Analistas e economistas esperam corte moderado da Selic após IPCA-15 de setembro

Ata do Copom, divulgada mais cedo, não descarta mais um corte de 0,50 ponto; XP vê IPCA-15 de setembro como ‘sinal neutro’ para o BC

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Bloomberg Línea — O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado mais cedo nesta terça-feira (26), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou um crescimento de 0,35% em setembro, com alta acumulada de 5,0% nos 12 meses até setembro.

A prévia da inflação é publicada uma semana após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto.

Para analistas, bancos e casas de investimentos, o novo resultado do IPCA-15 indica que mais cortes devem ser feitos nas taxas de juros do Brasil. Mais cedo, o BC também divulgou a ata da reunião do Copom que ocorreu na semana passada, afirmando que não descarta mais um corte de 0,50 ponto e que “julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”.

Segundo o Goldman Sachs (GS), os preços mais baixos dos alimentos, a deflação dos preços no atacado e a inflação moderada observados no IPCA-15 devem apoiar a continuação de um ciclo gradual de redução das taxas de juros.

O banco, assim como os diretores do Copom, afirma que “o espaço para uma aceleração iminente no ritmo de cortes de taxas é limitado por um cenário com atividade real resiliente, mercado de trabalho apertado, significativo fechamento da lacuna de produção, política fiscal quase expansionista, inflação de núcleo e serviços rastreando acima de 5% e expectativas de inflação de curto e médio prazo ainda não ancoradas”.

“Além disso, o equilíbrio de riscos para a inflação de alimentos e combustíveis agora está claramente inclinado para cima, e os fundamentos da inflação de serviços (mercado de trabalho e transferências fiscais) exigem cautela”, dizem os economistas do Goldman.

Em setembro, segundo o IBGE, o setor de transporte foi o que mais impulsionou a inflação, principalmente devido ao aumento nos combustíveis, com uma alta de 5,18% somente na gasolina.

Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, o setor de alimentação veio “mais uma vez surpreendendo positivamente, enquanto os preços de transportes subiram mais do que o esperado, com o reajuste de preços da Petrobras (PETR3; PETR4)”.

“Destaque positivo também para a difusão, que veio bem mais baixa e para os núcleos, que vieram em linha e desacelerando. Um ponto de atenção para o BC é a inflação de serviços, que foi uma surpresa negativa relevante, apesar de seguir desacelerando lentamente nas medidas de 12 meses. Ainda assim, a melhora mais lenta do que o esperado deve impedir o BC de acelerar o ciclo”, afirmou Mercadante.

Já a equipe de economistas do Itaú (ITUB4) destacou que o IPCA-15 mostra uma continuidade do processo de queda da inflação e classificou a variação dos núcleos de inflação como “benignas”, com destaque para uma desaceleração da inflação de serviços e de bens industriais, na média móvel de três meses.

“Além de desaceleração nos núcleos, a métrica de difusão, tanto para o índice cheio quanto para o núcleo do IPCA-EX3, continuou mostrando queda adicional, sinalizando maior desinflação adiante”, escreveu a equipe do Itaú em relatório assinado por Julia Gottlieb, Julia Passabom e Luciana Rabelo.

A Warren Rena, por sua vez, entende que, apesar de a prévia da inflação divulgada hoje mostrar um bom patamar na desinflação do setor de serviços, ainda não mostra uma melhora adicional esperada para o segundo semestre.

O Santander (SANB11) enxerga que, no IPCA-15 de setembro, a surpresa negativa foi impulsionada principalmente pelos alimentos em casa e pelos bens industriais, que mais do que compensaram a surpresa positiva nos serviços.

Para a XP Investimentos, os sinais deste mês para o Banco Central foram neutros e as projeções para o IPCA em 2023 foram mantidas em 4,8%”.

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