Trump nomeia ex-apresentador de TV para liderar agência de seguro de saúde

Médico Mehmet Oz vai liderar os Centros de Serviços Medicare e Medicaid, uma agência que administra US$ 1,7 trilhão em gastos anuais

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Bloomberg — O presidente eleito Donald Trump escolheu o médico e apresentador Mehmet Oz para dirigir os Centros de Serviços Medicare e Medicaid, uma agência que administra US$ 1,7 trilhão em gastos anuais para programas federais de seguro de saúde nos EUA.

“Os Estados Unidos estão enfrentando uma crise na área da saúde, e talvez não haja médico mais qualificado e capaz do que o Dr. Oz para tornar os Estados Unidos saudáveis novamente”, disse Trump em um comunicado divulgado na terça-feira (19).

“O Dr. Oz trabalhará em estreita colaboração com Robert F. Kennedy Jr. para enfrentar o complexo industrial da doença e todas as horríveis doenças crônicas deixadas em seu rastro.”

A escolha, assim como a de Kennedy na semana passada, foi considerada uma surpresa, e mostra que Trump está recorrendo a pessoas de fora, não convencionais, com currículos diferentes, em um esforço para reformular radicalmente as agências de saúde do país.

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Oz, que ganhou destaque quando foi apelidado de “médico da América” no programa de televisão diurno de maior audiência de Oprah Winfrey, é um cirurgião sem experiência no governo.

O senador Bill Cassidy, um médico que deve presidir o Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado, que examinará a indicação no próximo Congresso, expressou seu apoio em um post no X.

"Faz mais de uma década que um médico não está à frente do CMS, e estou ansioso para discutir suas prioridades", escreveu Cassidy.

O médico concorreu ao Senado na Pensilvânia em 2022 e, com o endosso de Trump, derrotou o ex-diretor executivo da Bridgewater Associates, Dave McCormick, em uma primária republicana muito disputada. Posteriormente, ele perdeu para o democrata John Fetterman na eleição geral.

Durante a pandemia de covid-19, Oz se tornou um consultor informal de saúde de Trump, quando ele cumpria p primeiro mandato na Casa Branca. No período, ele promoveu o uso de medicamentos não comprovados para tratar o vírus, incluindo o medicamento anti-malária hidroxicloroquina.

Papel central

Como chefe do CMS, Oz terá um papel central na supervisão da política de saúde, incluindo os programas federais de seguro que fornecem cobertura a milhões de americanos idosos e pobres.

O Medicare cobre mais de 67 milhões de idosos e pessoas com deficiências, enquanto o Medicaid cobre quase 80 milhões de americanos de baixa renda.

A escolha aumenta a incerteza para as empresas que dependem dos programas federais de saúde para obter receita, desde as maiores seguradoras dos EUA, como a UnitedHealth Group e a Elevance Health Inc., até grandes operadoras de hospitais, como a HCA Healthcare.

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Uma coluna da Forbes de 2020, da qual Oz é coautor, propôs a substituição da cobertura de saúde fornecida pelo empregador por uma versão ampliada dos planos privados Medicare Advantage, a ser financiada por um imposto de 20% sobre a folha de pagamento.

As ações das seguradoras que vendem planos privados do Medicare, incluindo a UnitedHealth e a Humana Inc., subiram ligeiramente nas negociações após o fechamento dos mercados dos EUA.

Escolha não convencional

Oz não estava na maioria das listas públicas que especulavam sobre quem Trump poderia escolher para dirigir a agência. Ele não é conhecido por sua experiência em financiamento ou política de saúde, o trabalho básico do CMS.

O espetáculo de Oz à frente da agência, normalmente sóbria, elevaria seu perfil público, mas passaria ao largo dos veteranos conservadores da política de saúde que conhecem bem suas muitas políticas complexas.

"Esse processo de nomeação é como um carnaval", disse Spencer Perlman, analista da pesquisadora Veda Partners, em um e-mail. Embora as escolhas de forasteiros "possam empolgar a base do presidente eleito", sua falta de experiência pode tornar mais difícil para o governo conseguir novas políticas por meio da burocracia federal, escreveu ele.

Trump está procurando pessoas que "não estejam presas às normas e à sabedoria convencional", disse Ge Bai, professora de política e gestão de saúde na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. Ela disse que Trump tem escolhido líderes que são bons em se conectar com os eleitores, e a experiência de Oz na mídia ajudaria.

É mais uma nomeação de risco para Wall Street e para o setor de saúde, e uma ruptura dramática em relação à ex-administradora do CMS, Seema Verma, que dirigiu a agência durante o primeiro mandato de Trump.

Oz "entende o setor tanto como clínico quanto como desenvolvedor de produtos", disse Jared Holz, da Mizuho, em uma entrevista, mas a escolha está "um pouco fora do escopo que a maioria dos investidores provavelmente esperava".

Política de aborto

No CMS, Oz terá influência sobre políticas que podem determinar o acesso à assistência à saúde reprodutiva.

O governo Biden, por exemplo, tentou estabelecer que os requisitos federais para que os hospitais forneçam atendimento de emergência substituam as proibições estaduais de aborto.

Durante sua campanha para o Senado em 2022, Oz expressou apoio aos estados e políticos locais para regulamentar o aborto.

"Não deve haver envolvimento do governo federal", disse ele em um debate com Fetterman. "Quero que mulheres, médicos, líderes políticos locais, deixando que a democracia que sempre permitiu que nossa nação prosperasse apresente as melhores ideias para que os estados possam decidir por si mesmos."

A agência também supervisiona os intercâmbios do Affordable Care Act, também conhecidos como Obamacare, uma conquista política que Trump tentou eliminar durante seu primeiro mandato.

Há muito tempo, Trump quer acabar com o ObamaCare. Quando pressionado sobre o que gostaria de ver em seu lugar durante um debate com a vice-presidente Kamala Harris, sua adversária nas eleições gerais, Trump se recusou a oferecer detalhes específicos, e disse que tinha em mente os “conceitos de um plano”.

Os republicanos não conseguiram revogar a lei quando Trump estava no cargo anteriormente.

‘Tratamentos charlatães’

Oz, há muito tempo afiliado ao NewYork-Presbyterian Hospital, é conhecido por sua adoção de tratamentos alternativos e não convencionais. Ele foi criticado por promover produtos não comprovados, inclusive suplementos e vitaminas.

Em 2015, médicos que o acusavam de "promover tratamentos charlatães" tentaram expulsar Oz da Universidade de Columbia, onde ele tinha um cargo no corpo docente. A universidade cortou os laços durante sua candidatura ao Senado em 2022.

Oz "lucra com ideias médicas marginais", disse Lawrence Gostin, especialista em saúde global da Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown, em um post no X. Junto com Kennedy, a indicação de Oz mostra que "Trump está dando o dedo do meio para a ciência", escreveu ele.

Kennedy, um advogado ambientalista indicado por Trump para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, enfrentou sua própria enxurrada de críticas por um histórico de promoção de teorias desmentidas de que as vacinas causam autismo.

Ele postou uma foto no X elogiando Oz como uma "nomeação excepcional".

"Bem-vindo, dr. Oz aos Vingadores", escreveu Kennedy. "Vamos tornar a América saudável novamente!"

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