União Europeia e Mercosul aparam arestas e acordo comercial avança

Presidente do Brasil e presidente da Comissão Europeia devem se encontrar nos próximos dias. Acordo criaria mercado de 780 milhões de consumidores

a
Por Jorge Valero - Daniel Carvalho - Manuela Tobías
30 de Novembro, 2023 | 12:35 PM

Bloomberg — A União Europeia e as maiores economias da América do Sul estão mais perto de concluir um importante acordo comercial que está sendo negociado há mais de duas décadas, com líderes de ambas as regiões otimistas de que possam fechar o acordo elusivo na próxima semana.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o líder do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, planejam se encontrar à margem da cúpula climática COP28 das Nações Unidas em Dubai para fazer um último impulso político para o acordo, disseram fontes familiarizadas com o assunto.

PUBLICIDADE

A reunião, que pode ocorrer no sábado, acontecerá em meio a avanços significativos nas negociações técnicas entre os dois lados, que os aproximaram de superar as diferenças ambientais que atrapalharam uma versão anterior nas últimas etapas, segundo as pessoas que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar publicamente.

O acordo entre a UE e o Mercosul - uma união aduaneira composta por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai - criaria um mercado integrado de 780 milhões de consumidores, tornando-se o maior acordo da história do bloco europeu e um dos maiores pactos de livre comércio do mundo.

Isso economizaria cerca de €4 bilhões (US$4,4 bilhões) em tarifas de importação para exportadores europeus, ao mesmo tempo que oferece conexões com fornecedores de materiais críticos para o desenvolvimento de tecnologias verdes e digitais.

PUBLICIDADE

Para a América do Sul, promete um impulso às indústrias em busca de acesso expandido aos mercados europeus e a um setor agrícola que já impulsiona o status da região como um dos principais exportadores de carne bovina, soja, café e outros produtos.

O acordo também aproximaria as duas regiões em meio a uma competição global mais ampla por influência, na qual China e Rússia procuraram expandir sua presença em nações ricas em recursos nas Américas.

Desafios ambientais

As negociações em curso estão levando o acordo de volta à conclusão, depois que os dois lados concluíram 20 anos de negociações técnicas em 2019. O pacto não chegou a ser finalizado, depois que alguns estados da UE levantaram preocupações sobre o aumento das taxas de desmatamento na Amazônia com o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

PUBLICIDADE

Essas demandas têm sido um desafio também para Lula, que chamou os termos ambientais da Europa de “ofensivos” e disse que qualquer acordo deve tratar a América do Sul “em pé de igualdade.”

Mas o líder de esquerda, que assumiu o cargo em janeiro, prometendo reunir um Mercosul dividido e conduzir o acordo até o fim, intensificou seus esforços nas últimas semanas, buscando concluí-lo antes do término do mandato do Brasil como presidente rotativo do bloco no início de dezembro.

Von der Leyen está em busca de sua própria vitória comercial após o colapso de um acordo com a Austrália e o fracasso de sua comissão em chegar a uma solução permanente para uma disputa sobre aço e alumínio com os Estados Unidos no mês passado.

PUBLICIDADE

Negociadores discutiram nos últimos meses um instrumento adicional para lidar com algumas das questões ambientais da Europa. Em troca, a UE considerou algumas demandas específicas do Mercosul, incluindo questões de aquisição governamental, à medida que o Brasil busca proteger o acesso das empresas domésticas a contratos públicos.

As negociações aconteceram pessoalmente e remotamente há poucos dias, e há uma forte vontade de concluir o acordo de ambos os lados, disseram diplomatas de cada região.

“Há pouquíssimas questões técnicas remanescentes”, disse Xiana Mendez, principal autoridade comercial da Espanha, durante uma coletiva de imprensa em Bruxelas na segunda-feira, acrescentando que “esforços importantes” foram feitos nas últimas semanas para chegar a uma conclusão.

As negociações estão avançadas o suficiente para que Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia para o comércio, esteja considerando uma viagem à cúpula do Mercosul em 7 de dezembro no Rio de Janeiro, disseram as pessoas.

“As negociações técnicas estão prontas para o impulso político final”, disse Dombrovskis durante a coletiva de imprensa com Mendez.

Detalhes finais

No entanto, os funcionários são cautelosos, pois as negociações entram em uma fase crítica com questões importantes ainda a serem resolvidas e com o receio de surpresas de última hora após tantos sustos.

A vitória do presidente eleito Javier Milei nas eleições da Argentina no início deste mês inicialmente levantou dúvidas sobre o futuro do acordo, depois que ele criticou o Mercosul durante a campanha. Mas a nova administração não vai atrapalhar o acordo e deseja ver uma conclusão “em breve, esperamos antes de 7 de dezembro”, disse a futura ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, à Bloomberg News na quarta-feira.

A Alemanha também está confiante de que uma solução pode ser alcançada e anunciada em breve, de acordo com as autoridades que falaram sob condição de anonimato.

Lula e o Chanceler alemão, Olaf Scholz, devem discutir o progresso atual na segunda-feira em Berlim, onde participarão de uma cúpula Brasil-Alemanha que incluirá uma reunião de gabinete conjunta e uma grande conferência empresarial, acrescentaram as autoridades.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Há demanda crescente do investidor por ativos em Brasil e México, diz BlackRock

Emergentes podem ser os novos desenvolvidos, diz head do Morgan Stanley para área