Por que o Chile tem a nota de crédito mais alta em LatAm, segundo a S&P

Agência de classificação de risco elevou o país para perspectiva estável e manteve a nota em A, seis níveis acima da marca do Brasil

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Bloomberg — A S&P Global Ratings manteve sua classificação do Chile como a mais alta da América Latina e elevou sua perspectiva para estável, citando o compromisso do governo de interromper um aumento de vários anos no ônus da dívida.

A classificação em moeda estrangeira do Chile foi mantida em A, dois níveis acima de seu par regional mais próximo, o Uruguai. A decisão deixa o país no mesmo nível de Israel, Letônia e Lituânia.

O Brasil é classificado em BB pela S&P, seis níveis abaixo do Chile e dois abaixo do grau de investimento.

Já a Fitch classifica o Chile um nível abaixo, em A-, enquanto a Moody’s está no mesmo nível da S&P, em A2.

“Apesar dos anos recentes de elevada polarização política, o Chile se beneficia de âncoras em sua política fiscal e monetária que ajudaram a estabilizar o desempenho econômico”, disse a empresa de classificação. “Acreditamos que o compromisso do governo com a consolidação fiscal estabilizará seus índices de dívida nos próximos anos.”

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A S&P havia cortado a classificação do Chile duas vezes desde 2017 devido ao aumento da pressão sobre os gastos fiscais e o aumento dos níveis de endividamento. Mas o pior pode ter passado agora.

Os CDS (credit default swaps) de cinco anos do Chile, um indicador importante do risco do país, estão próximos de seus níveis pré-pandemia e caíram abaixo de seus pares regionais, como Panamá e Peru, depois de estarem quase iguais há apenas um ano e meio.

O governo do presidente chileno Gabriel Boric manteve um controle rígido sobre os gastos e definiu sua previsão de déficit fiscal para 2024 em 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em outubro, em comparação com o déficit de 2,4% do ano passado.

Fatores de risco

Ainda assim, o Chile está muito longe de recuperar sua antiga posição como o símbolo das reformas de livre mercado e da prudência fiscal na América Latina.

Muitos consideram a previsão orçamentária do próximo ano otimista. O déficit totalizou 2,2% do PIB nos primeiros oito meses do ano, de acordo com o Itaú, e o déficit geralmente aumenta durante o último trimestre do ano, sugerindo um valor ainda maior no final do ano.

“A decisão da S&P de estabilizar a perspectiva reconhece o progresso na consolidação fiscal e as melhorias na estrutura institucional fiscal”, disse Andrés Perez, economista-chefe para a América Latina do Itaú, após o anúncio.

“Ainda assim, olhando para o futuro, deter o aumento constante da dívida pública exigirá uma contenção significativa dos gastos e um crescimento maior no curto prazo. É provável que o progresso nas tão necessárias reformas estruturais continue a ser prejudicado pela crescente fragmentação e polarização política.”

O governo permitiu que o fundo soberano caísse pela metade desde o final de 2022, incluindo uma retirada de US$ 1 bilhão no início deste mês.

Em um prazo mais longo, o crescimento do Chile se “latino-americanizou” na última década, desacelerando para os níveis de seus pares regionais, disse Sebastian Briozzo, chefe de soberanos da América Latina na S&P, no mês passado.

No limite

A S&P alertou que “o alto endividamento externo e as necessidades de financiamento externo” poderiam pressionar os ratings do Chile em uma declaração que acompanha a decisão.

Muitos estrategistas esperavam um rebaixamento em algum momento deste ano, de acordo com uma pesquisa da Bloomberg realizada em dezembro.

O Chile prevê que sua dívida bruta atingirá 41,3% do PIB no final do ano, mais do que dobrando na última década.

A decisão da S&P ocorre em um momento em que as principais reformas políticas, como o projeto de lei da previdência, são discutidas no Congresso, com resistência da oposição. A Câmara dos Deputados rejeitou inesperadamente a principal reforma tributária do governo em março do ano passado.

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A S&P advertiu que as disputas políticas poderiam atrasar a agenda legislativa e alertou sobre os desafios para a aprovação da tão esperada reforma da Previdência, bem como de outras leis para aumentar o investimento.

“Apesar das mudanças na liderança política e nos partidos nos últimos anos, acreditamos que há um consenso político sobre grande parte do modelo econômico do país, incluindo seus déficits, mas há diferenças sobre como resolvê-los”, escreveu a S&P.

“Encontrar um meio-termo entre as linhas partidárias ajudaria a promover reformas estruturais que impulsionem o crescimento, reconstruam a resiliência e melhorem os padrões de vida.”

E o crescimento econômico dá sinais de fraqueza. O PIB encolheu 0,6% no segundo trimestre em relação aos três meses anteriores, embora haja alguma evidência de que tenha se recuperado no terceiro trimestre. A S&P disse que espera um crescimento médio do PIB de 2,4% em 2024-2027.

“O lado positivo para o Chile pode vir de fatores externos e internos, como é o caso da recuperação dos preços do cobre devido à demanda externa e à continuação da recuperação da produção de cobre”, disse William Snead, estrategista do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) em Nova York, antes do anúncio.

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-- Com informações da Bloomberg Línea sobre a nota do Brasil.

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