Trump fica ‘irritado’ e ameaça tarifa de 200% sobre vinho e champagne franceses

‘Por que os europeus estão implicando com o bourbon do Kentucky e as motocicletas Harley-Davidson’, questionou o presidente dos EUA após reação da União Europeia às taxas sobre o aço e o alumínio

Bottles of wine for sale. Photographer: Jordan Vonderhaar/Bloomberg
Por Hadriana Lowenkron
13 de Março, 2025 | 11:05 AM

Bloomberg — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre o vinho, o champagne e outras bebidas alcoólicas da França e de outros países da União Europeia, no mais recente capítulo da escalada de uma guerra comercial global.

Em um post nas redes sociais nesta quinta-feira (13), Trump disse que avançaria com as taxas de importação se Bruxelas seguir com o plano de um imposto sobre as exportações de bourbon americano, uma medida destinada a retaliar as tarifas de aço e alumínio do líder americano e que entraram em vigor na quarta-feira (12).

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“Se essa tarifa não for removida imediatamente, os Estados Unidos logo imporão uma tarifa de 200% sobre todos os VINHOS, CHAMPAGNES E PRODUTOS ALCOÓLICOS QUE SAÍREM DA FRANÇA E DE OUTROS PAÍSES REPRESENTADOS PELA UE”, disse Trump sobre os impostos pendentes sobre o bourbon.

“Isso será ótimo para os negócios de vinho e champanhe nos EUA.”

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As ações dos principais fabricantes europeus de bebidas alcoólicas caíram: a LVMH, proprietária das casas de champagne Moët & Chandon e Veuve Clicquot, perdeu até 2,2% na bolsa; o produtor de conhaque Remy Cointreau recuou até 4,5%, e o de destilados Pernod Ricard, até 3,6%.

Trump está “intensificando a guerra comercial que ele decidiu desencadear”, escreveu Laurent Saint-Martin, ministro do Comércio da França, em um post no X. “Não cederemos às ameaças e sempre protegeremos nossas indústrias.”

Os mercados acionários dos EUA na quarta-feira registraram alguns ganhos após semanas de volatilidade e perdas, mas nesta quinta-feira voltaram a operar em baixa pela manhã.

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Em resposta às tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio, a UE anunciou que planeja taxas sobre até 26 bilhões de euros (US$ 28,3 bilhões) em produtos americanos.

A UE também iniciará imediatamente consultas com os Estados membros, com o objetivo de adotar as listas adicionais de produtos agrícolas e industriais sujeitos a tarifas de até 25% até meados de abril.

“O presidente [Trump] ficou totalmente irritado com o fato de os europeus terem feito isso”, disse o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, à Bloomberg Television na quinta-feira.

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“Ele se preocupa com os Estados Unidos e quer cuidar dos americanos. E por que os europeus estão implicando com o bourbon do Kentucky e com as motocicletas Harley-Davidson?”

Lutnick estava se referindo a produtos americanos icônicos que foram alvos de tarifas durante a disputa comercial do primeiro mandato de Trump com a UE.

Essas tarifas foram suspensas sob um cessar-fogo do governo Biden que está programado para terminar em 31 de março e, sem um novo acordo ou uma prorrogação, elas voltarão a vigorar com uma taxa ainda mais alta.

Novas negociações

Lutnick, que disse que planeja falar com autoridades da UE ainda nesta quinta-feira, disse que, com sorte, “eles [europeus] perceberão que devem retirar essas coisas”.

Um porta-voz da UE confirmou que as conversas estão planejadas.

Trump também prometeu mais uma rodada de tarifas em apenas três semanas, dizendo que começará a implementar as chamadas tarifas recíprocas.

A Casa Branca planeja aplicar uma taxa geral a cada país, com base em um cálculo de suas próprias tarifas e outras barreiras comerciais, como impostos digitais ou taxas de valor agregado.

Isso ameaça inflamar ainda mais a guerra comercial, levando diferentes países a retaliar de maneiras que poderiam estimular Trump a adicionar mais taxas próprias sob o manto da reciprocidade.

O presidente americano também promete tarifas setoriais separadas para produtos como automóveis, madeira, semicondutores, produtos farmacêuticos e cobre.

O presidente promulgou sua ampla agenda tarifária de forma fragmentada, uma estratégia que tem sido pontuada por incertezas, incluindo atrasos, reversões e mudanças de direção.

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Na terça-feira, Trump ameaçou dobrar a alíquota de uma tarifa sobre o Canadá e recuou horas depois, quando a província de Ontário suspendeu uma sobretaxa de exportação de eletricidade.

O uso de tarifas como alavanca em disputas econômicas e geopolíticas pesa sobre os mercados. O S&P 500 caiu quase 10% em relação à alta de fevereiro, levando a temores de uma recessão.

Em seu primeiro mandato, Trump repetidamente apontou a valorização das ações como validação de suas políticas, mas desta vez tem ignorado as consequências.

Disse nesta semana que o selloff nos mercados é uma oportunidade de compra e que as tarifas são necessárias para refazer a indústria e as cadeias de suprimentos americanas.

Trump, durante seu primeiro mandato, prometeu impor tarifas abrangentes sobre o vinho francês devido à postura fiscal de Paris em relação às empresas de tecnologia dos EUA, mas depois recuou dessa ameaça após chegar a uma trégua com o presidente francês Emmanuel Macron.

-- Com a colaboração de Josh Wingrove, Kit Rees, Alberto Nardelli, Lisa Abramowicz, Annmarie Hordern, Jonathan Ferro, Laura Davison, Meghashyam Mali e Magan Crane.

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