Quem é e o que propõe Javier Milei, o candidato mais votado na Argentina

Líder do partido La Libertad Avanza se destacou nos últimos anos com suas propostas de dolarizar a economia e eliminar o banco central

Deputado nacional do partido La Libertad Avanza, economista e candidato à presidência da Argentina
14 de Agosto, 2023 | 11:53 AM

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Buenos Aires — Javier Milei surpreendeu na Argentina e tornou-se o candidato mais votado nas Eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) de domingo (13). A etapa serve para definir quem irá concorrer às eleições gerais de 22 de outubro.

O líder do partido La Libertad Avanza, um outsider da política até apenas dois anos atrás, soube incorporar o descontentamento de uma sociedade que enfrenta há anos uma crise econômica, com inflação de três dígitos e uma taxa de pobreza em torno de 40%.

O que até recentemente parecia uma utopia se concretizou neste domingo. Milei, com propostas radicais e uma retórica por vezes combativa, venceu em 16 dos 24 distritos do país e alimenta a esperança de revalidar seu sucesso nas eleições gerais de outubro: “Demos o primeiro passo para pôr fim à decadência argentina”.

Suas propostas, muitas vezes desqualificadas por representantes do governo e da coalizão Juntos por el Cambio, tocaram profundamente a sociedade.

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Especialmente a possibilidade de o país abandonar o peso e iniciar um processo de dolarização, a eliminação do Banco Central e sua promessa de erradicar uma “casta política” representada por dois partidos que não conseguiram interromper décadas de deterioração econômica e social.

Quem é Javier Milei

Javier Milei surgiu com força na Argentina nos últimos anos. Economista com passagem pelo banco HSBC, assessor de Eduardo Eurnekian na Corporación América, palestrante e defensor fervoroso do livre mercado, o líder do partido La Libertad Avanza representa “as ideias da liberdade”, como costuma enfatizar em cada aparição pública.

Em 2021, foi eleito deputado nacional e ganhou notoriedade por suas expressões sem filtro e suas críticas afiadas ao kirchnerismo e ao Juntos por el Cambio, as duas principais forças políticas dos últimos anos na Argentina. Sua decisão de sortear todos os meses o salário que recebia por seu trabalho como legislador também foi inovadora.

Sobre sua aparentemente excêntrica vida privada, Milei afirmou que cortou laços com seus pais, a quem se refere como seus progenitores, mas tem um vínculo estreito com sua irmã Karina, a quem chama de “A chefe” e a quem apresenta como potencial “primeira-dama”.

Em suas aparições públicas, ele também costuma se referir aos seus cinco cães como seus “filhos de quatro patas”.

Dolarização

Uma funcionária conta notas de dólar em uma casa de câmbio

O candidato presidencial pelo partido La Libertad Avanza afirmou ter uma plataforma eleitoral com não menos de 60 propostas de medidas econômicas. Dentre elas, destaca-se especialmente a de dolarização.

O economista argumenta que a sociedade argentina já rejeitou o peso e optou pela moeda americana, que se tornou um refúgio preferido no país diante da constante desvalorização da moeda local devido a uma inflação galopante que já há meses ultrapassa uma taxa anual superior a 100%.

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O pré-candidato propõe uma competição de moedas que permita aos cidadãos escolher livremente o sistema monetário.

A proposta não passou sem críticas. Economistas do governo e da oposição a rejeitaram em várias ocasiões, argumentando que implementá-la implicaria uma taxa de conversão muito alta, o que teria graves consequências sociais.

Além disso, as críticas se concentram nas dúvidas sobre de onde viriam os fundos para resgatar a base monetária e os passivos remunerados do país.

Eliminação do Banco Central

Outra das propostas mais marcantes de Milei é a eliminação do Banco Central e do controle cambial. O economista não poupou críticas à autoridade monetária do país devido à constante emissão monetária para financiar o déficit fiscal.

A proposta também envolve a eliminação dos controles cambiais que limitam o acesso a dólares no país. Diante da escassez de reservas, o governo argentino tem implementado ao longo dos anos um controle cambial cada vez mais rígido, visando conter a saída de divisas.

No entanto, economistas do setor privado frequentemente argumentam que o controle não apenas restringe a saída de dólares, mas também a entrada dos mesmos.

A Argentina está debatendo como sair do controle cambial.

Gasto público e tamanho do Estado

Conforme indicado no documento de 13 páginas intitulado “Bases de Ação Política e Plataforma Eleitoral Nacional”, Milei buscaria, caso chegue ao poder, uma eliminação progressiva dos programas sociais e do sistema de repartição de recursos federativos, bem como a redução dos gastos públicos e uma reforma tributária para diminuir os impostos.

Ele também visaria uma redução substancial do Estado e do número de Ministérios. Além disso, avançaria com privatizações e implementaria uma reforma trabalhista reduzindo as contribuições patronais e substituindo as indenizações por demissões sem justa causa por um sistema de seguro-desemprego.

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Tomás Carrió

Tomás Carrió, jornalista especializado em economia e finanças. Trabalhou para os jornais El Cronista e La Nación e é colunista de economia da Radio Milenium. Licenciado em Comunicação Social (Universidad Austral) e Mestre em Jornalismo (Universidade Torcuato Di Tella).