Bloomberg — À medida que outra temporada de balanços trimestrais nos Estados Unidos entra em sua reta final, uma coisa está clara: a tão esperada recuperação das empresas que ficaram de fora do frenesi da inteligência artificial (IA) finalmente começou.
Durante vários trimestres, o crescimento dos lucros das sete maiores empresas de tecnologia impulsionou os ganhos do S&P 500.
Isso, contudo, está prestes a mudar, já que o restante das ações do índice, excluindo as chamadas “Sete Magníficas”, caminha para apresentar seu primeiro crescimento de lucros desde o quarto trimestre de 2022, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence.
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“Essa força mais ampla dos lucros é positiva, pois oferece aos gestores mais oportunidades além de apenas algumas ações e proporciona um mercado mais equilibrado”, disse Keith Lerner, codiretor de investimentos da Truist Advisory Services.
Embora mais de 80% dos membros do S&P 500 já tenham divulgado seus balanços, os principais indicadores da saúde dos consumidores dos EUA – como a Home Depot, o Walmart e a Target – ainda não anunciaram seus números trimestrais.
Os dados serão observadas de perto, já que os traders continuam preocupados com a possibilidade de uma desaceleração econômica.
Além disso, a Nvidia (NVDA), que é a ação mais importante para os investidores interessados em inteligência artificial, deve divulgar seus resultados no final deste mês.
Confira a seguir alguns dos destaques da temporada de balanços até agora:
Crescimento na lupa
Até o momento, foi observada uma desaceleração no crescimento dos lucros das empresas de grande valor de mercado, à medida que os nomes menores começaram a se destacar.
Os dados da Bloomberg Intelligence mostram que os lucros das empresas do S&P 500, excluindo as Sete Magníficas, devem crescer 7,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, após cinco trimestres consecutivos de queda.
Os lucros do grupo de big techs – Apple (AAPL), Microsoft (MSFT), Alphabet (GOOGL), Amazon (AMZN), Meta (META), Tesla (TSLA) e Nvidia (NVDA) – devem aumentar 35%.
É um ritmo acelerado, mas que representa uma forte desaceleração em relação aos ganhos ainda maiores do ano passado.
A força dos lucros que se espalha pelo mercado de forma geral pode adicionar mais combustível ao que já foi uma rotação drástica das ações de grande capitalização para empresas menores e mais “atrasadas” do mercado.
Essa mudança na estratégia dos investidores foi provocada inicialmente por um dado abaixo do esperado da inflação dos EUA em julho.
Entusiasmo com a IA abalado
A grande decepção veio justamente do setor em que as expectativas e os valuations das ações estavam em alta.
Até o momento, os resultados das principais empresas do setor de inteligência artificial (IA) têm sido, na melhor das hipóteses, mornos, ampliando a preocupação de que os retornos de bilhões de dólares em investimentos em IA talvez não venham tão cedo.
A Amazon, a Microsoft e a Alphabet decepcionaram, uma vez que seus guidances (projeções) não atenderam às expectativas ou não foram muito específicos.
“O risco é que, como não houve esse aumento nas receitas, as empresas estão ficando um pouco ansiosas e podem reduzir os projetos (ou) gastos com IA”, disse Michael Casper, estrategista da Bloomberg Intelligence.
A Meta, controladora do Facebook, contrariou a tendência, citando a força da IA, já que sua receita no segundo trimestre superou as expectativas.
A Apple também disse que os novos recursos de IA estimularão as atualizações do iPhone nos próximos meses, ajudando-a a se recuperar de uma desaceleração nas vendas. A Nvidia, a maior beneficiária dos gastos com IA, divulgará seu balanço em 28 de agosto.
Falta de receita
Embora os lucros tenham sido um ponto positivo, as perdas de receita foram mais frequentes desta vez, chamando a atenção de analistas do mercado.
As empresas relataram receitas abaixo do esperado em 21% das vezes, em comparação com 20% há um ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence.
Melhora nas perspectivas
De forma geral, os executivos expressaram otimismo com relação aos lucros futuros, com os dados da BI apresentando uma tendência positiva para o terceiro trimestre.
De fato, espera-se que o indicador do impulso de guidance de lucros – derivado em parte da proporção de aumento versus redução de guidance – seja positivo no período de julho a setembro pela primeira vez desde 2021.
Os dados do Bank of America (BAC) mostraram a mesma tendência. O estrategista Subramanian observou que as estimativas médias dos analistas para 2024 e 2025 estão se mantendo. “Isso sugere que os analistas estão relativamente confortáveis com suas estimativas”, disse ela.
Maior volatilidade
Esta foi uma temporada de balanços volátil para os preços das ações. Tanto as notícias positivas quanto negativas foram recebidas com reações intensas das ações.
Dados do Citi (C) mostram que a média das empresas do S&P 500 que divulgaram lucros do segundo trimestre avançou 4,9% em qualquer direção no dia do anúncio. O percentual está bem acima da média histórica de 3,3%.
Além disso, os movimentos no dia do lucro em apenas uma direção – para cima ou para baixo – também foram os maiores em 12 anos, segundo os dados.
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