Bloomberg — A gestora global abrdn avalia que os títulos de dívida em moeda local do Brasil oferecem o risco-retorno mais atrativo na América Latina e está confortável em manter a posição “overweight” — alocação acima da média do índice de referência — nos papéis do país.
A visão se mantém mesmo depois do recente avanço das taxas globais, pressionadas pelo avanço do rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que passaram a indicar que o aperto monetário do Fed poderá ser maior e mais longo do que se previa.
“Estamos comprados em Brasil já há algum tempo, e estou bem relaxado sobre manter essa posição”, disse Kieran Curtis, responsável pela gestão de dívida local para emergentes na abrdn, em entrevista à Bloomberg News.
“E por que gostamos do Brasil? É bem simples: a inflação está em queda e os juros seguem muito altos.” Além disso, segundo ele, parece haver disposição do governo e do Congresso para resolver a situação fiscal.
Curtis disse que o único ajuste foi um aumento das posições de hedges em dólar para proteger o portfólio de dívida local de emergentes depois da aversão ao risco causada pelo selloff dos Treasuries.
A gestora também não alterou exposição à dívida de nações latino-americanas mesmo em meio ao início do conflito entre Israel e Hamas, que chegou a pesar sobre o preço dos petróleo e momentaneamente sobre as bolsas.
Selic terminal mais baixa
Curtis disse que a dinâmica dos núcleos inflacionários — grupos que excluem itens mais voláteis, como energia e alimentos — é a mais relevante para determinar o ciclo de cortes de juros na América Latina.
Dada a desinflação observada no Brasil, ele apontou que o mercado de juros brasileiro exagerou na precificação da taxa Selic ao final do processo de flexibilização monetária, que foi acima dos 10% nos últimos pregões com a forte alta recente dos rendimentos dos Treasuries americanos.
Segundo ele, a taxa básica pode cair aos 8% ao ano neste ciclo de redução de juros — um nível que ele enxerga como consistente com a estimativa de um juro real neutro de cerca de 5% e uma meta de inflação de 3%.
“Esse é o tipo de número que enxergamos para o juro de equilíbrio de longo prazo no Brasil, e está bem abaixo do precificado no mercado”, disse Curtis. “O que está no preço hoje no mercado é bem maior do que o juro a que vamos chegar.”
América Latina
A abrdn tem um “pequeno overweight” no México, por avaliar que a economia permanece muito forte com a transferência de indústrias para o país, processo conhecido como nearshoring, e a ligação com os EUA, enquanto a desinflação em curso deve permitir um corte de juros mais à frente.
Já no Chile, a gestora está “underweight” — alocação abaixo da média do índice —, ao avaliar que o diferencial de juros com os EUA corre o risco de ficar muito pequeno e enfraquecer o peso chileno ainda mais, caso o banco central chileno leve a taxa básica para o patamar precificado pela curva do país.
No mundo, a abdrn tinha cerca de US$ 610 bilhões em ativos sob gestão ao fim de junho, segundo dados do site da gestora.
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