivos por trás da alta.

Após a publicação da anta, os rendimentos dos títulos do Tesouro de dois anos, mais sensíveis à política do Fed, e o dólar reduziram os ganhos do dia, enquanto o índice S&P 500 reduziu as perdas.

Debate sobre os juros

A ata observara que “a maioria” dos funcionários do Fed viu que um aumento adicional dos juros “provavelmente seria apropriado” para ajudar a reduzir a demanda e aproximar a inflação de sua meta de 2% nos próximos dois anos, enquanto “alguns” disseram que “não seriam necessários mais aumentos”.

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Nas projeções divulgadas no mês passado, 12 dos 19 funcionários projetaram mais um aumento este ano, enquanto a estimativa mediana mostrou que eles esperavam menos cortes de taxa em 2024 e 2025.

“Os participantes em geral observaram que era importante equilibrar o risco de apertar demais com o risco de apertar insuficientemente”, diz a ata.

Omair Sharif, do Inflation Insights, disse que o futuro da política monetária está em um “conflito” entre os dois riscos. “O comitê agirá com cuidado”, disse ele na quarta-feira em uma nota aos clientes, acrescentando que a maioria “ainda não está confiante de que a inflação está em um caminho duradouro e sustentável para 2%.”

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O pico estimado das taxas mais altas, combinado com um ritmo mais lento de reduções nos próximos dois anos, abalou os mercados de títulos nas últimas três semanas.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos subiram até 40 pontos-base desde a reunião de 20 de setembro até segunda-feira, enquanto os spreads de crédito corporativo se ampliaram e as condições financeiras gerais se apertaram.

O rápido aumento dos juros parece ter surpreendido alguns membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês, equivalente ao Copom), que sugeriram que podem novamente manter as taxas inalteradas quando se reunirem em três semanas.

Trajetória dos juros

O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, disse na segunda-feira (9) em uma conferência que ele “permanecerá ciente do aperto nas condições financeiras devido ao aumento nos rendimentos dos títulos” ao avaliar “o futuro caminho da política”. E a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, disse no mesmo dia que os rendimentos mais altos podem reduzir a necessidade de novos aumentos nas taxas.

Os mercados de títulos se recuperaram após esses comentários, e os mercados futuros precificavam uma chance de cerca de 10% de um aumento de um quarto de ponto na taxa na próxima reunião do Fed.

Outros membros do Fed na quarta-feira defenderam uma abordagem cautelosa em relação a futuros movimentos.

O diretor Christopher Waller disse que o Fed pode observar o que acontece antes de tomar medidas adicionais em relação às taxas de juros, à medida que os mercados financeiros se apertam.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o banco central não precisa continuar elevando as taxas de juros, a menos que a queda da inflação comece a estagnar.

A ata observa que a economia tem se expandido a um ritmo sólido, os mercados de trabalho atingiram um melhor equilíbrio e a inflação, embora tenha se moderado, ainda está acima da meta.

O Fed de Dallas, que exclui preços atípicos do índice de preços de gastos com consumo pessoal, calculou a taxa anual de inflação de seis meses em 3,1% para agosto, abaixo de 3,4% em julho.

Os diretores do Fed estimam que precisam reduzir o crescimento econômico para abaixo da taxa de tendência de 1,8% para conter o aumento dos preços.

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