Trump critica tarifas, ameaça retomar o Canal do Panamá e presidente do país rebate

José Raúl Mulino disse que soberania do Panamá sobre a principal hidrovia comercial do mundo é ‘inegociável’; presidente eleito dos EUA havia reclamado também de influência chinesa

Canal de Panamá
Por Michael McDonald - Josh Wingrove - Gregory Korte
22 de Dezembro, 2024 | 08:33 PM

Bloomberg — O presidente do Panamá rejeitou a ameaça de Donald Trump de reimpor o controle dos Estados Unidos sobre o Canal do Panamá, dizendo que os pedágios de transporte não estão inflacionados e que a soberania sobre a hidrovia não é negociável.

“Cada metro quadrado do Canal do Panamá e suas zonas adjacentes é parte do Panamá e continuará sendo”, disse o presidente José Raúl Mulino no domingo em uma declaração em vídeo no X, a plataforma social anteriormente conhecida como Twitter.

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A defesa de Mulino do controle panamenho sobre a principal hidrovia comercial do mundo mostra como Trump já está exerce influência global depois que ele repentinamente colocou em jogo o controle sobre o canal no fim de semana, ao condenar as taxas de trânsito que classificou como “ridículas” - por causa dos valores elevados - para embarcações americanas e a suposta invasão chinesa na rota.

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O jogo duro diplomático de Trump - a pouco menos de um mês de sua posse - representa uma nova frente em sua tentativa de aumentar a pressão sobre os parceiros comerciais.

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Mulino disse que os pedágios do canal não são excessivos. Citando os tratados entre os EUA e o Panamá, disse que o canal é controlado exclusivamente pelo Panamá e não é influenciado por China, Europa ou EUA.

“A soberania e a independência de nosso país não são negociáveis”, disse ele. Os pedágios do canal são estabelecidos de forma transparente, com base nos custos operacionais e nas condições de mercado, disse.

A China não controla o canal, embora uma empresa chinesa - uma subsidiária da CK Hutchison Holdings com sede em Hong Kong - controle dois dos cinco portos adjacentes ao cana, um de cada lado.

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De acordo com a Constituição do Panamá, o canal é administrado pela Autoridade do Canal do Panamá, sendo que parte dos pedágios vai para o Tesouro nacional. A autoridade anunciou na semana passada que havia depositado quase US$ 2,5 bilhões no último ano fiscal.

E a influência da China tem crescido na região. Em 2017, o Panamá cortou relações diplomáticas com Taiwan e declarou que havia "apenas uma China".

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O canal de 51 milhas (82 quilômetros) que liga os oceanos Atlântico e Pacífico é um importante ativo estratégico - e tem sido um ponto de estrangulamento para o comércio global, já que o Panamá tem sofrido uma seca prolongada que tem impedido as travessias.

Estados Unidos e China são os dois países que mais dependem do Canal do Panamá para transportar suas mercadorias

Trump repetiu suas reclamações em um discurso em Phoenix neste domingo, antes da resposta de Mulino, dizendo que o canal - construído pelos EUA no início do século passado e devolvido ao controle panamenho em 1999 - estava “caindo nas mãos erradas”.

“Não cabe à China ou a qualquer outro país administrar”, disse Trump. “Você está vendo o que está acontecendo lá? A China.”

Embora não tenha feito nenhuma exigência específica, a declaração de Trump serviu como um aviso de que os EUA se reservam o direito de "exigir que o Canal do Panamá nos seja devolvido, na íntegra e sem questionamentos".

Mulino sugeriu que os comentários de Trump estavam fora do tom.

"O Panamá respeita outras nações e exige respeito", disse ele. "O canal permanecerá nas mãos dos panamenhos como um patrimônio inalienável de nossa nação."

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