Powell diz que o Fed não precisa ter pressa para reduzir as taxas de juros

Em entrevista depois da reunião que pausou o ciclo de queda das taxas, o presidente do banco central disse que vai acompanhar com atenção as novas políticas econômicas de Trump

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve
Por Catarina Saraiva
29 de Janeiro, 2025 | 05:39 PM

Bloomberg — O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que as autoridades não estão com pressa para reduzir as taxas de juros e acrescentou que o banco central decidiu fazer uma pausa para ver mais progressos na inflação após uma série de reduções das taxas no fim do ano passado.

“Com nossa postura política significativamente menos restritiva do que vinha sendo e a economia permanecendo forte, não precisamos ter pressa para ajustar nossa postura política”, disse Powell em entrevista coletiva a jornalistas na tarde desta quarta-feira (29).

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O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) votou por unanimidade para manter a taxa de fundos federais em uma faixa de 4,25% a 4,5%, depois de reduzir as taxas em um ponto percentual completo - ao longo de três reuniôes - nos últimos meses de 2024.

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O forte crescimento econômico americano, aliado a um mercado de trabalho sólido, permite que as autoridades esperem por mais evidências de arrefecimento da inflação antes de ajustar as taxas novamente.

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Isso também lhes dá tempo para avaliar como as novas políticas do presidente Donald Trump sobre imigração, tarifas comerciais e impostos podem afetar a economia.

"O comitê está muito interessado em esperar para ver quais políticas serão adotadas", disse Powell. "Precisamos deixar que essas políticas sejam articuladas antes mesmo de começarmos a fazer uma avaliação plausível de quais serão suas implicações para a economia."

A última decisão do Fed foi tomada pouco mais de uma semana após a posse de Trump - um crítico frequente do banco central que já sugeriu que entende as taxas de juros melhor do que Powell. O chefe do Fed disse aos jornalistas que não havia entrado em contato com o presidente e se recusou a comentar as declarações recentes que Trump fez sobre as taxas.

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Em uma declaração após a reunião, as autoridades repetiram que a inflação permanece “um pouco elevada”, mas removeram a referência ao progresso em direção à meta de 2% - uma mudança que, segundo Powell, não tinha a intenção de enviar um sinal. Os formuladores de política monetária do Fed também observaram que a taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo.

As autoridades também reiteraram que os riscos para suas metas de inflação e emprego estão "mais ou menos equilibrados" e que a "extensão e o momento" de ajustes adicionais nas taxas dependerão dos dados recebidos e das perspectivas.

Mercado de trabalho

A caracterização do Fed sobre o mercado de trabalho também diferiu da declaração de política do mês anterior, que observou uma flexibilização nas condições do mercado de trabalho e um aumento na taxa de desemprego.

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"A taxa de desemprego se estabilizou em um nível baixo nos últimos meses, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas", de acordo com a última declaração.

As autoridades do Fed querem manter uma certa pressão de baixa sobre a economia para garantir que a inflação arrefeça até sua meta de 2%, mas uma questão fundamental para os formuladores no momento é saber o quanto as taxas de juros estão atualmente restringindo a atividade.

No mês passado, as autoridades do Fed sinalizaram que esperam apenas dois cortes nas taxas de juros para todo o ano de 2025, um caminho de reduções mais leve do que o previsto anteriormente.

Os formuladores de política monetária atualizarão suas projeções sobre a economia e as taxas de juros - por meio do chamado dot plot ou gráfico de pontos - em sua próxima reunião, em março.

Perspectiva da inflação

A pausa deste mês nos cortes das taxas ocorre em meio à crescente incerteza sobre como a inflação evoluirá.

Embora o progresso em direção à meta de inflação do banco central tenha estagnado nos últimos meses de 2024, o novo ano trouxe sinais de que a tendência de queda pode ser retomada em breve.

Dados publicados no início deste mês mostraram que uma medida subjacente dos preços ao consumidor aumentou menos do que o esperado em dezembro, no que marcou a primeira queda em seis meses.

Esses e outros dados levaram os economistas a estimar que os números divulgados na próxima sexta-feira mostrarão que o núcleo do índice de preços de despesas de consumo pessoal - o PCE -, que exclui alimentos e energia, aumentou apenas 0,2% no mês passado.

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Ao mesmo tempo, as ameaças de tarifas de Trump injetam incerteza nas perspectivas, com alguns economistas alertando que elas serão inflacionárias, e outros - incluindo o diretor do Fed Christopher Waller - argumentando que o impacto sobre a inflação será, em geral, pequeno e de curta duração.

Em dezembro, Powell disse que algumas autoridades do Fed haviam começado a incorporar possíveis políticas governamentais em suas projeções econômicas.

A ata dessa reunião mostrou que “quase todos” os participantes observaram que os riscos de alta para as perspectivas de inflação haviam aumentado, em parte devido a possíveis mudanças nas políticas de comércio e imigração sob o governo Trump.

Quatro presidentes de bancos regionais do Fed passaram a ocupar posições de voto no comitê de fixação de taxas do banco central na reunião desta semana.

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, a chefe do Fed de Boston, Susan Collins, Alberto Musalem, do Fed de St. Louis, e o presidente do Fed de Kansas City, Jeff Schmid, votarão nas reuniões de política monetária do FOMC em 2025, ao lado de seus sete colegas da assembleia de governors (diretores) e do presidente do Fed de Nova York, John Williams.

O Fed manteve o limite mensal do montante de títulos do Tesouro que ele permite que vençam a cada mês sem serem reinvestidos em US$ 25 bilhões, enquanto manteve inalterado o limite para títulos lastreados em hipotecas em US$ 35 bilhões.

- Com a colaboração de Chris Middleton, Matthew Boesler, Cécile Daurat e Jonnelle Marte.

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