Ata do Fed revela comitê dividido sobre decisão de pausar juros em junho

Apesar da decisão unânime de manter os juros no intervalo de 5,00% a 5,25%, parte dos integrantes do FOMC indicou que teria concordado com aumento das taxas

Powell chegou a apontar o sentimento dividido do Comitê Federal de Mercado Aberto
Por Catarina Saraiva
05 de Julho, 2023 | 04:12 PM

Bloomberg — Autoridades do Federal Reserve tiveram um consenso menor em sua reunião de junho do que a decisão unânime sugeriu, dado que alguns integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto foram a favor de aumentos nas taxas de juros, ainda que tenham concordado com o movimento de deixar a política monetária inalterada.

“Quase todos os participantes julgaram apropriado ou aceitável manter a faixa-alvo para a taxa dos Fed Funds entre 5% e 5,25%”, revelou a ata da reunião de 13 a 14 de junho, que acaba de ser divulgada nesta quarta-feira (5). “[Mas] alguns participantes indicaram que eram a favor de aumentar o alvo em 25 pontos básicos nesta reunião ou que poderiam ter apoiado tal proposta.”

Membros do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) que defenderam um aumento citaram mercado de trabalho apertado e relativamente poucos sinais de que a inflação desacelera em direção à meta de 2%.

A ata revela como a decisão foi complicada para o FOMC. Mesmo com as taxas inalteradas, quase todas as autoridades disseram que aumentos adicionais provavelmente seriam apropriados, com a maioria enfatizando que as comunicações pós-reunião seriam essenciais para transmitir essa mensagem.

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A leitura fornece mais clareza aos analistas que acompanham o Fed, que na ocasião ficaram perplexos com a decisão de deixar as taxas inalteradas em uma faixa-alvo de 5% a 5,25%, ao mesmo tempo em que previram novos aumentos ainda neste ano.

Os rendimentos dos títulos das Treasuries de dois anos caíram após o relatório, o índice de ações do S&P 500 permaneceu em queda e o dólar manteve os ganhos frente aos pares.

Ritmo mais lento

A decisão do Fed no mês passado representou uma pausa na política de aperto monetário depois que as autoridades elevaram os juros no ritmo mais rápido em quatro décadas ao longo de 2022, incluindo quatro aumentos consecutivos de 75 pontos-base.

Os banqueiros do Fed começaram a reduzir essa velocidade em dezembro passado e apresentaram aumentos de um quarto de ponto em cada uma das três primeiras reuniões deste ano.

Pouco antes da divulgação da ata, os mercados apontavam cerca de 80% de chance de um aumento de 25 pontos-base na reunião deste fim de mês e não previam uma nova alta no final do ano, de acordo com dados futuros de fundos federais da Bloomberg.

As autoridades disseram que o rápido aumento nas taxas de juros desde o início de 2022 lhes permite avaliar agora como esse aperto tem afetado a economia. Eles também estão atentos a sinais de repercussões econômicas da turbulência bancária - quebra do SVB etc. - de março.

A reunião deixou alguns observadores do Fed e investidores confusos sobre a direção do banco central, mas em várias aparições públicas desde então, o presidente Jerome Powell enfatizou que a maioria de seus colegas no Comitê Federal de Mercado Aberto de definição de políticas apoia mais aumentos de juros.

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Comentários de Powell

“Uma grande maioria dos participantes do comitê espera que seja apropriado aumentar as taxas de juros duas ou mais vezes até o final do ano”, disse Powell em uma conferência em Madri (Espanha) organizada pelo Banco da Espanha na semana passada. “As pressões inflacionárias continuam altas, e o processo de reduzir a inflação para 2% ainda tem um longo caminho a percorrer.”

Embora a leitura dos dados principais do índice de gastos de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) - o indicador preferido do Fed para observar variações de preços - tenha desacelerado em maio, a medida principal sugere que a inflação subjacente pode estar estagnada. O núcleo do PCE subiu 4,6% ao ano em maio e pouco mudou desde dezembro.

Uma bifurcação começou a se formar entre as autoridades que foram quase unânimes no ano passado, durante a fase inicial do ciclo de aperto.

Algumas autoridades agora argumentam que o arrefecimento nos índices de preços gerais mostra que o processo de desinflação se consolida, enquanto outros dizem que o pequeno movimento nos indicadores básicos reflete desequilíbrios profundamente enraizados que precisam ser consertados.

A maioria das autoridades apontou para a resiliência da economia dos EUA como uma característica positiva geral que até agora manteve a recessão sob controle, mas alguns elementos dela - como o mercado de trabalho persistentemente forte - também levantaram preocupações sobre quanto tempo vai levar para reduzir a inflação para a meta de 2% do Fed.

Previsão de recessão

A previsão econômica preparada pela equipe para a reunião de junho continuou assumindo que os efeitos do esperado aperto adicional nas condições de crédito bancário, em meio a condições financeiras já apertadas, levariam a uma leve recessão a partir do final deste ano, seguida de uma recuperação moderada.

“Dada a força contínua das condições do mercado de trabalho e a resiliência dos gastos do consumidor, no entanto, a equipe viu a possibilidade de a economia continuar a crescer lentamente e evitar uma desaceleração quase tão provável quanto o cenário base da recessão moderada”, apontou a ata.

O Fed receberá dois relatórios econômicos importantes antes da reunião de 25 a 26 de julho: o de empregos (payroll) em junho na sexta-feira (7) e a inflação ao consumidor no mesmo mês no dia 12 de julho.

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