UE anuncia tarifas sobre produtos dos EUA em € 26 bi em retaliação a Trump

Medida tem como alvo produtos de aço e alumínio americanos, bem como têxteis e produtos agrícolas, e é anunciada horas depois de início de aplicação de taxas americanas sobre tais metais

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Bloomberg — A União Europeia (UE) anunciou medidas de retaliação nesta manhã de quarta-feira (12) em reação contra as novas tarifas do Estados Unidos de Donald Trump sobre o aço e o alumínio: vai impor suas próprias taxas comerciais sobre o equivalente a 26 bilhões de euros (US$ 28,3 bilhões) em produtos americanos.

O anúncio foi feito horas depois que entraram em vigor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, em uma escaladada guerra comercial entre dois aliados de longa data.

A UE iniciará imediatamente as consultas com os Estados membros do bloco, com a adoção das tarifas prevista para meados de abril.

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“As contramedidas que tomamos hoje são fortes, porém proporcionais”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a repórteres em uma reunião em Estrasburgo, na França.

"Acreditamos firmemente que, em um mundo repleto de incertezas geoeconômicas e políticas, não é de nosso interesse comum sobrecarregar nossas economias com tais tarifas."

Para a Europa, as novas tarifas serão quase quatro vezes maiores do que as taxas semelhantes impostas durante o primeiro mandato de Trump, quando os EUA visaram quase US$ 7 bilhões das exportações de metais do bloco, citando preocupações com a segurança nacional.

A UE terá como alvo os produtos de aço e alumínio dos EUA, bem como têxteis, produtos agrícolas e eletrodomésticos.

A UE também atingirá produtos de sua luta comercial anterior com Trump, como barcos, bourbon e motocicletas, de acordo com a declaração.

Além disso, Trump anunciou tarifas recíprocas para o início de abril com base em políticas de parceiros que são vistas como obstáculos ao comércio dos EUA, incluindo o imposto sobre valor agregado da Europa, e tem como alvo certos produtos, incluindo carros europeus.

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O chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, viajou a Washington no mês passado para tentar encontrar uma solução amigável com membros seniores da equipe de Trump, incluindo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.

Ele se ofereceu para reduzir as tarifas sobre bens industriais, incluindo automóveis, uma das exigências de longa data de Trump, e aumentar as importações americanas de gás natural liquefeito e bens de defesa.

“A interrupção causada pelas tarifas é evitável se o governo dos EUA aceitar nossa mão estendida e trabalhar conosco para chegar a um acordo”, disse Sefcovic na quarta. “Estamos prontos para negociar.”

Bruxelas disse anteriormente que retaliaria qualquer medida dos EUA de forma rápida e proporcional e vem trabalhando há meses em várias listas de produtos a serem atingidos, incluindo produtos politicamente sensíveis de certos grupos eleitorais dos EUA que infligiriam mais dor econômica.

No mercado siderúrgico europeu, os produtores se preparam para um impacto duplo: as exportações europeias para os EUA devem cair, e as importações da região, aumentar à medida que o metal for desviado dos EUA.

“De fato, podemos esperar que o mercado da UE - já saturado com importações baratas de aço da Ásia, do norte da África e do Oriente Médio - seja ainda mais inundado à medida que o aço destinado ao mercado dos EUA seja redirecionado devido às novas tarifas”, disse um porta-voz do grupo de lobby do setor, o Eurofer.

Durante a primeira presidência de Trump, de 2016 a 2020, para cada três toneladas de aço desviadas do mercado americano por causa das tarifas, duas toneladas foram para a UE, disse o porta-voz.

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Os produtores de alumínio também estão se preparando para um aumento nas importações, principalmente do Canadá, que normalmente fornece mais da metade do alumínio que os EUA compram.

Para a UE, a luta contra as tarifas americanas sobre metais começou em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, quando os EUA atingiram as exportações de aço e alumínio com tarifas, citando preocupações com a segurança nacional. Na época, as autoridades em Bruxelas zombaram da noção de que a UE representava tal ameaça.

O bloco de 27 nações retaliou, visando empresas politicamente sensíveis com tarifas retaliatórias, incluindo as fabricante motocicletas Harley-Davidson e a de jeans Levi Strauss & Co.

Os dois lados concordaram com uma trégua temporária em 2021, quando os EUA removeram parcialmente suas medidas e introduziram um conjunto de cotas tarifárias acima das quais são aplicadas tarifas sobre os metais, enquanto a UE congelou todas as suas medidas restritivas.

Todas as tarifas suspensas sobre metais devem ser reintroduzidas na íntegra, incluindo algumas taxas que nunca estiveram em vigor anteriormente. Como primeira medida, todas as tarifas suspensas da UE sobre cerca de US$ 8 bilhões de produtos americanos devem voltar a vigorar no final de março.

-- Com a colaboração de Jack Ryan, Cormac Mullen, Alberto Nardelli e Michal Kubala.

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