UE diz que tem ‘plano forte’ de retaliação para as tarifas recíprocas de Trump

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, diz que o bloco prefere uma solução negociada, mas que se necessário vai utilizar o plano que vai além de medidas tarifárias e inclui outras barreiras

Ursula von der Leyen, president of the European Commission, during a news conference following a special European Council meeting in Brussels, Belgium, on Thursday, March 6, 2025. European Union leaders urged a revolutionary change to rebuild military infrastructure after decades of neglect and create a brand new security architecture in order to counter Russia. Photographer: Simon Wohlfahrt/Bloomberg
Por Jorge Valero - Alberto Nardelli
01 de Abril, 2025 | 09:00 AM

Bloomberg — A União Europeia disse que usará uma ampla gama de opções para retaliar os Estados Unidos se o presidente Donald Trump levar adiante sua ameaça de impor as chamadas tarifas recíprocas ao bloco nesta semana.

“Não queremos necessariamente retaliar”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na terça-feira (1). “Se necessário, temos um forte plano de retaliação e o utilizaremos”.

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Os EUA pretendem impor tarifas abrangentes aos parceiros globais já na quarta-feira (2). Trump disse que as medidas retificarão as tarifas, bem como as barreiras não tarifárias que ele diz serem injustas, como regulamentações domésticas e como os países coletam impostos, incluindo o que existe sobre valor agregado da UE.

A UE afirma que seu IVA é um imposto justo e não discriminatório que se aplica igualmente a produtos nacionais e importados.

A França e outros países pediram que as autoridades comerciais considerassem a possibilidade de implantar o instrumento anti-coerção do bloco - uma ferramenta projetada para contra-atacar nações que usam medidas comerciais e econômicas de forma coercitiva.

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Tal medida poderia levar a restrições ao comércio e aos serviços, bem como a determinados direitos de propriedade intelectual, investimento estrangeiro direto e acesso a compras públicas, segundo informou a Bloomberg News anteriormente.

Von der Leyen disse que o objetivo é uma “solução negociada” quando as novas tarifas forem anunciadas. Espera-se que entrem em vigor em paralelo às tarifas adicionais de 25% sobre todos os carros importados pelos EUA e às de 25% sobre as importações de aço e alumínio de parceiros globais.

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A União Europeia já anunciou anteriormente que prepara contramedidas para até 26 bilhões de euros em produtos norte-americanos por causa das tarifas sobre os metais.

Von der Leyen mencionou que a força da Europa não está apenas no comércio mas também na tecnologia e destacou a relevância dos negócios europeus para as grandes empresas de tecnologia dos EUA, que a UE poderia atingir como parte das medidas de retaliação.

A Comissão Europeia poderia usar vários instrumentos legais para restringir o acesso a contratos governamentais ou a vendas de publicidade digital em um mercado que vale cerca de 100 bilhões de euros (US$ 108 bilhões).

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“A Europa tem muitas cartas na manga”, disse Von der Leyen. “Do comércio à tecnologia e ao tamanho do nosso mercado. Mas essa força também se baseia em nossa disposição de tomar contramedidas firmes. Todos os instrumentos estão sobre a mesa.”

A Bloomberg News informou anteriormente que a Comissão Europeia, o braço executivo da UE que lida com questões comerciais para o bloco, trabalha em um “termo de compromisso” para um possível acordo com os EUA após a entrada em vigor das novas tarifas.

O termo de compromisso estabeleceria áreas para negociações sobre tarifas, investimentos mútuos com os EUA, bem como a flexibilização de determinados regulamentos e padrões.

Mas chegar a uma posição comum com os 27 estados membros sobre as áreas de discussão com os EUA e possíveis concessões levará tempo, de acordo com uma pessoa familiarizada com as negociações.

Os ministros do comércio da UE se reunirão em 7 de abril em Luxemburgo para começar a discutir como reagir ao pacote tarifário de Trump e se preparar para as difíceis negociações.

Além das tarifas e dos impostos recíprocos sobre carros e algumas peças, Trump também anunciou outras tarifas setoriais sobre produtos como madeira, produtos farmacêuticos e semicondutores. Não está claro quando essas tarifas adicionais serão impostas.

O governo de Trump destacou as regulamentações da UE como um obstáculo para os exportadores dos EUA, como impostos digitais, requisitos ambientais ou o IVA, quando altos funcionários da UE se reuniram com seus homólogos em Washington nas últimas semanas para tentar evitar um confronto total.

Tarifas de Trump pesam mais sobre determinados setores do ponto de vista de índices de ações europeias desde o início de 2025

A UE havia oferecido ao governo dos EUA um acordo para reduzir as tarifas sobre produtos industriais, incluindo automóveis, juntamente com a possibilidade de aumentar as importações de produtos americanos, como soja e gás natural liquefeito.

Mas o chefe de Comércio da UE, Maros Sefcovic, que viajou para Washington na semana passada, até agora não conseguiu convencer os EUA a iniciar as negociações antes do anúncio de quarta-feira.

Trump disse que seu “muro tarifário” incentivaria os produtores estrangeiros - ou empresas americanas que operam no exterior - a construir instalações nos EUA e contratar trabalhadores americanos, em plano para reverter o esvaziamento da classe média do país. Além disso, a barragem tributária também pretende gerar receita para ajudar a pagar os cortes de impostos.

Mas autoridades e empresas da UE estão preocupadas com as consequências desse choque comercial para o relacionamento entre os dois aliados de longa data, quando ambos os parceiros enfrentam a ameaça da Rússia no flanco oriental da Europa e a China resiste a cumprir as regras do mercado aberto.

"Essa é a maior e mais próspera relação comercial do mundo", disse von der Leyen na terça-feira. "Todos nós estaríamos melhor se pudéssemos encontrar uma solução construtiva."

Como parte de sua resposta à ofensiva comercial dos EUA, a UE também quer avançar na diversificação de suas relações comerciais.

Além dos acordos em vigor com 76 países, a UE concluiu recentemente negociações com o bloco do Mercosul, além de México e Suíça, e pretende finalizar um acordo com a Índia até o fim do ano.

“Nossa mensagem é clara: a Europa é confiável, previsível e aberta para negócios justos”, disse Von der Leyen.

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