Bloomberg — A Arábia Saudita tomou o lugar da China como o maior emissor de dívida internacional entre mercados emergentes, interrompendo o reinado de 12 anos do governo de Pequim.
Dados sobre as vendas de novos títulos por governos e empresas este ano revelam que o reino saudita tem feito emissões em nível recorde, com investidores globais de dívida que começam a apoiar o plano “Vision 2030″ do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Emissores chineses, por outro lado, observam uma onda de compras de títulos denominados em moeda local, e as vendas internacionais agora mostram um dos ritmos mais lentos dos últimos anos.
Ultrapassar a China é significativo para a Arábia Saudita — cujo Produto Interno Bruto (PIB) equivale a 1/16 da economia do país asiático e que é movido pela ambição de se tornar um centro de negócios global até o final da década.
Os dados mais recentes sugerem uma melhora na percepção do mercado à medida que o governo de Riad busca financiamento para projetos de diversificação da economia, reduzindo a dependência do petróleo, e sua posição como elo entre a Ásia e a Europa.
Enquanto isso, o resto dos mercados emergentes também testemunha um ano excepcional para emissão de títulos, em meio à queda dos juros e à caça por rendimentos atraentes.
“A percepção sobre os títulos sauditas é muito positiva”, disse Apostolos Bantis, diretor-gerente da consultoria de renda fixa no Union Bancaire Privee Ubp, de Zurique. “Não é surpresa que o reino tenha se tornado o maior emissor de títulos de mercados emergentes, dadas suas grandes necessidades de financiamento para grandes projetos de infraestrutura.”
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As vendas de títulos de entidades sauditas aumentaram 8% neste ano e ultrapassaram US$ 33 bilhões. O governo responde por mais da metade do volume, incluindo uma oferta de títulos sukuk denominados em dólar de US$ 5 bilhões no mês passado.
O reino trabalha para encontrar fontes alternativas de financiamento para ajudar a cobrir um déficit fiscal previsto de cerca de US$ 21 bilhões neste ano. E espera que as atividades de financiamento total para o ano cheguem a cerca de US$ 37 bilhões, para ajudar a acelerar o Vision 2030.
Na verdade, o país se voltou para o mercado de títulos em tal escala em parte porque o investimento estrangeiro direto ficou abaixo das metas, enquanto a receita do petróleo foi afetada por cortes de oferta.
O endividamento do país já desperta cautela entre alguns gestores de recursos. O Barclays rebaixou o rating da dívida soberana da Arábia Saudita de “market weight” para “underweight”, citando a emissão “recorrente” de títulos, preços mais baixos do petróleo e tensões no Oriente Médio.
“A Arábia Saudita não pode manter o ritmo atual de emissão de títulos por muito tempo, pois isso começaria a ter um impacto em seus fundamentos e no custo do financiamento”, disse Bantis, do UBP.
No total, as vendas de títulos internacionais de mercados emergentes aumentaram 28% em relação ao ano anterior, para US$ 291 bilhões, o valor mais alto para períodos comparáveis desde 2021.
O rendimento extra que investidores exigem para comprar títulos de mercados emergentes - soberanos e corporativos combinados -, em vez de títulos do Tesouro dos EUA, está agora em cerca de 266 pontos-base, abaixo da média de cinco anos de 336 pontos-base, de acordo com um índice da Bloomberg.
Enquanto isso, o Banco de Desenvolvimento da China em Pequim e empresas chinesas venderam, juntos, US$ 23,3 bilhões em títulos denominados em dólares e euros neste ano.
O valor representa uma queda de 68% em relação à média de emissões de títulos do governo e corporativos do país para este período do ano desde 2019. A China agora responde por apenas 8,1% das emissões de mercados emergentes, bem longe de 2017, quando contava com 30% de todas as ofertas, no valor de US$ 224 bilhões.
Ao contrário da tendência dos títulos em dólares, o país registra uma emissão de títulos sem precedentes em moeda local devido à queda dos juros para mínimas históricas.
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