Bloomberg — A libra esterlina caiu para o patamar mínimo em mais de um ano, as ações em Londres recuaram e os Gilts estenderam o quarto dia de perdas nesta quinta-feira (9), com a preocupação de investidores de que o governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer terá dificuldades para manter o déficit público sob controle, à medida que os custos dos empréstimos aumentam.
A libra esterlina recuou pelo terceiro dia e caiu até 1%, para US$ 1,2239, o valor mais baixo desde novembro de 2023. Os Gilts - títulos britânicos - recuaram acentuadamente na abertura, com o rendimento de 10 anos subindo até 13 pontos-base, para 4,92%. O índice FTSE 250 caiu 1,1%, o pior resultado desde agosto.
Os ativos do país estão em destaque de um selloff global alimentado nesta semana pelas últimas ameaças de Donald Trump de impor tarifas comerciais e pelas preocupações locais de que a inflação permanecerá elevada por mais tempo do que o esperado.
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A velocidade dos movimentos de mercado fez com que fossem feitas comparações com as consequências do malfadado mini-orçamento de Liz Truss em 2022, que levou à sua queda em tempo recorde.
Embora a estrutura do mercado tenha sido fortalecida para evitar uma crise dessa escala, o aumento do ônus da dívida do governo é mais uma vez uma fonte de preocupação para os investidores.
Um ex-formulador de políticas do Banco da Inglaterra chegou a traçar paralelos com a crise da dívida de 1976, que levou o governo do Reino Unido a pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
“Quando você vê tanto os rendimentos quanto as moedas subirem, na maioria das vezes isso tende a ser um sinal de fuga de capital”, disse Eva Sun-Wai, gerente de fundos da M&G Investments, na Bloomberg Radio.
“A preocupação é que os investidores acabaram de perder a confiança no Reino Unido como um destino para colocar seus ativos.
Se o aumento nos rendimentos dos títulos de longo prazo for sustentado, isso poderá pressionar o governo do Reino Unido a apertar a política fiscal.
A chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, favorecerá novos cortes nos gastos públicos em vez de elevações de impostos se o aumento nos custos dos empréstimos acabar com sua reduzida margem de manobra fiscal de £ 9,9 bilhões (US$ 12,2 bilhões), de acordo com pessoas familiarizadas com seus planos.
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As medidas pegaram alguns participantes do mercado desprevenidos.
Normalmente, taxas de juros mais altas aumentam a atratividade de uma moeda - portanto, a queda desta vez pode ser um indicativo de que os ativos do Reino Unido perdem sua atratividade, já que os investidores estão preocupados com as pressões inflacionárias persistentes e a sustentabilidade fiscal.
“A libra pode continuar sendo a válvula de pressão preferida dos investidores ansiosos que se preocupam com as perspectivas de seus portfólios do Reino Unido”, disse Valentin Marinov, chefe da estratégia de câmbio do Grupo dos 10 do Credit Agricole em Londres.
“Os mercados estão bastante cautelosos no momento. Os traders de câmbio continuarão a operar o aumento da volatilidade cambial para obter o que quer que valha a pena.”
O que dizem os estrategistas da Bloomberg:
“Em um sinal clássico de nervosismo do mercado, a estrutura a termo da volatilidade da libra, que tinha uma inclinação normal até o ano novo, se inverteu - sugerindo que os traders temem mais quedas no curto prazo.”
- Ven Ram, estrategista em Dubai.
O mercado de opções mostra que a turbulência da libra esterlina pode persistir, já que as oscilações de hedge na próxima semana em relação ao dólar e ao euro são as maiores desde as eleições de novembro nos EUA. Os traders estão no nível de maior pessimismo em relação à moeda britânica em dois anos, de acordo com as reversões de risco, um barômetro do posicionamento e do sentimento do mercado.
-- Com a colaboração de Masaki Kondo, Ruth Carson e Greg Ritchie.
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