Ações do Brasil e de outros emergentes começam a receber fluxo da renda fixa

Índices de ações têm superado os títulos em moeda local desde o início de julho, à medida em que emergentes começam ciclo de cortes de juros

investidores em mercados emergentes estão migrando para ações em vez de títulos, preparando-se para um mundo pós aperto monetário
Por Srinivasan Sivabalan
07 de Agosto, 2023 | 07:12 PM

Bloomberg Línea — Investidores em mercados emergentes estão migrando seus recursos para ações em vez de títulos, preparando-se para um mundo pós-aperto monetário. Há sinais iniciais de uma rotação em andamento, com os índices de ações superando os títulos em moeda local desde o início de julho.

E os traders já começam a acompanhar essa alta: segundo o Bank of America, as ações de mercados emergentes receberam US$ 4,1 bilhões na semana até 2 de agosto, aumentando os fluxos positivos das três semanas anteriores.

Tudo isso aponta para a evidência de que os títulos em moeda local, que têm sido o destaque nas negociações nos mercados emergentes neste ano, estão enfrentando uma competição mais acirrada das ações. Enquanto investidores incluindo o Julius Baer e a gestora Legacy Capital argumentam que ainda há dinheiro a ser feito nos mercados de dívida, os maiores ganhos virão das ações.

O cenário macroeconômico também favorece os países em desenvolvimento.

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Prevê-se que as economias emergentes cresçam quase três pontos percentuais mais rápido do que as nações avançadas nos próximos três anos, lideradas pela China, embora em um ritmo mais lento, e pela Índia. Os analistas elevaram suas previsões para os lucros em julho no ritmo mais rápido em 18 meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

“Os principais impulsionadores do desempenho das ações serão um ambiente macro benigno, especialmente em países como Índia, Indonésia e Brasil, juntamente com um forte crescimento dos lucros impulsionado pela força no consumo e nos investimentos”, disse Ashish Chugh, gestor de investimentos na Loomis Sayles & Co. em Boston.

O índice MSCI Emerging Markets subiu quase 6% no mês passado, o melhor desempenho desde janeiro. Em contraste, os índices de dívida de mercados emergentes em dólar e moeda local ganharam menos de 2%. O indicador de ações teve pouca variação na segunda-feira.

Os ativos de mercados emergentes viram um aumento de 5,5% nos fluxos de capital em julho, o maior desde novembro. Investidores em fundos negociados em bolsa dos EUA injetaram um líquido de US$ 2,61 bilhões em ETFs de ações de mercados emergentes nas últimas quatro semanas, enquanto alocaram apenas US$ 269 milhões em equivalentes de títulos.

Isso pode ser apenas o começo, porque um desinvestimento de US$ 5,7 trilhões no ano passado deixou as ações de mercados emergentes com pouca propriedade por parte de investidores globais, em cerca de US$ 600 bilhões, de acordo com a GW&K Investment Management. Enquanto isso, os gerentes de fundos nos EUA mantêm cerca de US$ 2,5 trilhões em dinheiro. A confiança na recuperação econômica está trazendo parte desse capital de volta para as ações de países em desenvolvimento.

“Se realmente tivermos atingido o pico das taxas de juros nos EUA, então as ações nas partes menores e mais prejudicadas dos mercados emergentes devem se sair bem, já que o capital estrangeiro revisita esses países — exemplos são Egito, Nigéria, Paquistão e Turquia”, disse Hasnain Malik, estrategista da Tellimer em Dubai. “Se virmos um pouso suave nos EUA, isso favorece os maiores mercados emergentes, como China, Taiwan e Coreia do Sul, devido à sua dependência dos setores de manufatura e exportação”.

Em alguns mercados emergentes, os investidores são atraídos pelas ações porque oferecem retornos potenciais muito superiores aos dos títulos. Por exemplo, o índice CSI 300 da China é negociado com um rendimento de lucros - lucros projetados expressos como porcentagem do preço das ações - de 8,6%.

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Os títulos chineses oferecem 2,6%. Essa diferença dobrou nos últimos dois anos. Mesmo com a China enfrentando ventos contrários, com dados sinalizando sinais de alerta em toda a economia, alguns investidores não se intimidam.

“Metade da nossa carteira está na China”, disse Nuno Fernandes, um gerente de investimentos baseado em Nova York na GW&K Investment Management. “A Índia é o segundo país mais importante para nós. As altas avaliações lá nos impedem de possuir mais, mas nossa esperança é que a Índia fique um pouco para trás e essa será nossa oportunidade”.

Os investidores gostam especialmente das ações da América Latina, algumas das quais estão baratas e se beneficiando do afrouxamento monetário.

O índice de referência do Brasil é negociado com um desconto de 25% em relação à sua avaliação média dos últimos 10 anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, e os formuladores de políticas acabaram de anunciar um corte na taxa de juros maior do que o previsto. As ações do Chile oferecem um desconto de 27% e até superaram o Brasil na redução da taxa de juros.

A Legacy Capital, que administra 28 bilhões de reais (582 milhões de dólares), reduziu algumas posições de renda fixa no Chile e começou a construir posições otimistas em ações brasileiras. O Bank Julius Baer favorece ações em ambos esses países em relação ao México.

“Vemos um potencial de desempenho superior para as ações da América Latina que se beneficiam de um dólar mais fraco, cortes nas taxas de juros e uma melhora no sentimento em relação à China”, disse Nenad Dinic, estrategista de ações do Julius Baer em Zurique.

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