Bloomberg — Para dois consultores financeiros localizados a apenas 15 minutos de distância um do outro na Carolina do Sul, apostar nos Estados Unidos de maioria democrata ou republicana parecia ser uma maneira infalível de ganhar dinheiro.
Em meio às chamadas guerras culturais, com empresas que assumem posições sobre armas e aborto, igualdade e mudança climática, Jason Britton e Adam Curran tiveram a mesma ideia: fundos de investimento adaptados às preferências políticas das pessoas.
Britton, 47 anos, foi atrás dos democratas e lançaou seu ETF - um fundo negociado em bolsa - durante a última eleição presidencial para investir no S&P 500 “sem o Partido Republicano”. Ele batizou seu ETF de: Democratic Large Cap Core (ticker: DEMZ).
Dois anos depois, Curran, de 41 anos, lançou um fundo para “conservadores tementes a Deus e que levantam a bandeira” que procuram evitar empresas “woke”. Seu ETF: God Bless America (ticker com um aceno ao Sul: YALL).
Leia mais: Elogios a Xi e protecionismo: Trump busca eleitores em podcast de Joe Rogan
Mas agora, a menos de uma semana da escolha decisiva de americanos sobre seu próximo presidente, nenhum dos fundos atraiu tanto dinheiro quanto seus criadores esperavam. Os investidores investiram milhões neles, mas apenas o suficiente para cobrir os custos dos assessores.
Britton e Curran, que trabalham na região de Charleston e nunca se conheceram, estão surpresos e previsivelmente decepcionados.
No mínimo, seus fundos democrata e republicano mostram que os americanos comuns - ou pelo menos os investidores americanos comuns - podem concordar com uma coisa: no mercado de ações, o dinheiro supera a política.
“Pensei que eu seria o cara que seria entrevistado por Tucker e Beck!”, lamenta Curran, referindo-se aos incendiários apresentadores de TV de direita Tucker Carlson e Glenn Beck.
Como diz Britton: “A violência no discurso político não se correlaciona com volumes” ou fluxos de dinheiro.
Em uma fileira de edifícios em estilo colonial a poucos passos da orla marítima de Charleston, Curran exclui de seu ETF empresas que enfatizam o ativismo político de esquerda e/ou liberal.
Ele possui ações da Boeing e da Charles Schwab e superou o desempenho do S&P 500 desde seu início em outubro de 2022, com um ganho anualizado de cerca de 38%.
Leia mais: Agenda econômica de Kamala adiciona incertezas a mercados antes de eleições
Do outro lado do rio Wando, também no condado de Charleston, Britton administra seu fundo para que o dinheiro dos investidores não acabe em “lugares como os cofres de campanha do republicano Mitch McConnell”.
Seu fundo investe em empresas que fazem doações principalmente para os democratas, como a Walt Disney e a Alphabet, controladora do Google. A DEMZ registrou um retorno anualizado de 16% desde seu início em novembro de 2020, ou seja, perdeu para o S&P 500 no período.
A ideia de alinhar metas financeiras com valores pessoais - religiosos e culturais - existe há séculos. Mas os fundos com temas políticos têm enfrentado dificuldades.
Uma empresa chamada 2ndVote Advisers liquidou seus dois fundos com temática conservadora no ano passado, depois de não conseguir ganhar força. O fundo de outra empresa, baseado em políticas democratas, foi fechado em 2018.
Britton, que cresceu no estado republicano de Indiana, disse que mal consegue se equilibrar com a administração do DEMZ, que tem US$ 38 milhões em ativos. Curran, que cresceu no democrata Connecticut, disse que perde dinheiro operando o YALL, que tem US$ 82 milhões em ativos.
Os americanos podem encontrar um ponto em comum?
Britton e Curran têm concordado em algumas de suas escolhas de ações. Ambos os fundos possuem ações da Nvidia que projeta a maioria dos chips avançados que alimentam a Inteligência Artificial, da Costco e da Colgate-Palmolive.
Curran disseque faz parte do movimento “Make America Healthy Again”, promovido por Robert F. Kennedy Jr. E que um equívoco sobre os conservadores é dizer que eles não se preocupam com coisas como ar e água limpos. Ele se preocupa com alimentos não saudáveis, questões que repercutem entre os liberais, entre eles Britton.
“Não posso deixar de rir”, disse Curran. “Eu me tornei um abraçador de árvores.”
Britton, que se autodenomina um “democrata profundamente enraizado” e cristão, disse que um equívoco sobre a fé e a espiritualidade é que as pessoas pensam que isso é apenas uma característica conservadora.
Ele disse que se preocupa com o aumento da dívida nacional. Isso é algo de que os conservadores tradicionais costumam se queixar, mesmo quando os governos republicanos aumentam a dívida. O administrador de fundos também disse que é a favor de uma defesa nacional forte.
O sistema político bipartidário do país fez com que “todos se tornassem estranhos parceiros”, disse Britton.
Neste momento, as previsões para o resultado da eleição presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump estão empatadas.
Na noite da eleição, na terça-feira, em 5 de novembro, Curran planeja ir a uma festa em Charleston organizada por Michael Winklemann, o artista digital conhecido como Beeple. Britton disse que ficará ansiosamente “grudado” na TV acompanhando aos resultados.
E, talvez, Curran e Britton possam deixar de lado suas diferenças políticas e se encontrar um dia. Curran disse que adoraria ter Britton como convidado em seu podcast sobre investimentos, “Retire Y’all Charleston”.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
De Wall St a energia limpa: o que está em jogo nas eleições dos EUA para 5 setores
