Yunus, banqueiro que ganhou Nobel da Paz, é a nova esperança para estabilizar seu país

Muhammad Yunus, que recebeu a premiação em 2006 pelo trabalho para aliviar a pobreza por meio do microcrédito, foi nomeado chefe de um novo governo interino de Bangladesh

Yunus é conhecido por fundar o Grameen Bank e ser o pioneiro do microcrédito, oferecendo pequenos empréstimos às pessoas mais pobres do mundo, a maioria delas mulheres
Por Kai Schultz
07 de Agosto, 2024 | 02:37 PM

Bloomberg — Bangladesh depositou suas esperanças em um de seus intelectuais mais aclamados para trazer estabilidade a um país marcado por golpes de Estado e convulsões políticas.

Muhammad Yunus, cujo trabalho para aliviar a pobreza lhe rendeu um Prêmio Nobel da Paz, foi nomeado chefe de um novo governo interino na terça-feira (6), após a repentina destituição de Sheikh Hasina como primeira-ministra nesta semana.

Embora ele tenha se mantido afastado da política, Yunus é um dos rostos mais famosos de Bangladesh e tem uma influência considerável junto às elites ocidentais.

Restaurar a normalidade em Bangladesh não será uma tarefa fácil para Yunus. Nas últimas semanas, os confrontos entre manifestantes e forças de segurança custaram a vida de mais de 300 pessoas, um dos piores surtos de violência na história do país do sul da Ásia.

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E, embora Hasina tenha tirado milhões de pessoas da pobreza por meio das exportações de vestuário, o crescimento econômico de Bangladesh estagnou recentemente, levando o governo a recorrer a um empréstimo emergencial do Fundo Monetário Internacional (FMI).

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A nomeação de Yunus, apoiada por militares, para liderar temporariamente Bangladesh é uma reviravolta notável para o economista. Nos últimos dois anos, Yunus passou grande parte de seu tempo nos tribunais de Daca, lutando contra cerca de 200 acusações contra ele e seus associados, incluindo alegações de lavagem de dinheiro e corrupção.

Ele e seus apoiadores dizem que o governo de Hasina estava por trás da pressão legal e talvez o visse como uma ameaça ao seu poder. Ela negou essas acusações.

Quem é Muhammad Yunus, vencedor do Nobel da Paz

Yunus, de 84 anos, é mais conhecido por fundar o Grameen Bank e ser o pioneiro do microcrédito — oferecendo pequenos empréstimos comerciais às pessoas mais pobres do mundo, a maioria delas mulheres.

Embora ele tenha passado grande parte de sua vida sob os olhos do público, a política é um terreno amplamente inexplorado. Em 2007, o governo de Bangladesh se dividiu e os militares tomaram o poder.

Yunus, que nunca havia concorrido a um cargo público, pensou em formar um novo partido para preencher o vácuo, mas acabou desistindo da ideia em poucas semanas.

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"Sinto-me muito desconfortável com a política", disse ele em uma entrevista no início deste ano.

Yunus traz o poder do estrelato para o cargo e é uma escolha popular entre muitos governos ocidentais. Seus apoiadores abrangem setores e continentes. Ao longo dos anos, ele cultivou amizades com a realeza europeia, titãs dos negócios como Richard Branson e os Clintons, que ajudaram Yunus a expandir suas iniciativas de microcrédito para os Estados Unidos.

Seus amigos dizem que ele é um visionário raro, com um compromisso genuíno com Bangladesh e com a elevação dos pobres.

"Ele é a voz das pessoas que ficaram para trás", disse Paul Polman, ex-diretor executivo da Unilever Plc e amigo íntimo. "Ele é um líder moral. Não é alguém que gosta de falar de si mesmo. Ele gosta de falar sobre as pessoas a quem serve."

Essa reputação o tornou querido por muitos em Bangladesh, inclusive pelos militares, que anteriormente haviam apoiado sua primeira incursão na política. Após ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 2006, milhares de pessoas lotaram os locais só para ouvi-lo falar.

Muitos ainda se curvam e tocam seus corações quando o veem. Na última década, Yunus concentrou-se na expansão de dezenas de empresas sociais, incluindo aquelas que oferecem assistência médica gratuita, treinamento vocacional e serviços telefônicos aos bengaleses mais pobres.

Ainda não se sabe se Yunus vai se dedicar mais deliberadamente à política - ou simplesmente preencher uma lacuna antes da realização das eleições. Quando os manifestantes invadiram as ruas de Daca nas últimas semanas, Yunus se manifestou publicamente contra a violência e caracterizou a repressão de Hasina como uma ameaça à democracia, mas não mencionou a ambição de assumir um papel mais formal na formação de um novo governo.

"Não sou um político", disse ele em uma entrevista no início deste ano. "Esta é a última coisa que farei".

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