Fim de uma era: último juro negativo do mundo pode estar com os dias contados

Banco do Japão mantém juros básicos da economia a -0,1% para incentivar ao máximo o consumo, na direção oposta do mundo. Perspectivas, porém, começam a mudar

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Bloomberg — A era dos juros negativos está próxima do fim, e isso pode impactar a liquidez dos mercados no mundo todo.

O Japão, principal comprador dos Treasuries americanos, dono da segunda moeda mais importante na cesta que baliza o dólar no mercado de câmbio internacional e importante referência para o carry trade em mercados emergentes, deve elevar sua taxa básica do atual -0,1% até o final de janeiro, segundo uma virada brusca nas apostas no mercado de swaps.

Os contratos antes mostravam uma mudança só em setembro de 2024.

Com rendimentos mais atrativos em casa, investidores japoneses podem repatriar volumes enormes de dinheiro e enxugar a liquidez de outros mercados. A Evarich Asset Management disse que as ações dos bancos japoneses poderão dobrar de valor nos próximos 18 meses com o aumento da margem financeira.

Uma guinada do Banco do Japão pode desencadear um efeito dominó em várias estratégias de investimento nos mercados globais. Os japoneses injetaram trilhões de dólares em outras partes do mundo nos últimos anos para fugir dos rendimentos negativos.

“Não há dúvida de que o mercado de taxas de curto prazo está tentando precificar o fim dos juros negativas no próximo ano, e isso provavelmente continuará pelo menos até virmos os comentários do presidente Ueda na próxima semana”, disse Takeshi Minami, economista-chefe do Norinchukin Research Institute, em Tóquio.

O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, atiçou as especulações quando disse que acabar com os juros negativos está entre as opções disponíveis se a autoridade ficar confiante de que os preços e salários continuarão a subir de forma sustentável.

Ao contrário do resto do mundo, o BC do Japão quer garantir que os preços subam de forma sustentável para evitar deflação em uma economia em que a população poupa muito e tem uma gama enorme de produtos industrializados à disposição, com muita concorrência, além de poder de compra alto para importar o que não produz.

A próximo decisão de política monetária do Banco do Japão será divulgada em 22 de setembro.

Os rendimentos dos títulos do governo japonês de cinco anos subiram para o nível mais alto desde janeiro depois dos comentários de Ueda no fim de semana. Uma medida importante de inflação já se manteve acima da meta de 2% do Banco do Japão nos 16 meses até julho, e os juros reais negativos permanecem perto da mínima histórica.

O iene chegou a se apreciar mais de 1% frente ao dólar na segunda-feira. O rendimento de referência de 10 anos subiu para 0,705%, o nível mais alto desde 2014.

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