Bloomberg — O Uruguai elegeu Yamandu Orsi, do partido de oposição de esquerda, para se tornar o próximo presidente do país, em mais uma amostra da tendência anti-incumbente na América Latina, dado que as preocupações dos eleitores com a desigualdade e a segurança estimularam a mudança.
O presidente Luis Lacalle Pou telefonou para Orsi para parabenizá-lo pela vitória no segundo turno na noite de domingo (24), momentos antes de o candidato Alvaro Delgado ter assumido a derrota e que a contagem oficial fosse finalizada.
Os resultados preliminares do Tribunal Eleitoral do Uruguai mostraram que Orsi venceu com 49,8% dos votos, contra 45,9% de Delgado, com mais de 98% das seções eleitorais apuradas até as 23h no horário local.
“Serei um presidente que criará uma sociedade e um país mais integrados, em que ninguém será deixado para trás do ponto de vista econômico, social e político”, disse Orsi diante de apoiadores reunidos em um comício pela vitória na capital Montevidéu, agitando bandeiras e comemorando.
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O Uruguai é o mais recente país a não conceder um novo mandato a um partido e a um presidente no exercício do poder neste ano.
Orsi aproveitou com sucesso a angústia des eleitores em relação à criminalidade violenta persistentemente alta e a uma recuperação econômica que deixou milhares de pessoas para trás.
No entanto, a nação sul-americana, famosa por sua estabilidade política em uma região volátil, não se voltará para uma mudança ideológica acentuada, como visto no Brasil, na Colômbia, na Argentina e até nos Estados Unidos - fora da América Latina.
Oposição, mas com segurança
Orsi, 57 anos, se apresentou como o candidato da “mudança segura”, enquanto Delgado fez campanha com o slogan “reeleger um bom governo”, em referência às políticas de combate à pandemia de covid e ao crescimento do emprego durante o governo de Lacalle Pou.
Ambos concorreram como candidatos convencionais previsíveis, em vez de outsiders perturbadores.
Os uruguaios haviam rejeitado no mesmo dia do primeiro turno uma proposta de desmantelamento do sistema de pensões de US$ 23 bilhões do país, o que deixou uma parte dos investidores preocupada com a reputação de porto seguro do país.
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O Uruguai elege um novo congresso e um novo presidente a cada cinco anos, sem eleições de meio de mandato.
A Frente Ampla, de oposição, também conquistou o controle do Senado, com 30 membros, e 48 das 99 cadeiras da Câmara dos Deputados nas eleições gerais de 27 de outubro. Orsi liderará o quarto governo da Frente Ampla no Uruguai quando iniciar seu mandato de cinco anos em 1º de março de 2025.
Orsi herdará uma economia que, segundo o banco central, crescerá 3,5% até 2025, com uma taxa de desemprego que caiu para 7,3% em outubro, o nível mais baixo em três anos.
A política monetária rígida domou anos de inflação alta, com os preços ao consumidor se mantendo dentro da meta de 3% a 6% do banco central por 17 meses consecutivos.
Mesmo assim, o presidente eleito enfrentará um primeiro ano desafiador, com a necessidade de redução do déficit e um resgate do sistema de aposentadoria que atende aos profissionais qualificados.
Orsi terá que se apoiar fortemente nas habilidades de negociação que aperfeiçoou como governador para convencer dois legisladores de partidos rivais da Câmara Baixa a apoiar sua agenda legislativa.
O plano de Orsi para impulsionar o crescimento, que foi em média de 1% na última década, inclui uma combinação de incentivos fiscais para promover o investimento e a política industrial e para apoiar a agricultura, a alta tecnologia e a manufatura.
Redução de idade da aposentadoria
Ele também quer reduzir a idade mínima de aposentadoria de 65 para 60 anos e examinar as comissões cobradas pelos fundos de pensão privados como parte de uma reforma mais ampla do sistema de seguridade social. Orsi prometeu não abolir os fundos de pensão.
O ex-professor de história escolheu o respeitado economista Gabriel Oddone para ser seu ministro da Fazenda.
Os títulos soberanos em dólar do Uruguai perderam quase 0,6% até agora neste ano, em comparação com um ganho de 12,7% para a dívida soberana da América Latina, de acordo com o índice Bloomberg EM USD Sovereign. O peso teve um desempenho melhor do que a maioria de seus pares regionais, com perda de valor de “apenas” 8,8% em relação ao dólar neste ano.
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