Bloomberg — Susie Wiles, a adulta “sem drama na sala” que conduziu o renascimento de Donald Trump em 2024, conseguiu discretamente seu próprio retorno ao se tornar a primeira mulher escolhida para ser chefe de gabinete da Casa Branca.
A agente republicana da Flórida, a quem Trump chamou de “o bebê de gelo” e disse que “gosta de ficar em segundo plano”, foi a primeira a conseguir um cargo premiado no novo governo, no momento em que hordas de pessoas leais ao partido disputam cargos no gabinete em Washington.
A mudança foi uma homenagem ao papel que a veterana da política desempenhou em meio às brigas internas do entorno de Trump - ela ajudou a trazer estabilidade, ordem e disciplina financeira a uma campanha cujas versões de 2016 e 2020 foram muito mais voláteis.
Foi uma clara unção do chefe, que concedeu crédito a ela pela operação relativamente tranquila que transformou uma eleição que se esperava acirrada em uma sólida vitória de Trump.
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“Susie Wiles era realmente a única escolha”, disse o co-head da campanha de Trump, Chris LaCivita. “Ela é uma grande gestora, uma grande líder com uma dose de humildade, com atenção aos detalhes e uma lealdade inabalável. Você não poderia encontrar ninguém melhor do que Susie Wiles.”
Como chefe de gabinete, espera-se que ela ajude a supervisionar a transição, a seleção de altos funcionários do gabinete de Trump nas próximas semanas e sua estratégia para atacar seus primeiros 100 dias no cargo com um Senado republicano e o provável controle da Câmara pelo partido.
Menos ideológica do que alguns dos outros assessores e aliados de Trump, é provável que ela permaneça como árbitra neutra em várias discussões sobre políticas e tem a confiança de seus principais assessores de campanha, doadores e - o mais importante - membros de sua família.
‘Imperturbável’
“Susie é imperturbável. Ela é muito firme e focada e, silenciosamente, consegue fazer o que precisa ser feito”, disse John McLaughlin, um conselheiro próximo de Trump que realiza pesquisas para o próximo presidente desde 2011. “Ela tem um relacionamento único com o presidente, pois ele confia nela. Ela o mantém focado no que é de seu interesse.”
Wiles, a filha de 67 anos do famoso locutor da NFL Pat Summerall - hereditariedade que Trump elogiou como “boa genética” -, está na política desde 1980, quando trabalhou na campanha presidencial de Ronald Reagan.
Essa linhagem e carreira lhe deram credibilidade com Trump, que confia nela como uma caixa de ressonância e ouve seus avisos quando suas reflexões podem ir longe demais.
Anteriormente assessora do governador da Flórida, Ron DeSantis, Wiles conta com uma densa rede política no estado que ajudou a impulsionar Trump para uma vitória com 13 pontos de vantagem sobre a vice-presidente Kamala Harris na disputa pelos 30 votos eleitorais do estado - uma margem ainda maior do que suas duas candidaturas anteriores à presidência.
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Sua estratégia no estado - que incluía apelar para negros e latinos para essencialmente construir uma nova coalizão de apoiadores para o Partido Republicano - foi replicada nacionalmente por meio de um grupo unido de agentes da Flórida, o que ajudou a impulsionar a vitória de Trump. Os republicanos esperam que Wiles leve alguns desses assessores próximos com ela para a Casa Branca.
Mulher da Flórida
Wiles não era nova no mundo de Trump quando assumiu o cargo, tendo dirigido sua operação na Flórida em ciclos eleitorais anteriores, bem como seu principal super PAC (comitê de ação política, que serve como veículo de arrecadação de recursos).
Ela foi uma das primeiras pessoas de dentro da política da Flórida a abraçar Trump em 2016, com apoio a ele em vez de Marco Rubio ou Jeb Bush e uma ajuda que tornou o estado vermelho - cor do Partido Republicano - novamente.
Em 2010, Wiles ajudou a conduzir o CEO da área de saúde com fins lucrativos Rick Scott ao cargo de governador do estado. Ela fez o mesmo em 2018 para DeSantis, na época um congressista de bancada que precisava de ajuda para mudar sua campanha derrotada.
Mais tarde, no entanto, DeSantis a demitiu depois que ele e sua esposa a culparam pelo vazamento de um memorando para a imprensa e, em seguida, tentou impedi-la de trabalhar em toda a Flórida.
DeSantis teria desencorajado Trump a contratá-la, mas o então presidente acabou trazendo-a para ajudar em sua campanha de 2020. Isso deixou Wiles bem posicionada quando Trump, exilado na Flórida após sua derrota para o presidente Joe Biden, começou a planejar seu retorno.
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Wiles se juntou ao que, após a pandemia de covid e a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021, parecia ser um esforço inferior: comprometeu-se a manter um orçamento apertado - o que Trump apreciou - enquanto inoculava a campanha dos elementos marginais do inflamado movimento MAGA (Make America Great Again).
Ela também se vingou de DeSantis ao ajudar Trump a elaborar uma estratégia para eliminá-lo como principal rival republicano para a indicação à disputa presidencial.
Sem espaço para drama
“Acompanhei Susie na guerra e também estive nas trincheiras do lado oposto de Susie nas batalhas primárias - prefiro muito mais estar do lado dela”, disse Slater Bayliss, lobista em Tallahassee e cofundador da Advocacy Partners, uma empresa de lobby com foco na Flórida.
“Como pai de filhas, estou entusiasmado por ela ter quebrado o ‘teto de vidro’ em uma das posições mais “boas e masculinas” da política.
Ao mesmo tempo, “qualquer pessoa que tenha trabalhado com ela sabe que Susie não tem drama”, disse Brian Ballard, um lobista da Flórida que ganhou destaque nacional durante o primeiro mandato de Trump e que contratou Wiles quando ela trabalhava como lobista.
“Acho que, finalmente, ele [Trump] encontrou uma chefe de equipe que se encaixa em todos os requisitos que ele procura - inteligente, experiente, discreta e que não se autopromove.”
Perto do final da campanha, ela se defendeu dos esforços do assessor sênior Corey Lewandowski para assumir as operações e os gastos da campanha, bem como dos esforços de diferentes facções do mundo Trump para minar o seu espaço e o de LaCivita.
É um estilo discreto e de fazer as coisas que os que a cercam esperam que ela leve para a Ala Oeste da Casa Branca em janeiro.
“Ela nunca dança sobre o túmulo de ninguém. Ela é a pessoa mais disciplinada na política”, disse Bayliss. “Em termos políticos, ela é uma ninja; em termos organizacionais, ela é um general; e, em termos de comunicação, ela é uma armadilha de aço.”
-- Com a colaboração de Hadriana Lowenkron, Stephanie Lai e Anna J Kaiser.
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