Trump gera mais incertezas do que a pandemia, diz VP do Banco Central Europeu

Guerra comercial e possibilidade de um conflito geopolítico têm impacto sobre a confiança do consumidor, de acordo com Luis de Guindos

“O que estamos vendo é que o novo governo dos Estados Unidos não está muito aberto a continuar com o multilateralismo", disse Luis de Guindos
Por Mark Schroers
16 de Março, 2025 | 09:05 AM

Bloomberg — As políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão causando mais incerteza para a economia do que houve durante a pandemia de Covid-19, disse o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, ao jornal Sunday Times.

“Precisamos considerar a incerteza do ambiente atual, que é ainda maior do que durante a pandemia”, disse ele. “O que estamos vendo é que o novo governo dos Estados Unidos não está muito aberto a continuar com o multilateralismo, que é a cooperação entre jurisdições e a busca de soluções comuns para problemas comuns. Essa é uma mudança muito importante e uma grande fonte de incerteza.”

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Vários formuladores de políticas do BCE destacaram sua preocupação com o impacto de uma guerra comercial em formação nos últimos dias, com a presidente Christine Lagarde dizendo que uma escalada de disputas sobre taxas comerciais pode ter um efeito prejudicial sobre a economia mundial.

Da mesma forma, Jose Luis Escriva disse à Bloomberg TV na sexta-feira (14) que as premissas para a inflação e o crescimento econômico enfrentam grandes riscos em cada direção e que essa imprevisibilidade torna impossível prever novos movimentos nas taxas de juros.

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Na zona do euro, espera-se que o crescimento se expanda apenas 0,9% este ano, de acordo com as previsões do BCE publicadas este mês.

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“Os salários reais aumentaram, a inflação está diminuindo, as taxas de juros estão caindo e as condições de financiamento estão melhores”, disse Guindos. “Mas, ainda assim, a realidade é que o consumo não está se recuperando.”

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“Isso ocorre porque os consumidores nem sempre reagem à evolução de sua renda real disponível de curto prazo”, disse ele. “Eles também consideram o que pode acontecer com a economia no médio prazo, que está envolta em incertezas. A possibilidade de uma guerra comercial ou de um conflito geopolítico mais amplo tem um impacto sobre a confiança do consumidor.”

Perguntado sobre os planos de gastos maciços com defesa dos governos europeus, Guindos disse que “essa é certamente uma decisão na direção certa”, embora seja muito cedo para tirar conclusões econômicas definitivas.

Ainda assim, “é provável que seja positiva para o crescimento e tenha um impacto limitado sobre a inflação”, disse ele.

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Guindos reiterou a confiança do BCE de que a inflação está no caminho certo para atingir a meta de 2% do banco central “no final deste ano ou no início do próximo”, dizendo que “todos os indicadores de serviços e inflação subjacente estão se movendo na direção certa”.

Ele destacou especialmente a desaceleração da remuneração por empregado, que diminuiu no quarto trimestre.

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