Yunus, banqueiro que ganhou Nobel da Paz, é a nova esperança para estabilizar seu país

Muhammad Yunus, que recebeu a premiação em 2006 pelo trabalho para aliviar a pobreza por meio do microcrédito, foi nomeado chefe de um novo governo interino de Bangladesh

Por

Bloomberg — Bangladesh depositou suas esperanças em um de seus intelectuais mais aclamados para trazer estabilidade a um país marcado por golpes de Estado e convulsões políticas.

Muhammad Yunus, cujo trabalho para aliviar a pobreza lhe rendeu um Prêmio Nobel da Paz, foi nomeado chefe de um novo governo interino na terça-feira (6), após a repentina destituição de Sheikh Hasina como primeira-ministra nesta semana.

Embora ele tenha se mantido afastado da política, Yunus é um dos rostos mais famosos de Bangladesh e tem uma influência considerável junto às elites ocidentais.

Restaurar a normalidade em Bangladesh não será uma tarefa fácil para Yunus. Nas últimas semanas, os confrontos entre manifestantes e forças de segurança custaram a vida de mais de 300 pessoas, um dos piores surtos de violência na história do país do sul da Ásia.

E, embora Hasina tenha tirado milhões de pessoas da pobreza por meio das exportações de vestuário, o crescimento econômico de Bangladesh estagnou recentemente, levando o governo a recorrer a um empréstimo emergencial do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Leia também: Risco de recessão nos EUA sobe para 25%, segundo economistas do Goldman

A nomeação de Yunus, apoiada por militares, para liderar temporariamente Bangladesh é uma reviravolta notável para o economista. Nos últimos dois anos, Yunus passou grande parte de seu tempo nos tribunais de Daca, lutando contra cerca de 200 acusações contra ele e seus associados, incluindo alegações de lavagem de dinheiro e corrupção.

Ele e seus apoiadores dizem que o governo de Hasina estava por trás da pressão legal e talvez o visse como uma ameaça ao seu poder. Ela negou essas acusações.

Quem é Muhammad Yunus, vencedor do Nobel da Paz

Yunus, de 84 anos, é mais conhecido por fundar o Grameen Bank e ser o pioneiro do microcrédito — oferecendo pequenos empréstimos comerciais às pessoas mais pobres do mundo, a maioria delas mulheres.

Embora ele tenha passado grande parte de sua vida sob os olhos do público, a política é um terreno amplamente inexplorado. Em 2007, o governo de Bangladesh se dividiu e os militares tomaram o poder.

Yunus, que nunca havia concorrido a um cargo público, pensou em formar um novo partido para preencher o vácuo, mas acabou desistindo da ideia em poucas semanas.

"Sinto-me muito desconfortável com a política", disse ele em uma entrevista no início deste ano.

Yunus traz o poder do estrelato para o cargo e é uma escolha popular entre muitos governos ocidentais. Seus apoiadores abrangem setores e continentes. Ao longo dos anos, ele cultivou amizades com a realeza europeia, titãs dos negócios como Richard Branson e os Clintons, que ajudaram Yunus a expandir suas iniciativas de microcrédito para os Estados Unidos.

Seus amigos dizem que ele é um visionário raro, com um compromisso genuíno com Bangladesh e com a elevação dos pobres.

"Ele é a voz das pessoas que ficaram para trás", disse Paul Polman, ex-diretor executivo da Unilever Plc e amigo íntimo. "Ele é um líder moral. Não é alguém que gosta de falar de si mesmo. Ele gosta de falar sobre as pessoas a quem serve."

Essa reputação o tornou querido por muitos em Bangladesh, inclusive pelos militares, que anteriormente haviam apoiado sua primeira incursão na política. Após ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 2006, milhares de pessoas lotaram os locais só para ouvi-lo falar.

Muitos ainda se curvam e tocam seus corações quando o veem. Na última década, Yunus concentrou-se na expansão de dezenas de empresas sociais, incluindo aquelas que oferecem assistência médica gratuita, treinamento vocacional e serviços telefônicos aos bengaleses mais pobres.

Ainda não se sabe se Yunus vai se dedicar mais deliberadamente à política - ou simplesmente preencher uma lacuna antes da realização das eleições. Quando os manifestantes invadiram as ruas de Daca nas últimas semanas, Yunus se manifestou publicamente contra a violência e caracterizou a repressão de Hasina como uma ameaça à democracia, mas não mencionou a ambição de assumir um papel mais formal na formação de um novo governo.

"Não sou um político", disse ele em uma entrevista no início deste ano. "Esta é a última coisa que farei".

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Como o Japão se transformou no centro das preocupações dos investidores globais