Queda do turismo estrangeiro nos EUA chega a 10% e pode gerar perdas de US$ 90 bi

Impacto econômico pode ser de 0,3% do PIB, diz Goldman Sachs, enquanto o aumento da hostilidade na fronteira, atritos geopolíticos e incerteza econômica levam visitantes em potencial a repensar planos de férias

Viajantes internacionais gastaram um recorde de US$ 254 bilhões nos EUA no ano passado
Por Augusta Saraiva
15 de Abril, 2025 | 04:08 PM

Bloomberg — A economia dos Estados Unidos deve perder bilhões de dólares em receita em 2025, devido à retração do turismo estrangeiro e aos boicotes a produtos americanos. Tudo isso se soma a uma lista crescente de obstáculos que mantêm elevado o risco de recessão.

As chegadas de não-cidadãos aos EUA por via aérea caíram quase 10% em março em relação ao ano anterior, de acordo com dados publicados na segunda-feira (14) pela Administração de Comércio Internacional. O Goldman Sachs estima que, no pior cenário, o impacto da redução nas viagens e dos boicotes neste ano pode chegar a 0,3% do produto interno bruto, o que equivaleria a quase US$ 90 bilhões.

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O turismo estrangeiro tem sido um fator favorável para os EUA nos últimos anos, à medida que a cessação das restrições da era pandêmica desencadeou um ressurgimento das viagens internacionais. No entanto, muitos visitantes em potencial estão repensando seus planos de férias em meio ao aumento da hostilidade na fronteira, dos atritos geopolíticos e à incerteza econômica global.

Um deles é Curtis Allen, um cinegrafista canadense que cancelou suas próximas férias nos EUA depois que o presidente americano Donald Trump impôs tarifas punitivas ao seu país de origem e sugeriu que este se tornasse o 51º estado americano. Allen e sua parceira já fizeram várias viagens de acampamento ao Oregon ao longo dos anos, mas este ano, eles viajarão pela Colúmbia Britânica, no Canadá.

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“Não vamos ficar em casa”, disse Allen, 34. “Vamos gastar o mesmo dinheiro em outro lugar.” A hesitação de Allen não para por aí. Ele cancelou sua assinatura da Netflix e está evitando ativamente produtos americanos importados no supermercado. “Agora, levamos o dobro do tempo, porque estamos analisando de onde os produtos vêm”, acrescentou ele.

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Viajantes internacionais gastaram um recorde de US$ 254 bilhões nos EUA no ano passado, de acordo com dados do ITA. Ao entrarmos em 2025, a perspectiva era positiva: o ITA projetou no início de março que os EUA receberiam 77 milhões de visitantes este ano, pouco abaixo do recorde de 2019, antes de atingir uma nova máxima em 2026.

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Entretanto, essas estimativas foram divulgadas pouco antes das notícias sobre detenções severas em aeroportos americanos, com prisões de turistas de países como a França e a Alemanha, começarem a virar manchetes. Os canadenses, enquanto isso – o maior grupo de turistas estrangeiros nos EUA – estão optando por não viajar ao país, enquanto Trump intensifica os ataques à economia e à soberania da nação vizinha.

Quase US$ 20 bilhões em gastos de turistas internacionais no varejo nos EUA podem estar em risco, de acordo com uma análise da Bloomberg Intelligence.

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Os primeiros sinais de uma forte retração já estão aparecendo. Passagens aéreas, diárias de hotéis e preços de aluguel de carros caíram em março, de acordo com um relatório mensal do Bureau de Estatísticas do Trabalho sobre preços ao consumidor, publicado em 10 de abril. Economistas do Goldman Sachs e do HSBC disseram que a menor demanda, inclusive de viajantes estrangeiros, provavelmente contribuiu para isso.

Omair Sharif, presidente da Inflation Insights, observou que o recuo nas tarifas de hotéis foi impulsionado por uma queda de quase 11% no Nordeste dos EUA em particular, possivelmente resultado da menor quantidade de canadenses viajando para lá. “Considerando o que sabemos sobre o quanto as viagens canadenses diminuíram, isso é potencialmente um pouco preocupante para a região”, disse Sharif.

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