Xi busca se aproximar da União Europeia para fazer frente a tarifas de Trump

Presidente chinês tem buscado reparar as relações com a Europa e posicionar a China como um parceiro mais confiável

Trump corroeu a aliança ocidental ao impor à Europa uma tarifa de 20%
Por Bloomberg News
24 de Abril, 2025 | 03:22 PM

Bloomberg — O presidente chinês Xi Jinping busca reparar os laços com a União Europeia, apresentando a China como o parceiro mais confiável, enquanto o presidente americano Donald Trump afasta o bloco em questões que vão de tarifas à defesa.

Diante do que, na prática, é um embargo comercial dos Estados Unidos à China, os dirigentes do banco central e líderes empresariais chineses buscam novos mercados na Europa e outros locais.

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Para ajudar a suavizar esses laços, Xi se prepara para suspender as sanções contra vários parlamentares da UE, de acordo com uma autoridade europeia ouvida pela Bloomberg News — um gesto amplamente simbólico de boa vontade, já que as medidas tiveram pouco impacto.

“Como as principais economias do mundo, China e Europa protegerão conjuntamente o sistema multilateral de comércio”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado nesta quinta-feira (24).

O ministério acrescentou que receberia com satisfação mais parlamentares europeus para visitar a China, sem abordar os relatos sobre a suspensão das sanções.

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Embora os líderes na Europa permaneçam contrários ao apoio de Pequim ao presidente russo, Vladimir Putin, eles demonstraram disposição de avançar em algumas questões.

Autoridades da UE consideram cotas de preço mínimo para carros elétricos chineses, em vez de tarifas de até 45,3% impostas no ano passado devido a reclamações sobre o excesso de exportações.

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Tal medida ajudaria a pôr fim a uma longa disputa que levou Pequim a impor taxas retaliatórias ao conhaque francês. A conclusão desse processo também foi adiada por três meses, aliviando a pressão sobre os produtores.

No Salão do Automóvel de Xangai desta semana, executivos chineses apresentaram seus planos de investimento na Europa, enquanto exportadores de todo o país se retiram dos mercados americanos.

Alguns colegas europeus pediram uma abordagem mais pragmática para a resolução de disputas e pediram que se prossiga com uma colaboração mais estreita.

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“Pequim gostaria idealmente de afastar a Europa dos EUA e essencialmente torná-la uma espécie de escudo natural para as ambições da China”, disse Rana Mitter, titular da cátedra ST Lee em Relações EUA-Ásia na Harvard Kennedy School.

“Mas, embora a UE possa estar cautelosa com os Estados Unidos, não abandonará o mercado americano nem sua orientação tradicional em favor da China, que muitos consideram um parceiro comercial extremamente pouco confiável.”

Durante anos, a Europa serviu como um amortecedor entre as maiores economias do mundo, mas as atitudes do bloco em relação a Pequim azedaram depois que o surto de coronavírus alimentou uma série de disputas diplomáticas.

Isso fez com que os líderes europeus formassem uma voz amplamente unificada com Washington sobre “reduzir riscos” de sua economia em relação à China e em oposição a uma enxurrada de exportações baratas que ameaçavam empregos.

Trump corroeu essa aliança ao impor à Europa uma tarifa de 20% — agora reduzida para 10% por um período de 90 dias — e exigir que a UE pague por sua própria defesa, enquanto se aproxima de Putin.

Os líderes europeus fizeram pouco progresso na tentativa de superar as diferenças com Trump, apesar de a UE ter oferecido que ambos os lados removessem todas as tarifas sobre produtos industriais.

À medida que a divisão se aprofunda, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou a UE contra o estreitamento dos laços com Pequim, comparando tal estratégia a “cortar a própria garganta” quando o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, visitou Xi este mês, prometendo maior cooperação.

Refletindo o desejo da UE de reequilibrar os laços, os líderes europeus agora devem viajar a Pequim em julho para uma cúpula que deveria ser realizada em Bruxelas, visto que seu local é rotativo.

As autoridades decidiram quebrar o protocolo depois que Xi supostamente se recusou a viajar à Europa para as negociações, que normalmente contam com a presença do premiê no exterior.

Uma possível aspiração, caso a cúpula seja bem-sucedida, pode ser a retomada de um pacto de investimento que as autoridades passaram sete anos negociando, embora essa provavelmente seja uma meta de longo prazo.

O pacto foi cancelado por Bruxelas na última hora em 2021, após a China retaliar contra as sanções ocidentais relacionadas a práticas de direitos humanos na região de Xinjiang, anunciando medidas contra 10 indivíduos e quatro entidades da Europa.

“Se as sanções fossem suspensas por Pequim, acredito que haveria uma disposição para tentar ratificar o acordo e, assim, aumentar parcialmente o comércio com a China”, escreveu este mês Cecilia Malmström, ex-comissária europeia para o Comércio e agora pesquisadora visitante no Instituto Peterson de Economia Internacional.

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