Trump diz que não tem planos de substituir Powell no Federal Reserve

Em entrevista à emissora NBC, a primeira após a eleição, o presidente eleito afirmou que o chefe do Fed provavelmente não sairia do cargo mesmo se ele lhe pedisse

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Bloomberg — O presidente eleito Donald Trump afirmou que não tem planos de substituir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, quando retornar à Casa Branca, dizendo “não vejo isso”.

Powell, cujo mandato como presidente do Fed expira em maio de 2026, disse a repórteres no mês passado que não se afastaria do cargo antecipadamente se Trump pedisse sua renúncia.

“Acho que se eu lhe dissesse para fazer isso, ele faria”, disse Trump no domingo (8) no programa da NBC, a sua primeira entrevista na rede de televisão desde que venceu a eleição nos EUA em novembro. “Mas se eu lhe pedisse, ele provavelmente não o faria”.

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Powell deixou claro, poucos dias após a eleição, que está pronto para defender a independência do Fed da pressão política, insistindo que o novo presidente não tem o poder de demití-lo ou a outros líderes sêniores do Fed.

Trump já havia dito anteriormente que deveria ter uma palavra a dizer sobre a política monetária e a definição das taxas de juros. “Acho que tenho o direito de dizer: ‘Acho que você deveria aumentar ou diminuir um pouco’. Não acho que eu deva ser autorizado a ordenar isso”, disse Trump em uma entrevista à Bloomberg News em outubro. “Mas acho que tenho o direito de fazer comentários sobre se as taxas de juros devem ou não subir ou descer.”

Trump também ridicularizou o papel do presidente do Fed como “o melhor trabalho do governo”, dizendo que “o profissional aparece no escritório uma vez por mês e diz: ‘Vamos ver, jogue uma moeda’”.

Na transcrição da entrevista da NBC divulgada no domingo, Trump respondia a uma pergunta sobre a declaração de Powell que se recusaria a renunciar se fosse solicitado. Embora Trump tenha nomeado Powell, ele explorou a possibilidade de demití-lo ou rebaixá-lo durante seu primeiro mandato, depois que o Fed aumentou as taxas de juros várias vezes.

Um porta-voz do Fed se recusou a comentar os últimos comentários de Trump.

Powell, por sua vez, disse que não espera tensões com o novo governo. Em uma entrevista coletiva em 7 de novembro, ele foi perguntado se deixaria o cargo caso Trump pedisse. “Não”, disse Powell.

Ameaças de tarifas

Na entrevista, Trump renovou a ameaça de impor tarifas aos parceiros comerciais dos EUA, se necessário. Ele destacou a balança comercial com o México e o Canadá, tentando sugerir que o comércio dos EUA com os dois países equivale a subsidiar as duas economias vizinhas.

“Por que estamos subsidiando esses países? Se formos subsidiá-los, que se tornem um Estado”, afirmou. “Estamos subsidiando o México e o Canadá e estamos subsidiando muitos países em todo o mundo.”

Questionado sobre o amplo consenso entre os economistas de que as tarifas aumentam os preços para os consumidores e se ele poderia garantir que as famílias americanas não pagarão mais, Trump disse: "Não posso garantir nada. Não posso garantir o amanhã".

Trump agitou os mercados no mês passado quando ameaçou uma nova rodada de tarifas, dizendo que imporia tarifas de 10% sobre os produtos da China e tarifas de 25% sobre todos os produtos do México e do Canadá se os países não fizessem mais para impedir o fluxo de drogas ilegais e imigrantes sem documentos através das fronteiras dos EUA.

As primeiras ameaças específicas do presidente eleito contra os parceiros comerciais dos EUA desde sua vitória eleitoral foram um lembrete claro de sua vontade de aplicar tarifas para avançar na agenda econômica que remonta ao seu primeiro mandato na Casa Branca.

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Em seus últimos comentários, Trump não mencionou essas duas exigências, sugerindo uma pressão potencialmente mais ampla sobre o Canadá e o México em relação ao comércio. ”E tudo o que eu quero fazer é ter regras iguais, de forma rápida, mas justas”, disse Trump à NBC.

Trump manteve sua advertência aos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de que “eles têm que pagar suas contas”, ecoando uma postura que causou atrito transatlântico durante o seu primeiro mandato. Mesmo assim, o mandatário eleito se recusou a se comprometer incondicionalmente a manter os EUA na Otan durante o segundo mandato.

“Se eles estiverem pagando suas contas e se eu achar que eles estão nos tratando de forma justa, a resposta é absolutamente que eu permaneceria na Otan”, disse ele.

Em fevereiro, durante a campanha, Trump causou alarme na Europa e críticas do presidente Joe Biden ao comentar que uma vez disse a um líder europeu que abandonaria os membros da Otan em uma invasão russa se eles não tivessem cumprido os compromissos de gastos com defesa.

Cidadania dos EUA

Trump prometeu mais uma vez acabar com a cidadania de nascença em seu primeiro dia no cargo, argumentando que os EUA são o único país com essa lei. "Vamos acabar com isso porque é ridículo", disse ele.

A Constituição, por meio da 14ª Emenda, estabelece que as pessoas podem adquirir a cidadania americana se nascerem em território americano. Trump prometeu abolir essa lei por meio de ação executiva, se possível, e disse que tentou fazê-lo antes, mas “teve que lidar a covid primeiro”.

Trump também disse que não limitaria o acesso a medicamentos para aborto, mesmo quando assumiu o crédito pela derrubada do caso Roe v. Wade pela Suprema Corte dos EUA e disse que o aborto agora é uma questão estadual.

Perguntado se ele se compromete a não restringir a disponibilidade de pílulas abortivas enquanto estiver no cargo, ele disse “bem, eu me comprometo”, antes de citar a mudança de opinião de Biden sobre o perdão de seu filho, Hunter. Biden prometeu repetidamente que não o perdoaria antes de fazê-lo na semana passada.

"Então as coisas mudam", disse Trump. "Mas não acho que vá mudar de jeito nenhum."

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