Abrdn prefere dívida do Brasil na América Latina e vê chance de juro a 8%

Gestora global está ‘comprada’ em Brasil e vê inflação em queda, o que pode levar Selic a patamar neutro em 2024, diz gestor de dívida local para emergentes à Bloomberg News

The abrdn Plc office at St Andrew Square in Edinburgh, U.K. on Thursday, Nov. 11, 2021. Abrdn is in talks to purchase investment platform Interactive Investor Ltd., according to a statement from the money manager. Photographer: Jonne Roriz/Bloomberg
Por Felipe Saturnino
11 de Outubro, 2023 | 01:12 PM

Bloomberg — A gestora global abrdn avalia que os títulos de dívida em moeda local do Brasil oferecem o risco-retorno mais atrativo na América Latina e está confortável em manter a posição “overweight” — alocação acima da média do índice de referência — nos papéis do país.

A visão se mantém mesmo depois do recente avanço das taxas globais, pressionadas pelo avanço do rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que passaram a indicar que o aperto monetário do Fed poderá ser maior e mais longo do que se previa.

“Estamos comprados em Brasil já há algum tempo, e estou bem relaxado sobre manter essa posição”, disse Kieran Curtis, responsável pela gestão de dívida local para emergentes na abrdn, em entrevista à Bloomberg News.

“E por que gostamos do Brasil? É bem simples: a inflação está em queda e os juros seguem muito altos.” Além disso, segundo ele, parece haver disposição do governo e do Congresso para resolver a situação fiscal.

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Curtis disse que o único ajuste foi um aumento das posições de hedges em dólar para proteger o portfólio de dívida local de emergentes depois da aversão ao risco causada pelo selloff dos Treasuries.

A gestora também não alterou exposição à dívida de nações latino-americanas mesmo em meio ao início do conflito entre Israel e Hamas, que chegou a pesar sobre o preço dos petróleo e momentaneamente sobre as bolsas.

Selic terminal mais baixa

Curtis disse que a dinâmica dos núcleos inflacionários — grupos que excluem itens mais voláteis, como energia e alimentos — é a mais relevante para determinar o ciclo de cortes de juros na América Latina.

Dada a desinflação observada no Brasil, ele apontou que o mercado de juros brasileiro exagerou na precificação da taxa Selic ao final do processo de flexibilização monetária, que foi acima dos 10% nos últimos pregões com a forte alta recente dos rendimentos dos Treasuries americanos.

Segundo ele, a taxa básica pode cair aos 8% ao ano neste ciclo de redução de juros — um nível que ele enxerga como consistente com a estimativa de um juro real neutro de cerca de 5% e uma meta de inflação de 3%.

“Esse é o tipo de número que enxergamos para o juro de equilíbrio de longo prazo no Brasil, e está bem abaixo do precificado no mercado”, disse Curtis. “O que está no preço hoje no mercado é bem maior do que o juro a que vamos chegar.”

América Latina

A abrdn tem um “pequeno overweight” no México, por avaliar que a economia permanece muito forte com a transferência de indústrias para o país, processo conhecido como nearshoring, e a ligação com os EUA, enquanto a desinflação em curso deve permitir um corte de juros mais à frente.

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Já no Chile, a gestora está “underweight” — alocação abaixo da média do índice —, ao avaliar que o diferencial de juros com os EUA corre o risco de ficar muito pequeno e enfraquecer o peso chileno ainda mais, caso o banco central chileno leve a taxa básica para o patamar precificado pela curva do país.

No mundo, a abdrn tinha cerca de US$ 610 bilhões em ativos sob gestão ao fim de junho, segundo dados do site da gestora.

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