Bloomberg — Os líderes mais poderosos da indústria de tecnologia têm buscado uma nova abordagem para se aproximar de Donald Trump, historicamente crítico ao domínio dessas empresas: encontros pessoais durante jantares.
Um fluxo de grandes nomes da tecnologia - de Mark Zuckerberg, da Meta (META), a Sergey Brin, cofundador do Google (GOOG), e Jeff Bezos, da Amazon (AMZN) - tem feito peregrinações ao clube Mar-a-Lago, na Flórida, para reuniões pessoais com o presidente eleito.
Trata-se de uma reversão marcante em relação ao que se sucedeu à sua vitória eleitoral de 2016, quando muitos líderes empresariais mantiveram distância e buscaram conquistar favores por meio de lobistas bem relacionados.
“Todo mundo quer ser meu amigo”, Trump postou em sua rede Truth Social na quinta-feira (19).
Leia mais: Meta, de Zuckerberg, doa US$ 1 milhão para evento inaugural de Donald Trump
O comentário ecoa uma declaração feita por Trump em uma entrevista coletiva de imprensa na semana passada, que contrasta com seu primeiro mandato, quando “todos estavam brigando”, versus o cenário atual de executivos corporativos que clamam para jantar com ele no pátio de seu resort em Palm Beach.
Além de pedidos para audiências privadas com o presidente, Trump também acumula uma onda de promessas de executivos ou empresas para financiar o evento de sua posse.
O presidente eleito tem sido abertamente hostil com alguns representantes do setor de tecnologia e expressa suas queixas no Truth Social - plataforma de mídia social que fundou após ser banido de muitos sites tradicionais por causa da invasão ao Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021, em que foi acusado de ter feito declarações prévias de apoio aos insurgentes.
Suas críticas variam de viés contra vozes conservadoras no Facebook a resultados de busca desfavoráveis no Google. Ainda assim, Trump também gosta de socializar com líderes empresariais ricos e bem-sucedidos, muitos dos quais são celebridades por si mesmos.
Pânico de CEOs
Um dos fatores que motivam os executivos a construir um relacionamento com Trump é o receio de que suas empresas, produtos ou eles próprios possam se tornar alvos de postagens nas redes sociais, dado que o presidente eleito é conhecido por “disparar a qualquer momento e geralmente sem aviso.
“Acho que o termo é ‘pânico.’ Eles eram todos anti-Trump, e sabem que ele tem uma ótima memória, uma enorme quantidade de energia e está bastante preparado a ir atrás de pessoas que ele pensa serem um problema,” disse em uma entrevista o ex-presidente da Câmara Newt Gingric.
Em um jantar na última quarta-feira (18), Trump e Bezos estavam acompanhados do filho de Trump, Eric Trump, sua esposa, Melania Trump, e Elon Musk, CEO da Tesla (TSLA) e SpaceX, um grande doador da campanha eleitoral de Trump e a pessoa mais rica do mundo, segundo uma pessoa familiarizada com o encontro que falou com a Bloomberg News.
“O presidente Trump está se cercando de líderes da indústria, como Elon Musk, enquanto trabalha para restaurar a inovação, reduzir a regulamentação e celebrar a liberdade de expressão em seu segundo mandato,” disse em comunicado Brian Hughes, porta-voz de Trump.
Esse é o tipo de influência que executivos de tecnologia poderiam exercer se conseguissem se aproximar de Trump.
Leia mais: Depois da Meta, Amazon também doa US$ 1 milhão para novo fundo de Trump
Durante o primeiro mandato de Trump na Casa Branca, Tim Cook, CEO da Apple (AAPL), teve algum sucesso com essa estratégia.
Ao encontrar-se e frequentemente conversar com Trump — algo que muitos CEOs não faziam por medo de represália de funcionários ou de clientes —, Cook conseguiu, em grande parte, defender-se de tarifas que poderiam ter aumentado significativamente o custo de importação dos iPhones.
À medida que as ameaças de novas rodadas de tarifas comerciais se aproximam, bem como um desejo em alguns círculos republicanos de reprimir gigantes da tecnologia, CEOs e fundadores veem valor em proativamente apresentar seu caso a Trump e seus principais assessores.
Bezos foi alvo de ataques de Trump em seu primeiro mandato. Na quarta-feira (18), ele se viu na mesma mesa que Musk — uma das poucas pessoas no mundo mais ricas que ele — e cuja internet via satélite Starlink é uma das concorrentes mais ferozes do Projeto Kuiper, da Amazon.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
De queda de fortuna a projetos adiados: o efeito da crise para brasileiros mais ricos
Vantagem dos EUA sobre o mundo vai se ampliar, diz head de estratégia do J.P. Morgan
Fabricante da estrela da Mercedes é a mais recente vítima da crise do setor auto
©2024 Bloomberg L.P.