Quem é o líder de esquerda que venceu a eleição na França e superou Macron e Le Pen

Liderada por Jean-Luc Melenchon, a aliança de esquerda conquistou mais de 180 assentos na Assembleia Nacional, ainda que abaixo dos 289 necessários para uma maioria absoluta

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Bloomberg — Não foi preciso muito tempo para que Jean-Luc Melenchon assumisse o microfone depois que pesquisas de boca de urna indicaram uma vitória surpreendente de seu partido de esquerda Nova Frente Popular nas eleições legislativas na França neste domingo (7).

Antes que os outros líderes de sua aliança pudessem falar, Melenchon foi ao centro do palco em uma reunião de apoiadores, exigindo que o grupo fosse chamado para governar o país.

Ele também declarou que a Nova Frente Popular (NFP) não aceitará “combinações” e recusará negociações com outros partidos políticos.

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“O NFP implementará seu programa”, disse Melenchon. “Nada além de seu programa, mas todo ele.”

A aliança prometeu um grande aumento nos gastos públicos, no salário mínimo e um corte na idade de aposentadoria – medidas que provocariam um grande confronto com a União Europeia. O Institut Montaigne estima que as promessas de campanha da Nova Frente Popular exigiriam cerca de 179 bilhões de euros (US$ 194 bilhões) em recursos extras por ano.

A aliança de esquerda conquistou mais de 180 assentos na Assembleia Nacional, mas o número ficou abaixo dos 289 necessários para uma maioria absoluta.

Na BFM TV, a ministra da Educação da França, Nicole Belloubet, foi rápida em apontar que, apesar de todas as reivindicações de Melenchon quanto ao direito de seu partido de governar, a Nova Frente Popular não tem legisladores suficientes para controlar o Parlamento.

O presidente Emmanuel Macron aguardará que a nova configuração da Assembleia Nacional seja estabelecida antes de tomar qualquer decisão, disse o Palácio do Eliseu em um comunicado.

Isso pode fazer pouco para impedir que os mercados e os investidores fiquem preocupados com a probabilidade de a Nova Frente Popular e alguém como Melenchon governar a França.

Quem é Melenchon

O político de 72 anos, fã do ex-líder venezuelano Hugo Chávez e do cubano Fidel Castro, há muito tempo assusta os mercados e os investidores sempre que se aproxima do poder.

Conhecido por seus discursos muitas vezes sem um teleprompter ou anotações, e usando sua marca registrada de humor e raiva, o líder de extrema-esquerda apoiado pelo comunismo costuma encantar multidões com os males dos “mercados extremos que transformam sofrimento, miséria e abandono em ouro e dinheiro”.

No passado, ele fez alusão à França como um país "com uma enorme riqueza que é mal distribuída".

Filho de um funcionário dos correios e de uma professora, ambos descendentes de espanhóis e italianos que emigraram para a Argélia Francesa na virada do século, Melenchon nasceu em Tânger, atual Marrocos, quando era uma zona internacional.

Ele se mudou para a França aos 11 anos de idade, estudou filosofia, teve vários empregos, inclusive como jornalista e revisor de textos, e se envolveu na política trotskista. Ele se filiou ao Partido Socialista em 1976, aos 25 anos, e foi eleito para vários cargos legislativos regionais, nacionais e europeus.

Melenchon foi vice-chefe da região de Essonne, ao sul de Paris, de 1998 a 2004, e ministro júnior do Ministério da Educação de 2000 a 2002. Ele rompeu com o Partido Socialista em 2008, dizendo que este estava se tornando muito favorável aos negócios. Em 2016, fundou a France Unbowed e, em 2022, concorreu à presidência – pela terceira vez.

E agora, Melenchon se tornou mais uma vez alguém a ser considerado para o cargo mais alto da França. Mesmo que a aliança da qual ele faz parte não tenha os votos para governar sozinha, é provável que exija novos compromissos de gastos de Macron para formar um novo governo.

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-- Atualização às 19h55 (horário de Brasília), com o avanço na apuração dos votos