Bloomberg — No espaço de horas que abalaram os mercados globais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas abrangentes sobre a Colômbia antes de retirar abruptamente a ameaça após chegar a um acordo sobre o retorno de imigrantes deportados.
A Casa Branca reivindicou a vitória no final do domingo (26), dizendo que a Colômbia havia “concordado com todos os termos do presidente Trump” sem demora, incluindo a aceitação de deportados em aeronaves militares dos EUA.
O presidente colombiano Gustavo Petro já havia se recusado a permitir a aterrissagem de dois aviões militares que transportavam migrantes deportados, com objeção ao uso de grilhões e algemas nos detidos.
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O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, disse em um vídeo que os dois países superaram o "impasse" diplomático, acrescentando que o avião do presidente estará pronto para levar os colombianos que seriam deportados de volta ao país.
"Continuaremos recebendo os colombianos que retornam como deportados, garantindo-lhes condições de dignidade", disse Murillo.
A iniciativa de Trump de ameaçar rapidamente com tarifas sobre bilhões de dólares em comércio de petróleo, flores, café e outros produtos serviu como um forte lembrete de sua vontade de usar ferramentas econômicas para atingir objetivos geopolíticos. Mas sua rápida reviravolta também ilustrou por que o presidente enfrenta dúvidas sobre sua disposição de cumprir suas ameaças.
Essa incerteza deixou uma nuvem sobre os mercados globais mesmo depois que a decisão foi revertida. O anúncio do fim de semana deixou claro que as tarifas serão a primeira arma a que Trump recorrerá em caso de discordâncias políticas, enquanto a rápida resolução pouco fará para acalmar os ânimos dos investidores em relação ao seu uso.
O peso mexicano e o rand sul-africano lideraram as perdas entre as moedas dos mercados emergentes, já que o dólar se fortaleceu em relação à maioria de seus principais pares. O dólar teve sua pior semana em mais de um ano na semana passada, quando Trump se absteve de impor imediatamente tarifas sobre a China e outros grandes parceiros comerciais - medidas que favoreceriam uma moeda americana mais forte.
Medidas intempestivas
No início do dia, Trump ordenou que seu governo impusesse tarifas e sanções à Colômbia por se recusar a permitir o pouso de aviões militares. Em um post na rede social, Trump disse que aplicaria uma tarifa emergencial de 25% sobre todos os produtos colombianos que entram nos EUA, que seria aumentada para 50% em uma semana, além de restrições a viagens e sanções não especificadas.
O Secretário de Estado Marco Rubio ordenou então a suspensão da emissão de vistos na Embaixada dos EUA em Bogotá e autorizou outras restrições de viagem para os responsáveis pela interferência nos voos.
Essas restrições de viagem, bem como as inspeções reforçadas por parte dos funcionários da alfândega, permanecerão em vigor até que o primeiro avião de deportados colombianos seja devolvido com sucesso, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em um comunicado na noite de domingo.
"Os eventos de hoje deixam claro para o mundo que os Estados Unidos são respeitados novamente", disse ela, acrescentando que a ordem de tarifas e sanções permaneceria sem assinatura "a menos que a Colômbia não honre esse acordo".
A ação de Trump abalou décadas de relações calorosas entre os EUA e a Colômbia. Era de se esperar que os laços entre Trump e Petro fossem tensos devido às suas visões políticas divergentes, embora a deterioração tenha sido mais rápida e mais prejudicial do que quase todos previam.
A Colômbia está em busca de melhorar os laços, com Murillo dizendo que planeja viajar para Washington junto com o embaixador colombiano nos EUA nos próximos dias para dar continuidade aos acordos entre os dois países.
Ainda assim, a ação de Trump envia uma mensagem poderosa ao mundo, de que nem mesmo os antigos aliados políticos estão seguros se não cooperarem com ele.
Esse é particularmente o caso quando se trata de deportar imigrantes sem documentos, uma das principais promessas eleitorais de Trump. A Casa Branca disse que prendeu 538 imigrantes sem documentos e começou a usar aeronaves militares para removê-los nas primeiras 100 horas do governo.
As autoridades latino-americanas, incluindo Petro e o Brasil por meio do Itamaraty, disseram que estavam consternadas com o tratamento dado aos migrantes, mesmo quando expressaram sua disposição de recebê-los de volta.
EUA e El Salvador trabalham em um acordo de asilo que permitiria às autoridades americanas deportar migrantes não salvadorenhos para a nação centro-americana.
O comércio de mercadorias entre os EUA e a Colômbia foi de US$ 33,5 bilhões nos primeiros 11 meses de 2024, de acordo com dados comerciais dos EUA. Os EUA tiveram um superávit comercial de bilhões de dólares com a Colômbia nesse período.
Entre janeiro e novembro de 2024, as exportações colombianas para os EUA atingiram US$ 13 bilhões, um aumento de quase 8% em comparação com o mesmo período de 2023 e cerca de um terço do total das vendas externas do país.
A Colômbia é a quarta maior fonte de petróleo no exterior dos EUA, superando o Brasil, de acordo com a Energy Information Administration. Outras exportações importantes incluem ouro, café e flores - um produto que costuma ter um comércio intenso na época do Dia dos Namorados.
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Os riscos serão muito maiores se Trump usar as mesmas táticas com o México, cujo comércio total é mais do que o dobro daquele entre os EUA e a Colômbia. Trump disse que considera a imposição de tarifas semelhantes sobre os produtos mexicanos em razão do cumprimento de suas políticas de fronteira já no sábado.
Historicamente, a Colômbia tem sido um dos maiores aliados diplomáticos de Washington na América Latina e um dos principais receptores de ajuda e assistência militar dos EUA. No entanto, como um dos principais líderes de esquerda da região, Petro já estava do lado oposto de Trump. O líder colombiano cortejou a China e criticou Israel pelo número de mortes entre os palestinos em sua guerra com o Hamas.
“A resposta de Petro a Trump foi tola e é uma luta que ele não vencerá”, disse Sergio Guzmán, analista da Colombia Risk Analysis, antes de os dois lados chegarem a um acordo. “Os posts em mídias sociais têm consequências, e será um momento difícil para a Colômbia, pois terá repercussões reais sobre nós.”
-- Com a colaboração de Oscar Medina e Justin Sink.
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