Bloomberg — As autoridades do Federal Reserve cortaram a taxa de juros básica pela terceira vez consecutiva nesta quarta-feira (18), mas reduziram o número de cortes que esperam fazer em 2025, com a sinalização de maior cautela quanto à rapidez com que podem continuar a reduzir os custos dos empréstimos.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) decidiu por 11 votos a favor e 1 contrário para reduzir a taxa dos fundos federais para uma faixa de 4,25% a 4,5%. A presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, votou contra esse movimento e defendeu manter as taxas estáveis.
“Com a ação de hoje, reduzimos nossa taxa de política monetária em um ponto percentual em relação ao seu pico e nossa postura de política monetária agora é significativamente menos restritiva”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, na entrevista coletiva de imprensa após a decisão do Fed.
“Portanto, podemos ser mais cautelosos ao considerar novos ajustes em nossa taxa de juros.”
Powell acrescentou que as taxas de juros ainda restringem de forma “significativa” a atividade econômica, e que o Fed está “no caminho certo para continuar a cortar”. Mas, segundo ele, as autoridades teriam que ver mais progresso na inflação antes de fazer cortes adicionais nas taxas.
Leia mais: Fed reduz juros em 0,25 ponto e prevê só mais dois cortes do mesmo tamanho em 2025
As novas previsões trimestrais - como parte do chamado dot plot, ou gráfico de pontos - mostraram que várias autoridades previram menos cortes nas taxas de juros para o próximo ano do que haviam estimado há apenas alguns meses, e viram a inflação progredir consideravelmente menos em 2025.
Eles agora veem sua taxa referencial em uma faixa de 3,75% a 4% até o fim de 2025, o que implica em dois cortes de um quarto de ponto percentual, de acordo com a estimativa mediana.
Apenas cinco autoridades indicaram uma preferência por mais reduções no próximo ano.
A maioria dos economistas em uma pesquisa da Bloomberg News esperava que a estimativa mediana da taxa apontasse para três cortes no próximo ano.
O índice S&P 500 ampliou as perdas após o anúncio, enquanto os rendimentos do Tesouro dos EUA e o Bloomberg Dollar Index subiram.
O rendimento da nota de dois anos, mais sensível do que os vencimentos mais longos às mudanças de política do Fed, liderou o movimento dos títulos do Tesouro, subindo até oito pontos-base, para 4,33%, o nível mais alto desde 25 de novembro.
Powell também respondeu a uma pergunta sobre como o banco central pode responder a possíveis tarifas comerciais do governo Trump a produtos importados.
O presidente do Fed disse que alguns diretores começaram a incorporar o impacto potencial das tarifas mais altas que o presidente eleito Donald Trump prometeu implementar. Mas ele disse que o impacto de tais propostas de política era, até o momento, altamente incerto.
"Simplesmente não sabemos, de fato, muito sobre as políticas reais", disse ele. "Portanto, é muito prematuro tentar chegar a qualquer tipo de conclusão."
Leia mais: Como a escalada do câmbio e dos juros expõe empresas com dívida em dólar
Inflação instável
Os formuladores de política monetária já reduziram a taxa referencial de empréstimos em um ponto percentual completo desde meados de setembro, quando iniciaram os cortes com um movimento agressivo de meio ponto.
Naquela época, eles se mostravam animados com a queda da inflação e preocupados com a perspectiva de o mercado de trabalho se aproximar de um ponto de inflexão perigoso.
Desde então, o cenário mudou. O mercado de trabalho tem se mostrado resiliente, com os dados de criação de empregos na folhas de pagamento - o payroll - em expansão média de 173 mil novas vagas nos últimos três meses. A taxa de desemprego subiu para 4,2% em novembro, mas continua baixa pelos padrões históricos.
Powell disse no início deste mês que os riscos negativos para o mercado de trabalho parecem ter diminuído.
Os diretores do Fed agora veem a taxa de desemprego em 4,3% em 2025, segundo projeções atualizadas. Eles também aumentaram ligeiramente sua previsão de crescimento econômico em 2025 para 2,1%.
Enquanto isso, os dados recentes sobre preços levantaram preocupações de que a inflação possa estar em processo de estabilização acima da meta de 2% do Fed, o que levou várias autoridades do banco central a dizer que prefeririam diminuir o ritmo dos cortes.
Alguns fizeram isso ao mesmo tempo em que expressaram confiança de que a inflação continuará a cair, apontando para fatores como uma desaceleração prevista nos custos de moradia.
Outros, como a diretora Michelle Bowman, enfatizaram o ponto de que a inflação continua desconfortavelmente acima da meta do Fed.
A mediana das projeções para a inflação medida pelo PCE no final do próximo ano saltou de 2,1% em setembro para 2,5% na reunião desta quarta-feira.
Taxa neutra mais alta
As autoridades aumentaram novamente sua estimativa mediana para o patamar em que a taxa de juros de longo prazo se estabilizará, de 2,9% para 3%.
E disseram que há uma incerteza substancial sobre a chamada taxa neutra, que não promove nem inibe a atividade econômica, como efeito de mudanças estruturais após a pandemia de covid.
Alguns sugeriram que a taxa neutra subiu, o que significa que as autoridades podem alcançá-la com menos cortes do que o previsto anteriormente.
As políticas propostas por Trump sobre comércio, imigração e tributação acrescentam outro elemento de incerteza às perspectivas de inflação. A depender de como forem estruturadas, elas poderão pressionar a inflação para cima e restringir o mercado de trabalho, de acordo com algumas estimativas.
Leia mais: Perda de confiança no governo se aprofunda e afugenta investidores de ativos do país
Powell disse que o Fed tem buscado aplicar modelos e avaliar as propostas de Trump, mas ainda não as incorporou às decisões porque não está claro qual será a forma específica das políticas.
O Fed também anunciou que vai reduzir em 30 pontos base a taxa que paga aos credores que usam seu mecanismo de recompra reversa overnight. Isso efetivamente reduz a taxa RRP em cinco pontos base em relação à faixa da meta de fundos do Fed, alinhando-a com o limite inferior.
A linha de crédito foi projetada para ajudar a colocar um piso na meta do Fed para a taxa de fundos federais, absorvendo dinheiro de fora do sistema bancário. A medida pode ter o objetivo de evitar o aperto nas taxas do mercado monetário. Ela também pode oferecer espaço extra para que o Fed reduza ainda mais seu balanço patrimonial, levando mais dinheiro para as reservas bancárias.
-- Com a colaboração de Alex Harris, Chris Middleton, Liz Capo McCormick, Matthew Boesler, Robert Jameson, Vince Golle e Laura Curtis.
Veja mais em bloomberg.com
©2024 Bloomberg L.P.