Reformas de Milei despertam otimismo de CEOs com a economia da Argentina

Executivos de empresas como Volkswagen, Nubank e Mercado Livre demonstram expectativa de recuperação dos negócios diante de medidas como redução da intervenção do estado

Executivos gostam da maneira como o presidente tem eliminado medidas protecionistas e reduzido a burocracia
Por Kevin Simauchi - Leonardo Lara
29 de Outubro, 2024 | 03:15 PM

Bloomberg — Nos primeiros dias da presidência de Javier Milei, o chefe da América do Sul da Volkswagen não ficou muito feliz com ele. Agora ele faz parte de um coro de líderes empresariais que se sentem otimistas em relação à Argentina pela primeira vez em anos.

A decisão de Milei de desvalorizar o peso depois de assumir o cargo em dezembro passado, seguida de medidas agressivas de austeridade, foi um remédio considerado muito necessário que arrastou a economia para a recessão.

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As empresas ficaram com saldos de caixa reduzidos e demanda fraca. Mas os executivos gostam da maneira como o presidente tem eliminado medidas protecionistas e reduzido a burocracia — e começam a ver um caminho para os lucros no que há muito tempo é um mercado frustrante.

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Para Alexander Seitz, chairman executivo da Volkswagen para a América do Sul, o ponto de virada veio quando Milei aliviou os controles de importação, reduzindo o período de financiamento de 180 dias para 30 dias. Isso torna mais fácil pagar fornecedores de forma previsível sem se preocupar com movimentos cambiais.

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“As medidas do governo estão indo agora na direção certa”, disse Seitz na semana passada em uma entrevista em São Paulo. “Eu me concentro muito mais no meu negócio e posso realmente trabalhar em coisas operacionais, e não em artes financeiras.”

O otimismo cauteloso de Seitz e outros executivos, de finanças a commodities, tem sido lento para se traduzir em novos investimentos.

Muitas empresas foram prejudicadas pela mudança anterior da Argentina para políticas favoráveis ao mercado, que terminou em 2019 quando o partido peronista derrotou o presidente pró-negócios Mauricio Macri e retornou ao poder.

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Os investidores dizem que querem ver uma remoção completa dos controles cambiais antes de estarem dispostos a se comprometer.

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Mas há um sentimento crescente de que desta vez é diferente.

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O Nubank (NU), que em maio se tornou a mais valiosa instituição financeira da América Latina, tem reavaliado a Argentina após descartá-la anos antes.

O Mercado Livre (MELI) tem visto uma retomada nas vendas. A atividade de títulos corporativos tem aumentado, já que os emissores veem um aumento na demanda.

“É impossível ignorar o que ele está fazendo”, disse o CEO do Nubank, David Vélez, sobre os esforços de recuperação de Milei em um painel durante o Bloomberg New Economy at B20 em São Paulo.

“Acho que a velocidade com que a situação na Argentina vem mudando impressionou absolutamente todo mundo.”

Recuperação incipiente

Mesmo com a economia mergulhada em recessão, empresas estão otimistas de que uma recuperação incipiente não é mais um dos muitos falsos sinais na Argentina.

O Mercado Livre, gigante latino-americano de comércio eletrônico e tecnologia financeira, relatou um aumento de vendas na Argentina com uma economia que mostra sinais de recuperação.

Falando sobre a tendência, André Chaves, chefe da unidade de pagamentos do Mercado Pago no Brasil, disse que isso tem levado a empresa a começar a intensificar as atividades de empréstimos.

“Agora que as coisas estão melhorando, estamos acelerando muito rápido novamente na Argentina”, disse Chaves em uma entrevista.

“O ambiente de empréstimos melhorou significativamente e, como você tem um pouco mais de previsibilidade - você sabe, taxas de inflação e taxas de juros -, estamos mais confortáveis em estender mais empréstimos também.”

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Os executivos ainda têm uma perspectiva econômica moderada para o próximo ano, à medida que o país emerge de uma de suas piores crises, com mais da metade dos argentinos vivendo na pobreza.

A Argentina está em 126º lugar entre 190 nações na facilidade para fazer negócios, logo à frente do Irã, de acordo com o Banco Mundial. O investimento estrangeiro continua baixo e o setor privado cortou empregos formais assalariados por 11 meses consecutivos até julho, de acordo com dados do governo.

“Não haverá uma explosão milagrosa de crescimento no próximo ano”, Fabian Kon, diretor executivo do Grupo Financiero Galicia, o maior banco privado da Argentina, disse em uma entrevista em 18 de outubro, à margem da conferência empresarial Coloquio IDEA, em Mar del Plata.

“Mas o importante não é que o país cresça tanto neste primeiro ano mas, sim, que o faça de forma sustentável ao longo dos próximos cinco anos.”

Criou-se um dilema “do ovo ou da galinha”, em que o governo convida as empresas a contratar e a investir, enquanto os executivos pedem ao governo que remova os controles de capital mais rapidamente.

Mas isso é algo que Milei e o ministro da Economia, Luis Caputo, ainda não estão dispostos a fazer, mesmo quando tentam esboçar um cronograma mais firme antes das eleições de meio de mandato do ano que vem.

Alguns executivos estão resignados com a incerteza do plano de Caputo de desmantelar a estrutura dos controles de moeda e capital da Argentina. Para investir, eles querem ver o libertário cumprir sua palavra de remover as restrições, mantendo a inflação e o peso sob controle.

“Para nós do setor empresarial, cabe ter paciência”, Gabriela Renaudo, que supervisiona as operações da Visa na Argentina, disse na conferência de Mar del Plata.

Atração de talentos

Não se trata apenas de movimentar dinheiro para dentro e para fora da Argentina. As empresas também ainda lutam com dores de cabeça sobre recrutamento e retenção que começaram durante o governo anterior.

Empresas de tecnologia como Oracle, que conta com cerca de 480 funcionários na Argentina, têm ajustado os salários de funcionários em pesos à inflação, enquanto concorrentes no exterior competem pelo mesmo grupo de talentos com ofertas de emprego em dólares.

Muitas empresas ainda precisam investir em novos projetos depois que Milei aprovou reformas favoráveis aos negócios que fornecem incentivos fiscais para projetos acima de US$ 200 milhões em certos setores. A maioria dos executivos prevê uma recuperação difícil pela frente.

“Vai ser uma maratona, não uma corrida de velocidade”, disse Gustavo Salinas, chefe da Argentina da Toyota Motor, em uma entrevista. “Gostaria de correr a corrida de 100 metros e conseguir vencê-la, mas é preciso correr devagar, mas com segurança, para atingir a marca de 42 quilômetros.”

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